Portugueses celebremos!
Portugueses celebremos, o dia da Redenção. Em que valentes guerreiros, Nos deram livre a Nação] .
Era
assim que começava o Hino da Restauração, caso sério de popularidade no
final do século XIX e mais tarde adotado com fervor pela Mocidade
Portuguesa.O dia da Redenção já não é o 1.0º de Dezembro e bem. Por
mais importante que seja a recuperação da independência nacional faz
muito mais sentido celebrá-la no plano do que nos une. Insistir nas
costas voltadas e no rancor histórico a Espanha é, mais do que errado,
já vazio de qualquer sentido.
O Dia de Portugal também renasceu pela extinção deste celebrar "pela negativa" .
Mas
só pode ter um lema, só deve adotar um verso, o do semi-heterónimo
Pessoano, Bernardo Soares" : "A minha Pátria é a Língua Portuguesa!"
Tudo seria mais simples. Tudo faria mais sentido.
Alguns
de nós ficam impacientes. A maioria ignora. Todos seguramente
percebemos que a forma como tradicionalmente se celebra o 10 de Junho
serve essencialmente para "plantar" os recados dos discursantes no chão
mediático que os fará crescer e multiplicar. E que para além disso
teremos sempre direito a uma escolha temática mais ou menos produtiva,
mais ou menos induzida pelo local onde se desenrolam as celebrações.
Pouco interessante, nada mobilizador.
E no entanto, sob o motto Pessoano tudo seria ano após ano mais claro, mais afetivo, mais contagiante.
Se
no estribássemos na nossa Língua, a cada 10 de Junho conheceríamos
melhor os países que a escolheram como Língua Oficial. Angola,
Moçambique, Timor, Cabo Verde, Guiné , Brasil. Um de cada vez, todos sob
um certo olhar. O das empresas, dos jovens, dos recursos, dos poetas,
dos pintores, dos arquitetos ou dos médicos. Do mar que nos une e das
universidades que podíamos ligar, da história coletiva que não
conhecemos, das novas geografias relacionais que cada um tem vindo a
construir, dos momentos de desenvolvimento em que nos encontramos, dos
sucessos que não conhecemos e dos problemas que poderíamos partilhar
melhor. Em Português.
Se nos estribássemos na nossa Língua, a cada
10 de Junho conheceríamos melhor os países que os portugueses
escolheram para emigrar. Suíça, França, Estados Unidos, Luxemburgo,
Alemanha. Entre outros. Um de cada vez. Todos sob um certo olhar. Como
se organizam as comunidades, que grau de integração conseguem, como
falam de Portugal, como aprendem ou ensinam o Português.
Se nos
estribássemos na nossa Língua, a cada 10 de Junho conheceríamos melhor
os nossos poetas, os nossos pintores, os nossos músicos, os nossos
artistas. Que aprenderam em Português, escrevem, pintam, compõem e
sonham em Português.
Vejam quantos 10 de Junho não tínhamos nós já
para celebrar. Quantos temas e que ligação. Afetiva, humana, orgânica
como a Língua que vive, interage e respira com e como todos os que a
falam.
E não se afligissem os que se sentem pecar quando escapam
da intervenção que analisa as forças e fraquezas, as ameaças ou as
oportunidades por setor e com certeza estatística.
Falar da Língua
Portuguesa é também falar de negócios e de números. Um estudo realizado
pelo ISCTE revela que 17% do PIB do país equivale a atividades ligadas
direta ou indiretamente à Língua Portuguesa e que o poder económico dos
que falam Português equivale a 4% do valor da riqueza mundial.
Que
o Português ocupa a 5.ª posição relativamente ao número de países com
essa língua como língua oficial, a 7.ª relativamente ao número de
traduções: língua de destino, a 8.ª relativamente ao número de artigos
na Wikipédia, a 15.ª relativamente ao número de traduções: língua de
origem.
O "New York Times" lançou uma edição em Português. O
Português já é ensinado como primeira língua na Argentina. Na Namíbia,
Gabão e Senegal há cada vez mais pedidos para a organização de cursos de
Língua Portuguesa.
Por tudo isto foi estranho ver que a
presidente Dilma Rousseff não participou nas cerimónias do 10 de Junho,
perceber que participou nas últimas cerimónias do Ano Portugal-Brasil do
qual seguramente a maioria de nós não se apercebeu e, o que é pior, que
todos percebemos muito claramente que veio ajudar Portugal através da
eventual compra da TAP, dos CTT ou dos ENVC. Não faz mal. A vender que
seja a brasileiros. Mas que não seja esta a mensagem e a informação mais
clara do que aconteceu no Dia de Portugal.
Porque do resto não
ficou nada. Aliás, a ter de se escolher um setor produtivo para
engalanar os discursos que seja o Turismo. Este ano e sempre. Porque no
10 de Junho, a continuar assim, os portugueses vão para o Algarve. Numa
escapadinha!
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
14/06/13
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