E que tal refundar antes
este estado de coisas?
Já andamos há
muito tempo a digerir o custo da fraude, falência e entrega do BPN - as
últimas contas somam três mil milhões e meio de euros, mas pode ser
muito mais.
Começámos agora a mastigar os 1100 milhões metidos no
Banif para o salvar da bancarrota. Bebemos o veneno da fragilização da
Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado obrigado a meter dinheiro em
maus negócios e a delapidar património para salvar a pele de uns
quantos perdulários.
Engasgámo-nos, espantados, ao ver os
magistrados da "Operação Furacão" a tentar caçar fugas ao fisco e
branqueamentos de capitais no BCP, BES, BPN e Finibanco e a trocar,
alegremente, condenações em tribunal por pagamentos ao Estado de alguns
milhões - 185, segundo o último balanço oficial.
Arriscamos uma
indigestão quando vemos Jardim Gonçalves, o criador do BCP, a ser
condenado a pagar uma coima de um milhão de euros por ter omitido contas
em offshores do banco; a fusão Compal-Sumol financiada pela Caixa a ser
investigada; a extraordinária falência do BPP prestes a conhecer uma
acusação; alguns administradores do BES suspeitos num caso de ações da
EDP Renováveis; o "papa" desse banco, Ricardo Salgado, a fazer visitas
ao DIAP para testemunhar no caso "Monte Branco" - onde o seu BESI,
liderado por José Maria Ricciardi, é investigado - e a devolver 8,5
milhões que se esqueceu de declarar ao fisco.
Estamos enfartados
com a violência do ajuste de rácio que os bancos portugueses fizeram,
coisa saudável para as suas contas, mas que secou o financiamento da
economia e muito empurrou o País para ainda maior pobreza.
Começámos
agora a engolir uma açorda chamada "banco de fomento", alegremente
publicitada por Angela Merkl. O alemão KfW está a ajudar o ministro das
Finanças a montar o esquema de viabilização da coisa. O ministro da
Economia, por seu lado, tem na cabeça um outro sistema e, no terreno, um
grupo de trabalho a desenvolvê-lo. Até o ministro da Educação tem
ideias próprias sobre o assunto.
Disfarçados sob o manto
caridoso da necessidade de financiar pequenas e médias empresas,
escondem-se os apetites de quem quer dominar o último banquete da União
Europeia: os muitos milhares de milhões vindos no próximo QREN.
Habituados ao regime atrás descrito, nem duvido por que estômagos, dê as
voltas que der, esse dinheiro passará...
Resta-nos uma grande
azia e a pergunta inconveniente: em vez de refundar o Estado não
deveríamos, primeiro, refundir este sistema financeiro?
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
22/01/13
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