Em lume pouco brando
Não vale a pena esconder a cabeça na areia. O Governo vive o momento político mais difícil desde que nasceu e isso deve-se ao caso Miguel Relvas. As notícias saem a velocidade de auto-estrada, com duas vias no mesmo sentido, no sentido de comprometer o ministro mais poderoso do Executivo. Os dados do telemóvel, da agenda e do computador de Silva Carvalho servem para demonstrar a tese de que o ex-espião actuava à margem da lei e servem agora também para acusar Relvas de ter ligações perigosas.
Quem estiver livre de preconceitos partidários ou mesmo pessoais percebe que sendo tudo isto muito mau para o Governo, é muito mau para o País. Relvas tem nas mãos dossiês muito importantes (Reforma Administrativa e privatização da RTP) e é o coordenador político de um Executivo onde há muitos governantes sem experiência política. O exemplo de gestão política que agora lhes dá não é o melhor. Não é preciso ser especialista para perceber que estas polémicas, alimentadas por fontes bem informadas, não se resolvem com silêncio à espera que a tormenta passe e toda a gente esqueça. O Parlamento é o espaço natural para em Democracia o ministro Miguel Relvas esclarecer o que tem de ser esclarecido, mas a verdade é que os políticos acham que o meio mais eficaz é uma entrevista a um canal de televisão.
É um daqueles casos que a realidade supera a ficção. Silva Carvalho era há um ano, mais coisa menos coisa, um personagem respeitado e elogiado por muito boa gente que agora o vê como alguém que transporta uma má onda contagiosa. Quem com ele se encontrou, falou ou trocou sms fica suspeito de qualquer coisa. O espião cai com estrondo porque está a arrastar muita gente com ele.
O caso Relvas não é um daqueles casos típicos em que um Governo é queimado em lume brando. O lume está no máximo e arrisca deixar o primeiro-ministro esturricado.
Se Relvas não tivesse o peso que tem no Executivo já não estava lá, mas também é por ele ter o peso político que tem que este caso já chamuscou, e muito, o Governo de Pedro Passos Coelho. Alguma coisa vai ter de acontecer. O País precisa de um governo forte, coeso e concentrado na acção. Relvas vai ter de falar. Se for esclarecedor, sai de cabeça erguida, se não for, vai ter de sair.
Na verdade, e uma vez mais descontando os preconceitos partidários ou pessoais, é evidente que este governo precisa de Relvas. É igualmente evidente que a imagem exterior do País é frágil e, por isso, precisamos de um governo forte, mas a verdade é que podemos estar à beira da primeira grande remodelação. Se Relvas sair é certo que não sai sozinho, sairão com ele ministros que não conseguiram deixar a sua marca na pasta que tutelam.
Director da TSF
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
27/05/12
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