14/05/2012

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HOJE NO
"RECORD"

Fátima. 
O ano em que os portugueses
 foram pedir emprego a Nossa Senhora 

Patrícia já nem se lembrava de fazer uma viagem tão grande de carro. Veio de Braga — “sempre com portagens pelo caminho” – para levar a mãe, que fez quase 300 quilómetros a pé até Fátima, de volta para casa. A viagem vai ser o suficiente para desequilibrar as contas da família até ao final do mês. Patrícia tem 30 anos e dois irmãos mais velhos. Ainda nenhum saiu de casa dos pais. “E tão cedo não devemos sair”, diz. É que o pai, com 60 anos, e que trabalhou sempre numa fábrica de explosivos, acabou de perder o emprego. E a mãe, que era dona de uma loja, está desempregada há mais de três anos. “Nenhum de nós tem coragem para abandonar o barco. Agora, todos temos de contribuir para a casa”, conta. Foi a primeira vez que Patrícia, que é caixa num supermercado de uma marca espanhola, veio a Fátima. Ontem, assistiu à missa ao longe, sozinha, enquanto os pais mergulhavam no mar de gente que esteve no santuário. “Foram pedir um emprego a Nossa Senhora”, explica. O caso da família Carvalho, de Famalicão, é ainda mais complexo. João, 53 anos, a mulher e os quatro filhos – dois deles recém-licenciados – estão todos desempregados. “Há mais de 10 anos que aqui vimos, mas este ano é diferente, estamos a atravessar um período mesmo muito complicado. Como nunca estivemos”, garante João Carvalho. E será que Nossa Senhora pode providenciar empregos, arriscamo-nos a perguntar. “Fátima gira em torno de um milagre e encontrar trabalho, nos dias que correm, também é um milagre”, devolve-nos. Entrevista atrás de entrevista, a crise esteve presente em quase todas as conversas que o i manteve com os peregrinos que estiveram em Fátima este fim-de-semana. Nada de histórias transcendentais, pagamentos de milagres ou promessas paranormais. Fátima, no 13 de Maio, pode muito bem ser o espelho do estado de espírito do país. Coincidência ou não, os números das celebrações do fim-de-semana bateram os recordes dos últimos anos. Mais de 300 mil peregrinos e 31 toneladas de velas queimadas. 

No ano passado, a título de comparação, queimaram-se apenas 11 mil quilos de velas – menos 20 toneladas. O próprio administrador do santuário admitiu que o número é “fora do normal”, tendo mesmo ultrapassado os valores registados há dois anos, durante a visita do Papa Bento XVI a Fátima. No entanto, o padre Cristiano Saraiva recusou-se a relacionar o aumento de peregrinos com a crise económica. “Não gostaríamos de fazer essa relação directa entre as coisas”, disse, atribuindo a enchente ao facto de o 13 de Maio ter coincidido, este ano, com um fim-de-semana. 

A “pressão dos mercados” 
Na conferência de imprensa que assinalou o início da peregrinação, o tema da crise também esteve presente, com o bispo de Leiria-Fátima a criticar a pressão dos mercados internacionais. “Não bastam as leis do mercado. Os mercados foram criados para servir a humanidade e não a humanidade para servir os mercados”, disse D. António Marto aos jornalistas. O bispo acrescentou que, num contexto de dificuldades, Fátima é um local e um sinal de esperança. “Transmite confiança na vida e na bondade da vida, no meio da crise que assola o mundo”, disse, recordando que em 1917, “num quadro trágico para a humanidade, brilhou em Fátima um raio de luz”. “Fátima é um oásis espiritual, onde se vem buscar uma outra dimensão para a vida e procurar o mistério do encontro com Deus”, rematou. 

De Roma, com amor 
A peregrinação deste ano foi presidida pelo cardeal italiano D. Gianfranco Ravasi, o responsável máximo do Conselho Pontifício para a Cultura, organismo do Vaticano. Na homilia da noite de sábado, o cardeal italiano debruçou-se sobre a temática do amor de Deus. “Um amor que irradia, penetrando nos caminhos obscuros da história, no subsolo do mal e do vício, no espaço do desespero e do ódio”, disse. Gianfranco Ravasi pediu aos peregrinos que se inspirem neste amor “que supera distâncias e adversidades” e entrem “no horizonte gélido e sombrio do sofrimento dos nossos irmãos, para aí acender a luz e o calor do amor que conforta e salva”. O cardeal terminou a homilia dizendo que é Maria quem convida os cristãos “a acenderem a pequena vela de amor, em vez de pararmos a maldizer a noite do mal e do ódio que invade o mundo”. Já na missa de ontem, Gianfranco Ravasi criticou a sociedade contemporânea – “onde dominam os corpos sem alma” – e recordou as palavras do apóstolo São Paulo, “que nos convida a não nos conformarmos com este mundo, navegando na superfície, à deriva, sem reflectir e interrogar, sem procurar e sem julgar”, acrescentou. O cardeal italiano alertou ainda para a “inconsistência da cultura” actual. O cardeal apelou a que os cristãos ajam perante os mais desfavorecidos, numa “fraternidade operativa”. “Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra: para que servirá ter as mãos limpas, se as temos no bolso?”, questionou. 


 * Foram pedir emprego mas não troxeram nem um. 31 toneladas de velas queimadas uma poluição terrível com um fantástico lucro para a igreja.
- Oh sr. cardeal Ravasi corpos sem alma é normal, anormal são padres com alma pedófila e com cobertura total. 

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