HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Deco e comerciantes admitem subida de preços com fim de moedas de cêntimo
A Associação de Defesa do Consumidor (Deco) e a Confederação do Comércio e Serviços consideraram hoje que o desaparecimento das moedas de 1 de 2 cêntimos, proposto pela Comissão Europeia, deverá originar um ligeiro aumento dos preços.
O secretário-geral da associação, Jorge Morgado, admitiu, em
declarações à agência Lusa, que "o desaparecimento destas moedas pode
produzir, através dos arredondamentos, um ligeiro aumento do preço de
alguns produtos".
"Em vez de termos produtos a terminar em oito e nove cêntimos, o
arredondamento far-se-á, com certeza por excesso e poderá provocar algum
aumento de preços", declarou Jorge Morgado, que admitiu, contudo, que
esta sugestão da Comissão Europeia, divulgada na terça-feira, "tem
aspetos positivos e negativos".
A mesma previsão de subida de preços é apontada pelo presidente da
Confederação do Comércio e Serviços, João Vieira Lopes, que admitiu à
Lusa que "o consumidor seria prejudicado porque os arredondamentos de
preços por parte da indústria têm tendencialmente natureza
inflacionista".
Também o professor catedrático da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra José Reis considerou, em declarações à Lusa, que
esta medida pode aumentar ligeiramente os preços, mas explicou que isso
não significa um aumento da inflação.
"Mesmo que marginalmente ou simbolicamente, [esta hipótese] pode ter a
consequência de reforçar a componente administrativa dos preços e,
neste caso, mais uma vez, para cima e não para baixo".
José Reis lembrou que, ainda no tempo do escudo, quando se falou no
desaparecimento de moedas de valores mais baixos, "colocou-se a questão
se [isto] não serviria para um aumento da inflação".
"[Na altura] muitas das medidas económicas eram de combate à
inflação, coisa que não é o principal problema de hoje, que é o não
crescimento e a não criação de emprego", vincou.
O professor catedrático explicou que, atualmente, "a evolução dos
preços tem pouco que ver com as determinantes económicas da inflação",
uma vez que "são preços que, provavelmente, poderiam ter caído mais, mas
não caíram, porque os 'players' [empresas de determinado mercado] têm
esse poder".
"Talvez nós devêssemos estar numa altura em que as autoridades
monetárias estivessem mais preocupadas com o ajustamento dos preços a
razões económicas e lógicas de funcionamento económico e procurassem
desmantelar essas lógicas administrativas de formação de preço, das
quais as vítimas principais são os consumidores", afirmou.
Por seu turno, o presidente da Confederação do Comércio afirmou que,
"do ponto de vista do comércio e serviços, o desaparecimento das moedas
de 1 e 2 cêntimos é praticamente nulo, mas diminui a margem promocional
das empresas e obrigaria a novas estratégias de 'pricing' [definição de
preços]".
A Deco vê também um lado positivo no cenário proposto pela Comissão
Europeia, com Jorge Morgado a considerar: "Estamos cada vez mais a
assistir a uma tentativa de terminar os preços a 99 e 98 [cêntimos],
tentando disfarçar o preço real dos produtos. Com o desaparecimento
destas moedas esta tentativa vai acabar".
O secretário-geral da Deco destacou ainda um outro aspeto que considerou "importante", o do custo de fabrico destas moedas.
"É um custo alto, que cada governo de cada país tem que suportar,
estamos a falar de uns milhões de euros, e o valor facial das moedas não
compensa minimamente", adiantou.
Neste contexto, a posição da Deco inclina-se para "o desaparecimento
das moedas de 1 e 2 cêntimos, mas não um desaparecimento brusco".
"Somos favoráveis a um desaparecimento gradual, por forma a que [as
moedas de um e dois cêntimos] não desapareçam de um dia para o outro",
disse.
De acordo com dados da Casa da Moeda, em 2012 foram produzidas em
Portugal 50 milhões de moedas de 1 cêntimo e 35 milhões de dois
cêntimos.
Entre 2002 e 2012 foram produzidas cerca de 748 milhões de moedas de 1
cêntimo e 501 milhões de 2 cêntimos. Apenas em 2003 não foi produzida
qualquer moeda com estes valores faciais.
* Quando da entrada do "€" uma alface custava 50 escudos, passou a custar 1 €, lembram-se???
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