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ESTA SEMANA NA
"SEMANA INFORMÁTICA"
Internet põe tudo a falar entre si
No futuro, máquinas, estradas e até edifícios terão uma presença online, produzindo dados que poderão ser utilizados de formas agora impensáveis. Uma realidade que leva o nome de internet das coisas e que promete chegar a praticamente todos os sectores
O conceito começou a delinear-se há cerca de 15 anos com a ideia das tecnologias machine-to-machine (M2M), um termo que por volta do ano 2000 acabou por degenerar para internet of things (IoT). Neste percurso há tecnologias que tiveram um papel crucial na transformação do conceito numa realidade: a RFID, ou identificação por radiofrequência, e as redes wireless.
A aguardada adopção do protocolo IPv6, com a sua capacidade quase infinita de oferecer endereços a cada um dos itens à face da terra, será um dos grandes catalisadores da internet das coisas.
O conceito está a evoluir muito rapidamente e em breve existirão soluções muito interessantes no mercado, assim acredita João Vilaça. «Neste momento existem já biliões de produtos com tags RFID (independente das tecnologias), e estes estão a criar a base da IoT», refere o director-geral da Creative Systems. «Entre muitas outras, enquadram-se aqui também as coisas que dependem directa e indirectamente da tecnologia near field communication (NFC), e que irão levar ao novo paradigma dos pagamentos móveis.»
Os pagamentos móveis e o controlo de acessos com NFC irão marcar uma primeira fase da evolução do conceito, enquanto uma segunda fase decorrerá em redor do chamado ambient intelligence, considera João Vilaça.
O responsável defende no entanto que há sectores de eleição entre aqueles que irão beneficiar da internet das coisas, e nomeadamente da adopção de soluções RFID, como o retalho têxtil. A logística farmacêutica ou a alimentar, «com toda a legislação inerente e um controlo de qualidade ao longo de toda a cadeia», são também sectores que podem aproveitar as soluções disponíveis «e que poderão melhorar tanto em qualidade como em questões de produtividade».
João Carlos Moutinho, Marketing & RFID Business Unit manager da Zetes, considera que é no sector retalhista que a implementação desta tecnologia terá uma maior visibilidade e mais benefícios. «Associada aos processos logísticos, podemos também utilizar esta tecnologia para melhorar a relação com os clientes, potenciando as vendas e a qualidade do serviço», afirma.
Luís Miguel Santos, responsável pela Comunicação Integrada e pelo Marketing da Link, vê a indústria alimentar e o sector de logística e transportes como os grandes beneficiários do conceito, embora distinga experiências e potencialidades diferentes em cada um deles. «Temos exemplos como a rastreabilidade de bagagens em aeroportos, em que o efeito de rede é uma necessidade para a viabilização do sistema, até sistemas de bilhética multimodal contactless, em que restrições de âmbito contratual limitam as potenciais capacidades de interacção», exemplifica.
O interlocutor da Link considera que actualmente estamos a assistir à consolidação de uma fase introdutória, em que as interacções se limitam em grande medida a uma rede de serviços de rastreabilidade ao longo da cadeia de valor, pautada por experiências de verticalização. «Nesta fase, as observações, embora automáticas, são ainda directas e passivas. Para libertar valor é crucial aumentar a superfície de contacto da rede, o que implica a adopção de modelos que delegam proactividade, inteligência e capacidade de interacção nos próprios objectos», refere.
Portugal na liderança?
Como apontado por vários players, Portugal tem diversos projectos com recurso a RFID e a NFC a decorrer, que poderão ser considerados de vanguarda, nomeadamente na área dos transportes e automóveis, como é o caso da utilização do identificador de matrícula electrónica ou de alguns projectos na área da bilhética.
Mas, quando a internet das coisas for uma realidade massificada, o nosso país estará entre os pioneiros ou na retaguarda em termos de desenvolvimento de produtos e soluções? «Algumas empresas e alguns sectores poderão estar no grupo da frente, e estes certamente darão cartas a nível mundial», acredita João Vilaça, mencionando que já estão a ser desenvolvidos projectos que poderão potenciar algumas empresas neste sentido.
«Existem diversos gestores que têm esta visão [da internet das coisas], e de forma muito clara», afirma o director-geral da Creative Systems, indicando como exemplo o projecto Vicaima, em utilização desde 2007, em que se coloca uma etiqueta RFID em cada porta produzida e vendida e que permite potenciar soluções futuras de internet of things.
A Zetes também já tem implementações feitas em Portugal (e noutros países) em diferentes cenários e segmentos de mercados, desde a indústria ao retalho, passando também pela banca e pelo governo.
«Conseguimos provar que esta tecnologia, bem implementada, leva a ganhos evidentes, com uma grande redução de erros, principalmente em aplicações com movimentação de bens em ambiente controlado», explica o responsável da Zetes.
Em Portugal, a única condicionante poderá ter que ver com a conjuntura económica que atravessamos, porque de resto «a nossa experiência, pelo facto de actuarmos directamente em 15 países e conhecermos a realidade dos mesmos, diz-nos que Portugal é dos países mais inovadores e onde este tipo de soluções é adoptado em fases embrionárias», argumenta João Carlos Moutinho.
Nuno Tavares, da LogicPulse, crê que Portugal se vai classificar a meio da tabela, «não em termos tecnológicos, nem em termos de desenvolvimento aplicacional, mas sim no que toca ao número de implementações efectuadas nas empresas». Temos alguns gestores que vêem e compreendem a necessidade e os benefícios da implementação a longo prazo, salienta o responsável, «mas mais uma vez esbarram no investimento inicial, tendo em conta a situação actual da economia nacional e internacional nestes últimos anos».
Na Indra, a convicção vai no sentido de se manter a tradição. «Por norma, Portugal tem estado no grupo da frente no que respeita à adopção das novas tendências e tecnologias. Os portugueses têm muita adesão a tudo o que é inovação, por isso acredito fortemente que também no caso da IoT não iremos fugir à tradição», afirma João Carlos Ramos, da unidade de Soluções Tecnológicas da Indra, lembrando que algumas das coisas que hoje fazemos já adoptam parcialmente este tipo de tecnologias. O que por vezes se verifica é que ainda não há consciência de que determinada função já está dentro do âmbito da internet das coisas.
* Tecnologia ao serviço do cidadão, tem de ser uma obrigação.
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