HOJE NO
"PÚBLICO"
NSA contorna quase toda a privacidade online na "era dourada da espionagem"
Novos documentos obtidos por Edward Snowden e revelados nesta
sexta-feira mostram que nem as ferramentas consideradas mais seguras
estão a salvo da espionagem das principais agências de segurança.
Os serviços de espionagem norte-americanos e britânicos conseguem
descodificar dados que passam por muitas das ferramentas de segurança
usadas na Internet por entidades bancárias, lojas de comércio
electrónico ou registos de informação médica, por exemplo, o que pode
tornar a vida online mais vulnerável a ataques de outras organizações.
Para além das actividades
de vigilância e armazenamento de dados noticiadas nos últimos três
meses, a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla original)
norte-americana e a sua congénere britânica, a GCHQ (Government
Communications Headquarters), gastam centenas de milhões de dólares por
ano para desenvolver programas e aliciar ou forçar empresas a colaborar
com os seus esforços de descodificação de todas as comunicações através
da Internet e por telefone, noticiam nesta sexta-feira os jornais The Guardian e The New York Times e a empresa jornalística sem fins lucrativos ProPublica, a partir de documentos obtidos pelo antigo analista informático Edward Snowden.
Alguns
especialistas falam numa autêntica guerra contra a privacidade online,
que tem implicações ainda mais graves do que a espionagem permanente de
milhões de cidadãos.
"O risco de se abrir portas dos fundos nos
sistemas é que quem o faz não é o único a poder explorá-las. Essas
portas dos fundos podem também funcionar contra as comunicações dos
Estados Unidos", disse ao The New York Times Matthew D. Green, investigador em criptografia na Universidade Johns Hopkins.
O
especialista referia-se à criação propositada de vulnerabilidades nos
sistemas de segurança, que permitem o acesso aos dados que milhões de
pessoas trocam e guardam todos os dias na Internet, no momento em que
fazem um pagamento online ou quando partilham uma fotografia no
Facebook.
Os utilizadores de sites de entidades bancárias, por
exemplo, confiam nestes sistemas de segurança para realizarem consultas e
transacções, mas o que os documentos obtidos por Edward Snowden mostram
é que já pouco escapa às capacidades de descodificação das maiores
agências de serviços secretos.
Algumas ferramentas de codificação
usadas na Internet eram consideradas suficientemente seguras para
estarem fora do alcance mesmo da NSA, mas estas novas informações
revelam que protocolos como o Secure Socket Layer (SSL), as redes
virtuais privadas (VPN) ou as transmissões de dados através da
tecnologia 4G (disponível nos smartphones de última geração) são tudo menos seguros.
É
a concretização de um objectivo falhado na década de 1990, quando a NSA
tentou garantir que todas as ferramentas de codificação pudessem ser
acedidas pelas agências do Governo norte-americano, através do chip Clipper.
Na altura, a NSA perdeu a batalha, mas ao longo dos últimos anos tem
conseguido vencer a guerra através do desenvolvimento de
supercomputadores e da conivência das próprias empresas, de acordo com
os documentos revelados nesta sexta-feira.
"Eles acabaram por alcançar o seu objectivo, sem dizer nada a ninguém", disse ao The New York Times Paul Kocher, um dos analistas que ajudou a desenvolver o protocolo SSL.
"Os
serviços secretos têm-se preocupado com a possibilidade de ficarem às
escuras para sempre [devido às novas ferramentas de segurança], mas hoje
em dia levam a cabo uma invasão total de privacidade, quase sem esforço
nenhum. Estamos na era dourada da espionagem", afirma o especialista.
Os
documentos obtidos por Edward Snowden revelam também que a NSA gasta
“mais de 250 milhões de dólares por ano” no Sigint Enabling Project, que
consiste no "aliciamento activo de empresas de tecnologias da
informação para influenciarem secretamente e/ou abertamente o desenho
dos seus produtos comerciais", com o objectivo de torná-los
"vulneráveis" – por outras palavras, fazer com que a tecnologia que
torna a troca de dados na Internet mais segura tenha precisamente o
efeito contrário.
* São os mentores do ódio, um nojo.
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