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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Bloco central
começa a dar sinais de ruptura
Crispação entre bloco central serenou com ausência de Sócrates, mas já começa a dar sinais de ruptura com o Código do Trabalho, freguesias e regra de ouro.
Em São Bento, de gravata azul e um olhar carregado, José Sócrates, primeiro-ministro, anunciava há um ano atrás o inevitável: "O Governo decidiu hoje dirigir à Comissão Europeia um pedido de assistência financeira". A "culpa" dizia Sócrates, era da oposição, então liderada por Pedro Passos Coelho, que tinha chumbado o PEC IV e obrigado o Governo a demitir-se. Um ano depois, o inquilino de São Bento é esse mesmo Passos Coelho e a doutrina que está obrigado a aplicar na gestão do país é esse memorando de entendimento que Sócrates assinou.
Olhando para trás, será que mudou assim muita coisa a nível político? Os maiores partidos trocaram de posições no Parlamento e a liderança do PS, hoje nas mãos de António José Seguro, tem muito pouco a ver com a de Sócrates. Mas, no essencial, estes dois partidos têm tido muito pouca margem de manobra para inovar ou diferenciar-se.
Seguro está refém do que o seu antecessor assinou no Governo mas tenta centrar a sua agenda na exigência de medidas de crescimento económico que contraponham com a austeridade imposta pela ‘troika'. Já o Governo PSD/CDS está condicionado pela cartilha que veio com a ajuda externa e, embora muitos o acusem de estar a ir mais longe do que o pedido, os temas em destaque na governação não têm fugido muito dos assuntos desse memorando.
"Ambos os partidos hoje dizem que não têm nada a ver com o memorando, mas ele tem sido instrumental e uma espécie de facilitador da actividade governativa", refere o politólogo Pedro Adão e Silva. Já Carlos Jalali assume o "constrangimento" a que os dois partidos estão obrigados, mas lembra que também será o sucesso ou insucesso desse memorando que ditará "o futuro" do bloco central.
O que mudou então, além das caras que ocupam os lugares cimeiros do PSD e PS? Começou por ser a convivência sã entre Seguro e Passos Coelho, em grande contraste com "um nível muito elevado de crispação que antecedeu o pedido de ajuda", lembra Carlos Jalali. Primeiro um acordo para o Orçamento do Estado para 2011 muito difícil de alcançar. Depois, o Dia D do fim da governação de Sócrates, quando a oposição em peso chumbou o PEC IV e obrigou o Governo a demitir-se, o que acabaria por determinar o pedido de ajuda externa uns dias depois.
Mas essa convivência sã entre dois ex-líderes das juventudes partidárias que até eram amigos (Seguro e Passos), rapidamente começa a dar sinais de ruptura. E no último debate quinzenal, Passos já acusou Seguro de estar cada vez mais afastado do "consenso europeu", com o líder do PS a assumir que "nunca os dois partidos estiveram tão afastados ideologicamente".
Até o tal memorando que foi servindo de base para as votações em sintonia entre maioria PSD/CDS e os socialistas começa agora a ser arma de arremesso para as diferenças que os dividem. O PS acusa o PSD de estar a ir mais longe do que se exigia. Os social-democratas respondem dizendo que os socialistas estão a querer fugir das responsabilidades que assumiram e que se traduzem em medidas muito duras para o país.
No interior do PS, a gestão não é muito mais pacífica. A ala socrática do partido exige a Seguro que defenda Sócrates e os seus governos, mas que ao mesmo tempo rejeite leis que traduzem o acordo da ‘troika' que o Governo socialista assinou. No recente congresso do PS um histórico socialista disse ao Diário Económico que "há um certo silêncio no partido, mas que é um silêncio cheio de ruído sobre esses seis anos de governação". Seguro já disse que "a paciência chegou ao fim" e vai dando sinais de que a partir de agora dirá o que pensa.
Veremos como é que tocará a música a partir de agora. O primeiro grande teste ao consenso entre os maiores partidos será a inclusão da regra de ouro na lei portuguesa. Para já, o impasse continua, com Seguro a não dar sinais de cedência no que toca a blindar a lei e o PSD a exigir que isso seja feito.
* O país tem de mudar o sistema eleitoral, o parlamento deve ter deputados que possam responder cabalmente a quem os elegeu e não como hoje acontece, que são funcionários do clube partidário muito próximos do chefe. A actual representatividade no parlamento é partidocrata, a maioria dos portugueses não se revê nela.
Os partidos estão rotos por dentro!
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