30/01/2012

DANIEL AMARAL


Filme de terror


Peguemos no PIB de 2008, quando a crise começou, e projectemo-lo para 2012, à luz das projecções mais recentes do Banco de Portugal. Aquele valor vai cair cerca de 6%.

Razões para o descalabro: o colapso da procura interna, consumo e investimento, com este último a cair a pique. É o resultado das violentas políticas de austeridade que nos impuseram, que ainda se mantêm e que ameaçam destruir-nos. Não há memória de uma recessão assim.

Façamos o mesmo com a área laboral. Em 2008, com uma população activa de 5.625 milhares de pessoas, o desemprego atingia 427 mil, 7,6% do total. Mas, de acordo com as referidas projecções, entre 2008 e 2012 serão destruídos mais 365 mil postos de trabalho, que se juntam aos 427 mil anteriores. E, dependendo da evolução da população activa, a taxa de desemprego será sempre superior a 13%. Não há memória de um cenário tão injusto.

Com a dívida pública passa-se algo de semelhante. Fruto de políticas suicidas que já levam mais de uma década, a dívida pública em 2008 era de €123 mil milhões, quase 72% do PIB, quando o nosso limite não poderia exceder os 60%. Mas, quatro anos volvidos, preparamo-nos agora para atingir os 111% do PIB, algo como €188 mil milhões, uma dívida ingerível e para a qual ninguém vislumbra solução. Não há memória de uma asfixia tão brutal.

Com isto chegamos às respostas do actual Governo. Primeiro, foi a Taxa Social Única: falhou. Depois, foi a meia hora de trabalho a mais: também falhou. E, não desejando correr mais riscos, optou então por um daqueles modelos que todos sabíamos infalíveis: cortou nos salários, aumentou os impostos e absorveu e gastou mais uns fundos de pensões. Como é que no futuro vai pagar aos pensionistas é um tema que não lhe interessa discutir.

Resta-nos falar do último acordo de concertação social, que na óptica dos trabalhadores se pode resumir assim: vão trabalhar mais, receber menos, ter menos direitos e ser mais facilmente despedidos. E como isto acontece num fase de grande subutilização da capacidade produtiva, é óbvio que o desemprego só pode disparar em flecha. Mensagem implícita: afinal, nós não temos produção a menos; o que nós temos são trabalhadores a mais.

Que País é este?

A CRISE EM NÚMEROS

Do colapso do produto...(Variação, 2006=100)    Ao monstro da dívida (Dívida pública, % PIB)

 
Fontes: Eurostat, Banco de Portugal.

Entre 2008 e 2012 o PIB vai cair 6%: é a maior recessão de que há memória em Portugal. Na sua origem está o colapso da procura interna, em especial o investimento, que cai a pique. E o desemprego, que já era arrepiante, vai agravar-se ainda mais. A juntar a tudo isto, vamos a caminho de uma dívida pública de 111% do PIB, quase o dobro do limite máximo, e depois encarar a fúria dos mercados a partir de 2013. Apertem os cintos...


IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
27/01/12

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