O telefone não toca no Rato
A política joga-se sempre em dois tabuleiros: um público, mediático, outro reservado, de gabinetes.
No xadrez mediático, tudo é
dito e feito de forma a provocar um efeito sobretudo na opinião
pública, e por essa via fazer pressão sobre o visado da comunicação. Os
verdadeiros consensos, os acordos de substância, as negociações
políticas eficazes cozinham-se em privado, atrás dos reposteiros dos
gabinetes, com as pinças cirúrgicas dos verdadeiros políticos. E quando
saem à luz do dia, resultado de um longo processo de maturação,
normalmente surpreendem a guarda avançada do debate.
Passos Coelho
e Cavaco Silva sabem disto melhor que qualquer comentador. E sabem como
o simples facto de conversarem, mesmo que ninguém saiba sobre o quê,
provoca no campo mediático o efeito que desejam, seja pelos temas que
deixam sair para a opinião pública, seja pelos timings escolhidos para
os seus encontros. É por isto que é legítimo duvidar das suas
verdadeiras e reais intenções quando vêm a público apregoar a
necessidade de consensos políticos, leia-se o acordo do maior partido da
oposição para as soluções que defendem — e nunca como agora Passos e
Cavaco se mostraram em tão grande sintonia. O Presidente bem pode dizer
que continuará a trabalhar por consensos políticos quando, pelas suas
acções e omissões, deixa perceber coisa diferente. E o primeiro-ministro
já não consegue esconder o quão ocos são os apelos públicos ao PS. Se
de facto o desejam ou ainda o acham possível, por que não fazem o mais
simples e telefonam a António José Seguro?
IN "PÚBLICO"
13/04/13
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