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Universidade do Minho quer transformar o grafeno em objectos mais acessíveis
Dois projectos de
investigação da Universidade do Minho, financiados pela União Europeia,
vão explorar as aplicações industriais do grafeno, um sub-produto da
grafite. O objectivo desta parceria, que vai envolver um investimento de
1,2 milhões de euros, é tornar os produtos tecnológicos baseados nesta
matéria em objectos mais úteis e acessíveis à sociedade.
O
investigador Nuno Peres, que vai trabalhar num dos dois projetos a
financiar pela Comissão Europeia para desenvolvimento da ciência,
explicou à Lusa que o objetivo é tornar a descoberta do grafeno em
produtos para os consumidores.
O grafeno, material cuja
descoberta levou à atribuição de um Prémio Nobel em 2010, "tem um
conjunto de propriedades muito interessantes do ponto de vista mecânico,
térmico, eletrónico e ótico, que potenciam um conjunto de aplicações",
avançou à agência Lusa o físico da Universidade do Minho.
Segundo
explicou, a União Europeia decidiu atribuir um financiamento superior a
mil milhões de euros a dois grandes projetos científicos, sendo que um
deles será a transformação do grafeno em material de consumo.
"O
projeto da União Europeia é precisamente levar a investigação que está a
ser feita nos laboratórios até à indústria e depois até aos produtos
que possam chegar ao consumidor", referiu.
O grafeno é, descreveu Nuno Peres, um material obtido a partir da grafite.
"A
grafite é um empilhado de camadas e o grafeno é apenas uma dessas
camadas, portanto é um material que tem a espessura de um único átomo de
carbono", disse.
A sua autonomização valeu o Nobel da Física de
2010 ao cientista russo-britânico Konstantin Novoselov e ao cientista
holandês nascido na Rússia, Andre Geim.
Admitindo que, com o
financiamento atribuído pela União Europeia, "é possível daqui a 10 anos
[prazo total do projeto] termos um conjunto de produtos a funcionar à
base de grafeno com um preço que seja competitivo", Nuno Peres descreve
alguns dos usos possíveis.
"Estamos a falar de painéis táteis, do
chamado papel eletrónico - que eventualmente possa ser enrolado e onde
se possa ler o jornal -, estamos a falar de transístores para o
funcionamento de computadores baseados em carbono, de circuitos que, em
vez de transportarem sinais elétricos, transportam sinais luminosos, ou
para ser mais rigoroso, ondas eletromagnéticas, e que servem para ter
circuitos em que a comunicação é feita por luz, portanto de forma mais
rápida", disse, acrescentando ainda a possibilidade de ter "sensores
para a deteção de certos produtos químicos ou de certo material
biológico".
Estas utilizações já foram, aliás, experimentadas em laboratório, mas que precisam de conseguir chegar a um custo razoável.
"Penso
que [o grafeno] pode trazer novos circuitos optoeletrónicos" e
constituir "um avanço significativo" nas tecnologias de informação e
comunicação, as chamadas TIC", assinalou o investigador.
A
Universidade do Minho é a única portuguesa que está envolvida no
lançamento deste projeto, mas o financiamento - que ronda os 500 milhões
de euros a 10 anos - será distribuído por 80 universidades europeias.
O
projeto de desenvolvimento do grafeno foi um dos vencedores da
iniciativa europeia Future and Emerging Technologies Flagship Projects
(Projetos Simbólicos de Tecnologias Futuras e Emergentes) a par do
'Projeto Cérebro Humano', tendo sido escolhido depois de três anos de
avaliação por um grupo de investigadores selecionados pela Comissão
Europeia.
Nos próximos meses, os parceiros irão negociar os
primeiros danos e meio de financiamento com a Comissão Europeia, sendo
que o projeto deverá ter início ainda este ano.
"A ciência é o que
tem trazido maior benefício para a humanidade", lembrou Nuno Peres,
contestando eventuais críticas sobre a atribuição de um investimento de
1,2 milhões de euros a dois projetos científicos numa altura em que a UE
vive graves dificuldades financeiras.
"A qualidade de vida que
nós temos hoje veio muito dos avanços científicos que foram feitos no
passado. Portanto, penso que o investimento em ciência traz, a prazo,
garantias aos cidadãos de mais emprego, mais riqueza e melhor qualidade
de vida. Acho que é precisamente nestas épocas de crise que vale a pena
fazer apostas mais arrojadas e penso que a aposta na ciência é uma
aposta segura", concluiu.
* A Ciência portuguesa sempre a intervir entre o polo académico e empresarial.
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