HOJE NO
" RECORD"
Federações apreensivas com
corte de 20 por cento
As federações portuguesas de vela, triatlo e ciclismo
manifestaram-se esta quarta-feira muito apreensivas com o corte de 20
por cento na dotação pública para o alto rendimento, adiantando que
surge "tardiamente" e que os objetivos têm de ser "repensados".
"A
informação surge tardiamente e coloca as federações num grande dilema
ao ter que fazer ajustes quando as provas já estão planeadas. Se viesse
mais cedo, podíamos ter planeado as coisas de outra maneira", disse à
agência Lusa Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de
Ciclismo.
As federações desportivas nacionais tiveram
conhecimento na terça-feira de que a tutela vai aplicar um corte de 20
por cento nos contratos-programa de financiamento do alto rendimento nas
diferentes modalidades, depois de em março as mesmas federações terem
sofrido um corte de nove por cento nos contratos de desenvolvimento da
prática desportiva e enquadramento técnicos (estes já assinados e
publicados).
Delmino Pereira avançou que este é um "problema
bastante grave", já que vai ser obrigado a "abdicar dos pontos mais
altos das provas", quando as seleções e os corredores já se estão a
preparar para os Campeonatos da Europa e do Mundo.
Também José
Manuel Leandro, presidente da Federação de Vela, considera que não
houve "equidade e planeamento" na tomada de decisão e que será
necessário "repensar todo o modelo de financiamento" do movimento
associativo.
"O mais gritante é que não são só os 20 por cento
de agora, há umas semanas tivemos uma reunião em que foram anunciados
cortes de 17,5 por cento no desenvolvimento da prática desportiva e
enquadramento técnicos e hoje recebemos um email a dizer que eram mais
nove por cento. O país está como está. Nós também não queremos mais
dinheiro, nem pedimos o que os outros não têm. Mas há que haver equidade
e planeamento", reclamou José Manuel Leandro.
O líder da
modalidade que colocou 13 velejadores nos Jogos Olímpicos de Londres2012
adianta que a sua federação fez um planeamento de época em outubro do
ano passado, pelo que não compreende que a decisão do corte seja tomada
quando as competições de preparação dos atletas para Europeus e
Mundiais, tendo em conta Rio2016, estão já agendadas.
"O
desporto não pode contar com incertezas. Os atletas têm que participar
nas provas, treinar, viajar. Não posso arriscar estar a endividar a
federação sem saber quando e o que é que vem. O que está em causa é o
país que está a ser prejudicado. É preciso repensar todo o modelo de
financiamento, enquanto não for feito, vamos ter problemas constantes",
desabafou.
Também Fernando Feijão, presidente da Federação
Portuguesa de Triatlo, explicou que vai ter de alterar os objetivos a
que se tinham proposto no organismo para a época desportiva,
justificando não ter condições para manter os mesmos com uma redução de
20 por cento. "Não estávamos a contar com a redução. Ainda estamos a
digerir a proposta, a encaixar bem a situação. Mas sabemos que vamos ter
de reduzir a participação internacional. É uma grande desilusão",
manifestou Fernando Feijão, lembrando os êxitos obtidos nos últimos
tempos na modalidade por parte de João Silva, atual líder do ranking
mundial de triatlo, ou de Pedro Mendes (quinto numa etapa da Taça da
Europa).
Fernando Feijão acrescentou ainda não saber para que
gastou o governo dinheiro num estudo sobre o estado do desporto e
perspetivas futuras, e que fazia recomendações políticas, para que
agora, quando as federações já traçaram objetivos para os seus atletas a
contar com o apoio estatal, este venha a sofrer cortes.
"É
uma política de cortes cegos. Para que é que serviu o estudo em que se
gastou milhões. Há talentos enormes na modalidade, que têm vindo a dar
provas. Tem aumentado o número de praticantes, inclusive. E agora vamos
ficar sem condições para os apoiar, isto não falando também dos encargos
financeiros da própria federação. Temos 11 pessoas que vivem
diretamente da instituição", desabafou.
* Reflexo da dureza da gestão governativa que para além de assaltar o contribuinte e cortar, pouco, na despesa, anda completamente à nora.
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