Sem crise de bola
Crise, mais crise, sempre crise. Não há vocábulo mais redito, mais derreado, mais estafado. Crise para aqui, crise para ali, crise para acolá. Faz-se? Não. Porquê? Por causa da crise. Não se faz? Não. Porquê? Por causa da crise. Talvez se faça? Não. Porquê? Por causa da crise. E não é que não há crise da crise?
Por acaso, até há, até houve. O futebol chutou a crise com violência, com aparato. Proclamou a crise da crise. No Europeu, não houve crise de bola, de bola da melhor. A Seleção driblou a crise e devolveu autoestima aos portugueses. Fez o que os governantes não fazem, esses que tão mal equipam, que usam táticas obsoletas, descuidadas, suicidas.
No futebol, Portugal não está em crise. Não há crise de valores, não há crise de talentos, não há crise de entusiasmos. O combinado nacional também soube vencer a crise do negativismo, a crise do pessimismo, a crise do derrotismo. Deu a imagem de um povo organizado, competente, vencedor. De um povo que não vive em crise, que chutou a crise para canto.
A bola tem um sortilégio fantástico. Com um belo desempenho, perante as melhores formações europeias, Portugal jogou sempre na grande área da ambição, enamorado pelo sucesso. A receita era para a crise, após alguns jogos particulares com sabor a frustração? Se era, resultou, resultou bem, resultou quase em pleno, não fossem uns penaltis madrastos.
O Europeu terminou. A crise vai regressar ainda mais mordente e provocadora. Sem bola, sem a não-crise-da-bola, a crise será ainda mais crise. Só pode golear de prostração, de abatimento, de infortúnio. Enquanto o futebol soube dar um pontapé na crise e fazer as despesas do contentamento, a crise da crise vai prosseguir em crise.
IN "DESTAK"
01/07/12
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