O injustamento português
O ajustamento português é um injustamento, uma vez que gerou muito menos ajustes do que injustiças
A recente sanha contra os comentadores
políticos é injustificada. Portugal não tem comentadores políticos a
mais, tem comentadores políticos a menos.
Eu, pelo menos, anseio pelo programa de comentário político de Pedro Passos Coelho. Não prometo que assistisse, mas nem por isso deixo de ansiar. Além das vantagens políticas evidentes, o programa traria outros benefícios ao espectador, na medida em que Passos Coelho tem um conhecimento íntimo da realidade política do País.
Nos últimos anos, tem-se verificado uma progressiva passoscoelhização da sociedade portuguesa, sem que a sociologia tenha registado o fenómeno. No entanto, há que actualizar o pensamento de Protágoras: actualmente, Passos Coelho é a medida de todas as coisas.
Hoje, quase toda a gente é Passos Coelho na vida política: homens dedicados sobretudo à conjura intrapartidária, primeiro nas jotas e depois nos seniores, aos quais a intrigalhada política exige que adiem a licenciatura até ao momento em que necessitam da licenciatura para ir mais longe na intrigalhada política. Sócrates é um Passos Coelho colérico.
António José Seguro é um Passos Coelho amorfo. Miguel Relvas é um Passos Coelho-adjunto. E Passos Coelho não passa, infelizmente, de um Passos Coelho.
Um dos sintomas da passoscoelhização da política é a descontracção com que se olha para o desemprego. O Passos Coelho típico não tem, antes de chegar ao poder, mais do que um ou dois empregos relativamente fictícios, e por isso consegue pensar no emprego dos outros como se também fosse uma fantasia. E quem fica sem uma fantasia, na verdade, não perde grande coisa. Igualmente fantasiosas, para o passoscoelhismo, são as reformas, dado que quem nunca trabalhou não sabe o que significa descontar durante a vida inteira, e é por isso que hoje se diz aos reformados que as reformas não existem com a mesma indiferença e até com a superioridade de quem informa uma criança de que o pai natal não existe.
No fundo, o passoscoelhismo trata como fantasiosa a realidade e a realidade como fantasia, como demonstra a circunstância de qualquer Passos Coelho acreditar no chamado ajustamento. De facto, o ajustamento português é um injustamento, uma vez que gerou muito menos ajustes do que injustiças. O único verdadeiro ajustamento, e esse tem sido contínuo, é o do orçamento, que vai sendo ajustado às previsões cada vez mais pessimistas de toda e qualquer instituição que perceba alguma coisa de economia.
Eu, pelo menos, anseio pelo programa de comentário político de Pedro Passos Coelho. Não prometo que assistisse, mas nem por isso deixo de ansiar. Além das vantagens políticas evidentes, o programa traria outros benefícios ao espectador, na medida em que Passos Coelho tem um conhecimento íntimo da realidade política do País.
Nos últimos anos, tem-se verificado uma progressiva passoscoelhização da sociedade portuguesa, sem que a sociologia tenha registado o fenómeno. No entanto, há que actualizar o pensamento de Protágoras: actualmente, Passos Coelho é a medida de todas as coisas.
Hoje, quase toda a gente é Passos Coelho na vida política: homens dedicados sobretudo à conjura intrapartidária, primeiro nas jotas e depois nos seniores, aos quais a intrigalhada política exige que adiem a licenciatura até ao momento em que necessitam da licenciatura para ir mais longe na intrigalhada política. Sócrates é um Passos Coelho colérico.
António José Seguro é um Passos Coelho amorfo. Miguel Relvas é um Passos Coelho-adjunto. E Passos Coelho não passa, infelizmente, de um Passos Coelho.
Um dos sintomas da passoscoelhização da política é a descontracção com que se olha para o desemprego. O Passos Coelho típico não tem, antes de chegar ao poder, mais do que um ou dois empregos relativamente fictícios, e por isso consegue pensar no emprego dos outros como se também fosse uma fantasia. E quem fica sem uma fantasia, na verdade, não perde grande coisa. Igualmente fantasiosas, para o passoscoelhismo, são as reformas, dado que quem nunca trabalhou não sabe o que significa descontar durante a vida inteira, e é por isso que hoje se diz aos reformados que as reformas não existem com a mesma indiferença e até com a superioridade de quem informa uma criança de que o pai natal não existe.
No fundo, o passoscoelhismo trata como fantasiosa a realidade e a realidade como fantasia, como demonstra a circunstância de qualquer Passos Coelho acreditar no chamado ajustamento. De facto, o ajustamento português é um injustamento, uma vez que gerou muito menos ajustes do que injustiças. O único verdadeiro ajustamento, e esse tem sido contínuo, é o do orçamento, que vai sendo ajustado às previsões cada vez mais pessimistas de toda e qualquer instituição que perceba alguma coisa de economia.
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