HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Ex-director do BCP e actual supervisor
da CMVM diz que criou 'offshores'
por ordem de Líbano Monteiro
O antigo director do BCP e actualmente director de
supervisão da CMVM disse hoje em tribunal que foi por indicação de
Líbano Monteiro que criou cinco das 17 'offshores' Cayman que estão a
ser investigadas no processo BCP.
"Recebia instrução, orientação do meu
administrador" para a constituição de sociedades 'offshore', disse hoje
Miguel Namorado Rosa, no julgamento do processo-crime do BCP, no campus
da Justiça, em Lisboa, acrescentando que não se revê "na palavra
'criador'" de sociedades 'offshore'.
"Não sou autor, nem criador, eu transmitia ordens no sentido da sua
criação a quem as vai operacionalizar", afirmou a testemunha.
O ex-responsável do banco especificou que foi o então administrador
do Banco Português de Negócios (BPA) Pedro Líbano Monteiro, a quem
reportava, que deu indicção para a constituição de 'offshore' em
conversas pessoais com o objectivo de "fazer investimento em acções do
BPA".
Cada uma destas sociedades tinha um limite de crédito de 10 milhões de euros para realizar esse investimento.
Miguel Namorado Rosa foi ouvido hoje como testemunha chamada pelo
Ministério Público devido a ter exercido funções (entre 1998 e 2000) no
BPA, acumulando-as então com as que desempenhava no Centro Corporativo
do BCP (entidade de que era funcionário desde 1989). O BPA foi comprado
pelo BCP em 1995, mas a fusão apenas seria concluída em 2000, quando se
dá a oferta pública de troca de acções do BPA por títulos do BCP.
O depoimento de Miguel Namorado Rosa tornou-se mediático depois de,
no início de Janeiro, no último dia do julgamento em que a Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) acusava sete ex-gestores do BCP de
prestarem informações falsas ao mercado (em que na sentença o antigo
fundador do banco, Jardim Gonçalves, foi condenado a pagar uma coima de
um milhão de euros e a inibição de ocupar cargos no sector financeiro
durante cinco anos), o director do BCP Miguel Magalhães Duarte ter dito
que Miguel Namorado Rosa, que teria afirmado em tribunal ser o autor de
cinco das 17 'offshore' sediadas nas ilhas Caimão, foi nomeado no início
do ano para um cargo de supervisão CMVM.
Na sessão de hoje, Namorado Rosa (que confirmou que saiu do BCP no
final do ano passado e que, desde o início de Janeiro, é director do
Departamento de Supervisão de Mercados, Emitentes e Informação do
regulador dos mercados financeiros) esteve "tenso", como qualificou a
juíza Anabela Morais, que pediu à testemunha para estar "à vontade" na
colaboração com o tribunal e não se preocupar com o que "diz a
comunicação social".
Ainda sobre as 'offshore', o actual responsável da CMVM disse que não
tinha conhecimento dos últimos beneficiários ('donos') das sociedades
de que propôs a criação, mas que isso não lhe permite dizer "que eram
pessoas fantasmas, que não existiam", acrescentando que acredita que
estes investidores existiam.
FILIPE PINHAL |
Esta foi mais uma sessão do julgamento do ex-presidente do BCP Jardim
Gonçalves e dos ex-gestores Filipe Pinhal, Christopher de Beck e
António Rodrigues pelos crimes de manipulação de mercado e falsificação
de documentos. Os arguidos são imputados a prática daqueles crimes
através da actividade de 'offshore' criadas e detidas pelo BCP para o
efeito de influenciar a liquidez do título.
* Porque é que este senhor ainda trabalha na CMVM?
.
Sem comentários:
Enviar um comentário