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HOJE NO
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O mundo delirante das
previsões iniciais da troika
Volvidos quase dois anos desde que foi desenhado o programa de
ajustamento da troika para Portugal, olhar para as previsões então
feitas para as contas públicas parece uma visita a um mundo delirante. O
desemprego não passaria do pico de 13,5%, a dívida pública ia ficar
controlada abaixo dos 114,9% e o défice deste ano seria já de 3%, em
linha com as regras europeias e sobretudo com o grande objectivo de
regressar em força aos mercados ao longo de 2013. Mas é hora de voltar à
realidade.
O governo ameaçou com a demissão e Vítor Gaspar congelou o
funcionamento do Estado: culpa do Tribunal Constitucional e da sua
recusa em aceitar os artigos inconstitucionais do Orçamento do Estado
para este ano. Foram cerca de 1200 milhões de euros que ficaram em xeque
com a decisão do TC. Falamos de 0,7% do PIB previsto para este ano -
que considerando a contracção de 2,3% deverá situar-se nos 161,6 mil
milhões de euros - valor que, a julgar pela reacção do governo e da
troika, põe em causa todo o programa português. Contudo, fazendo as
contas às sucessivas derrapagens nas previsões para o défice público
desde o lançamento do ajustamento, nota-se que o chumbo do
Constitucional representa qualquer coisa como 18% das derrapagens totais
dos orçamentos de Vítor Gaspar. Somando os défices previstos - em valor
- pela troika quando chegou a Portugal para 2011, 2012, 2013 e 2014,
chegamos a um valor acumulado de 27,19 mil milhões de euros. Mas, e
segundo as últimas previsões, o défice acumulado no período do programa
de ajustamento deverá atingir pelo menos 33,7 mil milhões, mais 6,5 mil
milhões que o previsto.
Esta diferença de 6,5 mil milhões, porém, é atenuada pelas várias
receitas extraordinárias que o governo foi encontrado para compensar as
previsões que foi fazendo. Nas contas do i, considerámos que
Portugal em 2011 registou um défice de 7,5 mil milhões de euros, que foi
o valor efectivamente reportado pelo INE. Mas 2011 foi quando Passos
Coelho decidiu “ir além da troika”, forçando um défice de 4% com
receitas extraordinárias, isto quando Bruxelas e o FMI exigiam 5,9% - 10
mil milhões de euros. Caso não considerássemos estas receitas
extraordinárias, a derrapagem acumulada no défice neste período poderia
saltar para mais de 12 mil milhões, diluindo o peso da decisão do TC
para 10% das derrapagens totais.
Ao ano do “brilharete” de ir além da troika, seguiu-se a realidade. Os
ganhos conquistados em 2011 - cerca de menos 2,5 mil milhões de euros de
défice do que o previsto pela troika - foi quase totalmente
desperdiçado no ano passado, com Gaspar a fechar as contas do ano com um
prejuízo para o Estado de 10,6 mil milhões de euros, contra os 7,6 mil
milhões pedidos pela troika, devendo este ano engrossar ainda mais o
buraco: o défice previsto este ano é de 8,9 mil milhões de euros quando
segundo o programa de ajustamento não deveria ultrapassar os 5,23 mil
milhões de euros. Para o ano, o cenário é idêntico: Na versão inicial do
programa Portugal deveria terminar com um défice de 2,3% mas a troika
já aceitou que esse valor fique nos 4%.
Considerando o valor do PIB com que Portugal deverá chegar ao final
deste ano, 161,6 mil milhões de euros, podemos calcular que durante a
vigência do programa (2011-2014) Portugal devia acumular um défice
máximo equivalente a 16,8% do PIB. As últimas previsões, contudo,
apontam já para um défice total de 20,8% no período - um valor já muito
ajudado com receitas extraordinárias.
Dívida, desemprego e recessão
Com
as derrapagens nas previsões, naturalmente que além do défice também os
cálculos da trajectória da dívida ou da recessão que a economia ia
acumular no período ficou longe do antecipado.
Bruxelas e o FMI calculavam que a economia portuguesa entre 2011 e 2014
iria acumular uma contracção do PIB de 0,3% - défice de 2,2% e 1,8% em
2011 e 2012, seguido de crescimento de 1,2% e 2,5% em 2013 e 2014 -,
valor que agora saltou para uma contracção total de 6,6% entre 2011 e
2014. É neste indicador que reside também a explicação para as previsões
feitas sobre o desemprego: uma contracção acumulada de 0,3% nestes anos
resultaria, no entender do governo e da troika, numa taxa de desemprego
máxima de 13,5%, que começava em queda acentuada já em 2014, ano em que
deveria chegar aos 12,5%.
Actualmente a taxa de desemprego vai nos
17,5% e ainda em tendência ascendente.
Quanto à dívida pública, e não bastassem os défices maiores que o
previsto nas contas, também sofre neste exercício de um outro factor: a
maior contracção do PIB que o projectado. A troika previu que a dívida
portuguesa não passaria do pico de 114,9% do PIB, que seria atingido
este ano - que representava então perto de 200,8 mil milhões de euros,
já que o PIB português naquelas contas seria hoje de 174,8 mil milhões.
Este valor compara com a previsão actual de uma dívida de 204,5 mil
milhões de euros com que Portugal deve fechar as contas de 2013, valor
que dada a contracção maior que o esperado corresponde todavia a uma
dívida de 123,6% do PIB.
* ESTAMOS TROIKUDIDOS
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