19/06/2012

ANA RITA GUERRA





Por que é que crianças 
       não devem ter Facebook 

Em vez de construir muros à volta da piscina, o que se deve fazer é ensinar a nadar. A ideia é nobre e filosófica e não desprovida de mérito numa série de situações. Esta não é uma delas. 

O que Mark Zuckerberg pretende fazer compreende-se. Ele sabe que os miúdos mentem na idade quando criam perfis no Facebook, e um estudo da Consumer Reports diz que 5 milhões de crianças norte-americanas com dez anos já têm perfil na rede. 

É quase impossível verificar a veracidade destas datas de aniversário. Como tal, impossível proteger as crianças de conteúdos a que não deviam ser expostas. A solução do Facebook é abrir a possibilidade de ter miúdos com contas, mas supervisionadas pelos pais. Pelo caminho, Zuckerberg arranja um mercado fabuloso de clientes para os jogos da Zynga e companhia. 

O problema é que o Facebook não é, nem nunca será, uma rede social apropriada para crianças. Se é que alguma rede social pode, algum dia, ser apropriada para crianças. A Comissão Europeia já alertou para o facto de a maioria das redes sociais desenhadas para crianças não fazerem o mínimo esforço para protegerem a sua privacidade. Proteger a privacidade não rende. 

Se uma criança tem os dados geográficos e os gostos privados, que empresas terceiras poderão direccionar-lhe publicidade? O próprio negócio das redes sociais encoraja a baixar a guarda e a partilhar o máximo possível. Não é uma questão de ser purista nem de querer afastar as crianças de algo de que toda a gente fala, tornando-o por isso mais apelativo. 
É exactamente a mesma questão pela qual menores de 16 anos não devem pôr os pés numa discoteca: não é um ambiente apropriado. Podem dizer que os miúdos crescem mais rapidamente agora – o que eu contesto, visto que saem de casa aos 30 e casam aos 35, enquanto os miúdos das gerações anteriores aos 18 já davam com os costados na tropa e aos 21 estavam casados. 


JORNALISTA

IN "DINHEIRO VIVO" 
05/06/12

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