HOJE NO
"PÚBLICO"
Pesquisa interna pode transformar Facebook numa “roleta russa” social
Lembra-se da informação que partilhou há cinco anos com os seus amigos, quando não imaginava ser quem é hoje? O Facebook lembra-se e, se não a esconder, vai mostrá-la a toda a gente no seu motor de pesquisa.
A privacidade está de novo na ordem do dia para os utilizadores do
Facebook. O motor de pesquisa interna que Mark Zuckerberg apresentou há
pouco mais de uma semana permite conjugar aspectos da nossa actividade
naquela rede social que podem comprometer pessoas e marcas. O que se
fará com a informação de que o McDonald’s já empregou racistas?
Este é um dos exemplos publicados por Tom Scott no Tumblr que criou há dias para mostrar os resultados “arrepiantes” do graph search
do Facebook. O jovem especialista em tecnologia, de Londres, procurou
por “actuais empregadores de pessoas que gostam de racismo” e entre os
resultados encontrou o famoso franchise de fast food e a Força Aérea norte-americana.
Isto
é possível porque o motor de pesquisa está preparado para responder a
perguntas que combine a muita informação que fornecemos voluntariamente:
família, amigos, interesses, locais de trabalho, de lazer, de origem,
fotografias, cronologias, etc. Se estes dados não se encontrarem
protegidos nas definições de privacidade de cada um, aparecem na
pesquisa.
O que Tom Scott fez foi relacionar informações
aparentemente contraditórias e ver se encontrava alguma coisa. E
encontrou. O que significa que as nossas incoerências estão à vista de
todos – incluindo aventuras que estão à espera do momento certo para
serem reveladas à nova namorada ou um “gosto” menos consensual no local
de trabalho… como o racismo.
“Gostar” de racismo, ou seguir uma
página que põe em causa quem está sentado ao nosso lado na empresa –
seja racista, xenófoba, misógina ou homofóbica –, pode ser pura ironia,
gozo. Mas queremos mesmo ter de o explicar? Se formos homens a viver em
Teerão, onde a homossexualidade é perseguida, queremos que se saiba que
estamos "interessados" noutros homens? Se formos casados, queremos ter
“prostitutas” entre os nossos interesses?
O graph search
forneceu resultados para todas estas pesquisas efectuadas por Scott,
cujo trabalho está a ter impacto internacional, motivando artigos na
imprensa de referência e, com isso, preocupações acrescidas. Isto numa
altura em que a ferramenta ainda não se encontra disponível a todos os
utilizadores do Facebook, que está a alargar o acesso gradualmente.
O
motor de pesquisa é um avanço da mais popular rede social do mundo para
terrenos dominados pelo Google e, uma vez que permite pesquisar por
área de formação ou profissão, também pelo LinkedIn. Mas certamente não
seria intenção que esta nova funcionalidade afrontasse o próprio
Facebook através do seu calcanhar de Aquiles – a privacidade.
Os responsáveis pela rede social argumentam que o graph search
– que, de resto, se encontra em fase experimental – não altera as
definições de privacidade de cada um e que os dados revelados pelas
pesquisas já eram visíveis. A pergunta é: lembra-se daquela informação
que partilhou há cinco anos com os seus amigos, quando não imaginava ser
quem é hoje?
* Pacheco Pereira diz que há no Facebook uma página com o seu nome que de todo não lhe pertence.
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