HOJE NO
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Ricardo Salgado esqueceu-se de
declarar 8,5 milhões de euros ao fisco
Antes de ser ouvido na Operação Monte Branco, o presidente-executivo do BES fez três rectificações à sua declaração original de IRS de 2011
O presidente-executivo do Banco Espírito Santo (BES) deslocou-se ao
Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) no passado
dia 18 de Dezembro para prestar depoimento na investigação em que estão
sob escrutínio os crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de
capitais.
Onze dias antes, Ricardo Salgado liquidou a última de três
rectificações de IRS realizadas fora de prazo, num total de 4,3 milhões
de euros de IRS pagos a mais face à colecta inicial de Maio.
A primeira declaração entregue foi em Maio, altura em que o presidente
do BES liquidou apenas 182 765 euros, o correspondente ao IRS pago sobre
um total de cerca de 1,1 milhões de euros de rendimentos seus e da sua
mulher, Maria João Bastos.
A primeira rectificação do banqueiro à declaração de IRS de 2011
deveu-se a 25 mil euros de rendimentos de capitais da mulher e a 655 mil
euros de rendimentos de capitais no estrangeiro do próprio Salgado que
não tinham sido declarados em Maio.
A segunda rectificação foi entregue a 30 de Agosto, tendo por base a
declaração de um rendimento total de 8,5 milhões de euros de rendimentos
de Ricardo Salgado obtidos em Angola. Este novo valor deu origem a uma
liquidação de imposto de cerca de 3 milhões de euros.
Foi já em vésperas de se deslocar ao DCIAP que Ricardo Salgado terá
feito a última rectificação, que levou a uma nova liquidação no seu IRS
de 2011: 1,3 milhões de euros.
Assim, contas feitas, e ao invés do declarado inicialmente, a colecta
correspondente aos seus rendimentos foi superior a 4,5 milhões, e não de
183 mil euros.
Esta situação é semelhante ao que o i tinha já noticiado em
relação a Amílcar Morais Pires, administrador-executivo e chief
financial officer (CFO) do BES, que também declarara inicialmente
rendimentos inferiores aos que realmente auferiu neste ano, sendo
obrigado a pagar mais 1,1 milhões de euros de IRS.
Ligação à Operação Monte Branco
A ligação de altos quadros do BES à Operação Monte Branco terá surgido, segundo o i
apurou junto de fontes judiciais, quando Rosário Teixeira, procurador
do DCIAP, requereu autorização ao juiz Carlos Alexandre para realizar
buscas à sede do BES Investimento, com o argumento de que existiam
indícios da prática dos crimes de fraude fiscal qualificada,
branqueamento de capitais, tráfico de influências, corrupção e abuso de
informação privilegiada nos processos de privatização de 21,35% da EDP,
concluído no último semestre de 2011, e de 40% da REN, adjudicada em
Fevereiro de 2012.
Um dos motivos que podem ter estado na origem destas regularizações ao
fisco por parte de Ricardo Salgado é a tentativa de precaver qualquer
acusação pelos crimes de fraude fiscal e de branqueamento de capitais.
Isto porque, desde a Operação Furacão, o DCIAP tem o entendimento
(sufragado pelo Tribunal da Relação de Lisboa) de que o pagamento dos
impostos em falta pode levar à suspensão do procedimento criminal.
Questionada pelo i, fonte oficial da Procuradoria-Geral da
República garantiu, contudo, que até ao momento ainda nenhuma suspensão
provisória do procedimento criminal foi conseguida no Processo Monte
Branco, pelo que estas regularizações tributárias não serviram até agora
de base a nenhuma decisão: “O processo não atingiu ainda a fase das
decisões de suspensão provisória.”
Reacção do BES
Contactada
ontem cerca das 20h, fonte oficial do BES desmentiu a existência de
qualquer fuga ao fisco por parte de Ricardo Salgado. “A informação
enviada é falsa: o Dr. Ricardo Salgado não foi ao DCIAP explicar
qualquer ‘fuga ao fisco’. Essa informação é caluniosa e enquadra-se numa
saga de mentiras que o jornal i vem prosseguindo relativamente a quadros do grupo BES.”
* Gente rica pode "esquecer-se" os pobres fazem fraudes
.
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