O produto da estação
O mesmo produto financeiro não serve todos os objectivos e todos os perfis de risco.
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A redução das taxas de juro dos títulos de dívida pública portuguesa são uma boa notícia. Por duas razões essenciais.
O movimento cria condições para que o Estado português, as
instituições financeiras e as empresas reabram as portas de acesso ao
crédito nos mercados internacionais. E sinaliza, também, que as
previsões mais catastróficas sobre o futuro do euro podem pecar por
exagero, apesar de o horizonte estar cheio de riscos, como provam os
dados mais recentes que dão conta da anemia que está a propagar-se às
economias mais poderosas da Zona Euro.
Aquilo que constitui um sinal de normalização não tem apenas o
lado positivo de permitir vislumbrar uma primeira meta cumprida em
contrapartida dos sacrifícios exigidos pela consolidação das finanças
públicas em Portugal. Se a remuneração implícita nas obrigações emitidas
pelo Tesouro português tem vindo a baixar, numa evolução determinada
pela valorização dos títulos que é sustentada pelo aumento da procura,
isto significa que a relação entre rendibilidade e risco sofreu uma
reviravolta.
Há um ano, as dúvidas sobre a capacidade de a Zona Euro controlar
e superar a grave conjuntura financeira e a crise de confiança nos
países periféricos justificavam uma percepção de risco mais elevado. Os
títulos estavam desvalorizados e quem estivesse disposto a arriscar só o
fazia na perspectiva de obter retornos de dois dígitos, superiores,
até, a 20%. Para os investidores que deram o passo em frente, a decisão
foi compensadora.
Agora, o cenário é diferente. As obrigações do Tesouro nos prazos
mais curtos apresentam rendibilidades substancialmente inferiores e até
nas maturidades de maior duração os tempos dos retornos deslumbrantes,
embora arriscados, já lá vão. Ou seja, quem procura adubo de efeitos
rápidos no crescimento do seu dinheiro já não encontrará nas obrigações
do Tesouro os produtos atraentes que foram durante o período de maior
turbulência. Mas isto não o mesmo que afirmar que se devam virar as
costas à possibilidade de ter uma parcela da poupança aplicada nestes
terrenos.
Os produtos financeiros não existem para servir todas as
situações, nem todos os objectivos de quem investe, nem, tão pouco,
todos os perfis de risco. O mesmo produto pode, numa conjuntura,
mostrar-se ajustado a quem esteja disponível para suportar perdas, mas
aceite correr riscos em busca de uma rendibilidade mais elevada. Noutra
conjuntura, pode revelar-se menos interessante para provocar emoções
fortes, mas servir como uma fato à medida em investidores que
privilegiem estabilidade e segurança e que, por isso, aceitam
rendibilidades comparativamente menores.
É neste ponto que estão, agora, as obrigações emitidas pelo
Estado português. Desinteressantes para os caçadores de ganhos de curto
prazo, mas adaptadas a perfis mais conservadores.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
18/028/13
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