HOJE NO
"PÚBLICO"
Tribunal de Contas considera
ilegal acordo entre governo da
Madeira e IPSS Oceanos
O Tribunal de Contas considerou “inqualificáveis” e “ilegais” os
termos do acordo de cooperação celebrado entre o Governo Regional da
Madeira e a Oceanos - Associação de Solidariedade Social, IPSS, para a
prestação de serviços de cuidados de saúde continuados integrados a
idosos no Caniço, no empreendimento turístico Atalaia Living Care, no
mesmo local.
No relatório da auditoria
divulgado esta quinta-feira e enviado para o Ministério Público para
adequado procedimento jurisdicional, a secção regional do Tribunal de
Contas (TC) responsabiliza o presidente e demais membros do governo da
Madeira pela “inobservância dos princípios da imparcialidade, da
proporcionalidade, da publicidade, da transparência e da não
discriminação, da qualidade e da economicidade, da igualdade, da
concorrência, da imparcialidade e da boa-fé”, aquando da contratação da
Oceanos.
Neste caso, frisa, a celebração do acordo de cooperação
não foi antecedida de um procedimento concorrencial, nomeadamente
concursal, portanto à revelia dos princípios identificados na
contratação pública.
O tribunal põe em causa a “debilidade do
processo”, a sua “sumária e deficiente avaliação” e a “exequibilidade da
candidatura” apresentada pela Oceanos IPSS que carecia de integrar
valências e/ou conhecimentos detidos ou desenvolvidos pela Medical
Holdings International (MHI) para que pudesse cumprir cabalmente o
acordo de cooperação e o desenvolvimento dos serviços que se obrigou a
prestar”. Concluiu ainda pela “insustentabilidade financeira dessa
operação”.
Hotel transformado
O tribunal
apurou também que a despesa emergente desse contrato, que fixava uma
comparticipação anual de 4,6 milhões de euros, foi autorizada por
resolução do plenário do governo "sem cabimento na correspondente
rubrica orçamental". Por isso imputa responsabilidade susceptível de ser
sancionada financeiramente a todos os membros do executivo madeirense e
ao presidente do Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais
(Iasaúde), neste caso por extravassar as suas competências.
Em
sede do contraditório, Alberto João Jardim e os secretários regionais
alegaram que “a matéria controvertida não se inseria nas respectivas
áreas de governação", tendo o titular dos Assuntos Sociais assegurado
que o contrato cumpria as formalidades legais. Face a esta recusa de
responsabilidade, o TC lembra que "o conselho de governo é um órgão
colegial, cuja vontade é formada pela confluência da vontade individual
de cada membro”, acrescentando que “a única forma de os titulares de
órgãos colegiais ficarem isentos da responsabilidade que possa
eventualmente resultar dessa deliberação será fazendo constar em acta o
seu voto vencido e as razões que o justifiquem”.
O Atalaia Living
Care foi um projecto desenvolvido pela Oceanos, associada à MHI. Estava
instalado no antigo hotel Pestana Atalaia, edifício que agora é
propriedade da sociedade Alerta Green Imobiliária, SA, do emigrante
António Saramago. Esta empresa, de que é administrador Miguel Tropa,
advogado da Oceanos e genro de Jardim, reclama daquela instituição
rendas em valor superior a quatro milhões de euros.
O hotel tinha
sido adquirido ao grupo Pestana por 15 milhões de euros e foi adaptado
para alojar pessoas mais velhas a necessitar de cuidados de saúde
diários e permanentes. Depois de garantir a comparticipação do Iasaúde, a
Oceanos fez um contrato de reserva de quartos com a sociedade
proprietária do edifício, mediante a disponibilização de 118 quartos
pelo pagamento mensal de 126 mil euros. Em Julho de 2012, o governo
regional tinha por pagar a totalidade da facturação emitida, no montante
de 1,7 milhões de euros, “em clara inobservância do prazo fixado” pelo
Código dos Contratos Públicos, apurou o TC.
Alegando problemas
financeiros, divergências entre sócios e a quebra da qualidade de
serviços, o governo regional decidiu, no final de 2012, transferir os
120 utentes do Atalaia para instituições e centros de saúde, o que gerou
forte contestação. Depois denunciou unilateralmente o acordo celebrado
com a Oceanos a 25 de Fevereiro de 2011. Esta terça-feira o Tribunal
Judicial de Santa Cruz sentenciou a declaração de insolvência desta
IPSS, estando marcada para 26 de Agosto uma assembleia de credores,
entre os quais estão 108 trabalhadores com salários em atraso.
* Na Madeira existe uma camorra insular.
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