17/01/2013

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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

Ex-inspetor "espantado" 
com falta de manual 

 O Tribunal de Lisboa confrontou hoje um ex-agente da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) com a inexistência de um manual de procedimentos na farmácia do hospital de Santa Maria, ao que este se mostrou "espantado". 

Na audiência de hoje, daquele que ficou conhecido como o caso de "cegueira de Santa Maria", o presidente do coletivo de juízes da 7ª. vara criminal de Lisboa, Alfredo Gameiro Costa, confrontou o ex-subinspector Felisberto Jerónimo, com o facto de já ter ficado provado em tribunal que não havia manual de procedimentos quando, em julho de 2009, seis pessoas ficaram parcial ou totalmente cegas, depois de terem recebido injeções intraoculares. 

Alfredo Gameiro Costa invocou depoimentos de audiências anteriores, depois de o subinspetor ter afirmado que, quando inspecionou o hospital na sequência do incidente, ter tido conhecimento de que havia um manual de procedimentos que, apesar de estar em atualização, lhe teria sido "exibido". 

 O ex-inspetor disse ainda não ter a certeza de quem teria exibido o manual, admitindo, como possibilidade, a então diretora do serviço de farmácia do hospital, Regina Lourenço. Os factos remontam a 17 de julho de 2009, quando seis pessoas cegaram total ou parcialmente no hospital de Santa Maria, em Lisboa, depois de lhes terem sido ministradas injeções intraoculares, supostamente com Avastin. 

Os arguidos, o farmacêutico Hugo Dourado e a técnica de farmácia Sónia Baptista, são acusados de seis crimes de ofensa à integridade física, por negligência, e incorrem numa pena de prisão de dois anos. Felisbelo Jerónimo assinou o relatório "preliminar" da IGAS de 31 de julho de 2009. 

 "Fizemos um relatório preliminar e chegámos a algumas conclusões com fragilidades", disse, atribuindo-as ao nível do funcionamento da farmácia, pelo que basearam o relatório nos dados do Infarmed. Felisbelo Jerónimo - que se encontra aposentado da IGAS desde julho de 2009 - disse ainda recordar-se de ter ido a Santa Maria, pela primeira vez, no âmbito daquele caso, a 23 de julho. Sobre a causa provável da cegueira dos seis pacientes do hospital, atribui-a a "uma eventual troca de seringas", por "erro humano". 

Quando questionado pelo advogado da arguida sobre a existência de medicamentos diferentes, no tabuleiro em que estavam as alíquotas com as injeções que viriam a ser ministradas aos pacientes, o ex-inspetor do IGAS invocou "ter memória visual" de que existiam. A afirmação foi contestada pela defesa da arguida, pois, após os seis casos de cegueira de Santa Maria, o hospital cessou a utilização de alíquotas na preparação do medicamento, conforme tem sido dito ao longo deste julgamento, iniciado em fevereiro de 2012. 

Felisberto Jerónimo também não conseguiu explicar o motivo por que o relatório da IGAS atribuiu os casos de cegueira à administração de "bevacizumab" (Avastin). Nem o subinspetor da IGAS nem a então inspetora do Infarmed Erica Cardoso, farmacêutica, que hoje prosseguiu o depoimento, se mostraram contra a utilização de alíquotas na preparação de medicamento, ainda que a segunda tenha sublinhado tratar-se de "um método que exige preparação adequada e cuidados redobrados". A audiência de hoje ficou ainda marcada pelo facto de o presidente do coletivo de juizes ter invocado razões "economicistas", no uso de Avastin. 

"Os problemas sempre surgiram, mesmo nos EUA, porque quem utiliza alíquotas faz a análise da relação risco/benefício, mesmo que haja pessoas que acabam por ter reações adversas graves", disse, sublinhando que, em Portugal, também "tiveram consciência disso, mas preferiram arriscar". "Enquanto uma ampola de Lucentis custa cerca de 2.000 euros, uma de Avastin custa 50 e dá para uma dezena de intervenções", frisou. O julgamento prossegue a 04 de fevereiro, com a audição da primeira testemunha de defesa de Hugo Dourado.

* Estranho, seis pessoas ficam cegas e os presumíveis culpados podem levar até 2 anos de prisão, um indíviduo rouba um supermercado e leva 2 anos à mesma, com que intuito é que as leis são redigidas deste modo?

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