29/04/2012

RICARDO REIS


 

Sinais de revolução

 As comemorações do 25 de abril foram parcialmente ensombradas pelas várias personalidades de 1974 que confessaram estar desapontadas com o País. Mais ou menos explicitamente, algumas dessas pessoas pareciam ansiar por uma nova revolução. Estará Portugal à beira de uma mudança de regime? 

 O desempenho dos cientistas sociais na previsão de revoluções é péssimo, para ser generoso. Olhando só para variáveis económicas, não é aparente nos dados que uma grande depressão leve os cidadãos às ruas. Nos anos 1930, alguns países caíram na ditadura, mas muitos outros fortaleceram as suas democracias. Se a Alemanha teve Hitler, a Inglaterra teve Churchill. Se os EUA mantiveram a economia de mercado, a Argentina embarcou em décadas de experiências mal-sucedidas. Por sua vez, a hiperinflação é sem dúvida sinal de um país mal governado e à beira do caos. Mas a explosão dos preços é frequentemente posterior e não anterior à revolução. O desemprego oferece maior promessa, mas a Espanha nos anos 90 é um de muitos contraexemplos de países com desemprego extremo e uma democracia sólida. 

Uma abordagem mais promissora olha para subgrupos da população. A maioria das revoluções tem à cabeça jovens do sexo masculino. A primavera árabe confirmou esta tendência e as comemorações desta semana relembraram os capitães com menos de 40 anos que lideraram a nossa revolução. No entanto, os dados mostram que, por si só, o desemprego masculino jovem não chega para prever uma revolução. Recentemente, surgiu uma versão mais refinada desta hipótese que olha para um grupo ainda mais específico: os rapazes com estudos superiores. Não é totalmente surpreendente que os líderes revolucionários, de Mahatma Gandhi a Che Guevara, venham desta elite. Afinal, é assim com os líderes de quase todos os movimentos sociais. 

Mais interessante é que a condição deste pequeno subgrupo da população pareça ser decisiva no início de uma revolução. Para além da taxa de desemprego entre universitários, são duas as estatísticas que saltam aos olhos nos países da revolução árabe. Primeiro, o pessimismo destes jovens nos inquéritos sobre o futuro próximo do seu país. Segundo, a perceção de que os seus rendimentos e perspetivas estariam a ficar atrás dos rendimentos dos jovens sem estudos. 

Olhando hoje para Portugal, o desemprego entre os mais jovens está a subir e o pessimismo reina. Mas quem acabou a faculdade está em melhor estado do que aqueles que só têm a escolaridade obrigatória, quer no salário quer na probabilidade de arranjar emprego. Hoje é também quem tem mais estudos quem facilmente emigra em busca de novas oportunidades, o oposto do Portugal pré-25 de abril. De acordo com estas novas hipóteses, este grupo-chave da população não está relativamente tão mal que vá começar a pegar nas armas. A atenção destes académicos está antes aqui ao lado, em Espanha, onde desemprego, salário e perspetivas dos licenciados com menos de 35 anos estão prestes a atingir níveis recorde.


 Professor de Economia na Universidade de Columbia, Nova Iorque

 IN "DINHEIRO VIVO" 
28/04/12 

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