HOJE NO
"PÚBLICO"
ERC contra restrições impostas aos jornalistas em conferência do PSD
Regulador diz que quando se convidam jornalistas não se lhes pode
impor “limitações injustificáveis ao exercício da sua actividade”.
A ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social deu razão ao
Sindicato dos Jornalistas, que se queixou de violação do direito à
informação dos jornalistas na conferência sobre a reforma do Estado
organizada por Sofia Galvão, a pedido do primeiro-ministro, e que impôs
restrições de divulgação do conteúdo do evento.
Na deliberação, o regulador
considera que “a partir do momento em que se convida jornalistas para,
nesta qualidade, assistirem um determinado evento com interesse público,
não se lhes pode determinar limitações injustificáveis ao exercício da
sua actividade”.
A conferência “2013 Pensar o Futuro – Um Estado
para a Sociedade”, realizada em Janeiro deste ano, foi organizada pela
ex-dirigente do PSD Sofia Galvão, a pedido do primeiro-ministro, com o
intuito de ouvir a sociedade civil sobre a temática da reforma do
Estado. Na abertura, a organizadora anunciou: "Não haverá registos de
imagem e som [durante os painéis]. A permanência dos jornalistas na sala
é permitida. Não haverá [reprodução de] nada do que seja dito sem a
expressa autorização dos citados." Só a abertura e o encerramento, com o
primeiro-ministro, eram abertas à comunicação social. Boa parte dos
jornalistas abandonou então a sala, incluindo o PÚBLICO, e seguiu-se uma
polémica sobre o tipo de cobertura jornalística que se pode fazer
destes eventos. O Sindicato dos Jornalistas queixou-se à ERC.
O
sindicato alegou junto da ERC que as restrições impostas eram “absurdas
em democracia e completamente ilegítimas num Estado de direito
democrático” e eram mesmo “susceptíveis de constituir um atentado à
liberdade de informação e ao próprio acesso à informação. Ao considerar
admissíveis aquelas limitações impostas pela organizadora estava-se
também a ignorar as “garantias consagradas na Constituição da República
relativas ao direito à informação”, assim como “valores e princípios
estruturantes da democracia”.
Para a ERC, a organização da
conferência “partiu de um pressuposto questionável ao considerar
legítima a possibilidade de impedir os jornalistas de recorrerem aos
meios técnicos essenciais ao desenvolvimento da sua actividade e que
permitem a recolha de som e de imagem”. Mais: “A colocação de entraves à
forma como os jornalistas e órgãos de comunicação social procuram e
captam informação deve ser justificada, necessária e proporcional. No
caso em análise, não é certo que os motivos invocados por Sofia Galvão
na sua resposta à ERC possam justificar a limitação que ocorreu ao
direito à informação”.
A ERC lembra que a organização poderia ter
considerado aquele evento privado e então estabelecer as regras de
acesso. Mas foi a própria Sofia Galvão quem, em resposta ao regulador,
considerou tratar-se de um evento público.
Na deliberação,
aprovada por dois votos contra e três a favor, o regulador também deixa
um apelo “a todas as entidades para a importância do direito de acesso
dos jornalistas aos locais abertos ao público, enquanto manifestação da
liberdade de imprensa”.
Os votos contra foram do presidente Carlos
Magno e da vogal Raquel Alexandra, que fez declaração de voto. Nela
justifica o seu voto argumentando considerar que “o direito
constitucional à informação não foi posto em causa” porque foi permitido
aos jornalistas a “gravação de som e imagem nas sessões em que
intervieram membros do Governo, sem qualquer limitação às transmissões
directas”, e por haver um ponto de imprensa que permitia que os
intervenientes na conferência prestassem declarações à comunicação
social.
* Já estamos habituados aos valores tendenciosamente democráticos de Carlos Magno e Raquel Alexandra. Queremos saber se o PSD vai ser penalizado ou se fica tudo na mesma.
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