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"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Famílias já não conseguem pagar prestações de lares e creches sociais
As instituições
sociais do distrito de Bragança contabilizam já "milhares de euros" de
dívidas em creches e lares relativas a pagamentos em atraso de
comparticipações que as famílias não conseguem pagar devido à quebra de
rendimentos.
TEMOS 2 MILHÕES DE POBRES |
Nas creches e jardins-de-infância da Santa Casa
da Misericórdia de Bragança (SCMB), estas comparticipações correspondem,
em muitos casos, a apenas o abono de família, mas já nem esse valor
conseguem pagar porque faz falta para alimentar as crianças em casa,
como relatou hoje à Lusa o provedor, Eleutério Alves.
A
instituição que dirige presta serviço a cerca de 900 utentes por dia,
entre crianças e idosos, e "tem já alguns milhares de euros de dívidas"
de comparticipações que as famílias não conseguem pagar em função da
conjuntura atual.
Eleutério Alves é também membro da direção da
CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) e
assegurou que esta realidade é extensível a outras instituições sociais
do distrito de Bragança e a nível nacional.
Outro indicador das
dificuldades das famílias, segundo aquele responsável, é a redução nos
montantes das comparticipações que lhes cabem nos custos de cada utente e
que são calculadas em função do rendimento per capita.
A quebra
de rendimentos, provocada por situações como o desemprego ou reduções
salariais, obriga a que seja recalculada essa comparticipação familiar.
"Nós estamos a notar quebras na comparticipação média das famílias à volta dos 30 por cento", afirmou.
As
dificuldades em conseguir que os familiares comparticipem a parte que
lhes é devida, sobretudo nos casos dos utentes idosos, são cada vez
maiores, constatou o provedor da SCMB.
"Muitas vezes é apenas e só a reforma dos idosos que contribui para a comparticipação familiar", afirmou.
No
apoio à infância, o provedor tem notado que os pais têm dificuldade em
manter os filhos nas instituições "e alguns tentam mesmo tirá-los de
lá".
A Misericórdia de Bragança tem tentado contrariar esta
situação, "garantindo apenas uma comparticipação mínima e, nalguns
casos, até praticamente gratuita,", mas ainda assim "começa a haver essa
tendência", de acordo com o provedor.
Eleutério Alves
exemplificou com casos em que estipulam a comparticipação "ao nível do
valor do abono de família e mesmo esses têm dificuldade em garantir essa
comparticipação, porque o dinheiro do abono de família faz-lhes falta,
de facto, para alimentar a criança".
O provedor garantiu que a
Misericórdia "não deixa de prestar o serviço", mesmo em situações de
falta de pagamento, mas admitiu que esta como outras instituições
sociais estão "a atingir os limites da capacidade".
"Num curto
prazo, as instituições não terão já capacidade financeira para responder
à crise e entrarão elas próprias, também, em crise", alertou.
O provedor defendeu que "tem que haver uma adequação das comparticipações do Estado" à realidade atual.
"O
Estado não se pode demitir das suas funções de Estado Social, tem de
garantir o apoio à parceria e aos contratos que faz com as IPSS
(Instituições Particulares de Solidariedade Social), no sentido de
resolver as situações que ele próprio deve resolver, mas que não tem
capacidade para isso", considerou.
* Habituámo-nos a ser subsídio-dependentes, muitos subsídios são despesismo e convita à preguiça. O dinheiro não chega para tudo e o estado social, tal como está hoje, não dura mais cinco anos.
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