30/01/2012



HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"

Financial Times sugere que UE pondere já um segundo pacote de ajuda a Portugal

Multiplicam-se as vozes que apontam Portugal como necessitando de um segundo pacote de resgate. Depois de na semana passada o consultor Mattehw Lynn ter dito que um incumprimento de Portugal destruirá o euro, e de o instituto alemão Kiel ter referido que a dívida de Portugal é insustentável e que o país poderá ter de impor aos credores privados um perdão de 56% da dívida, agora o “Financial Times” vem reforçar a ideia de que Lisboa pode ter de bater novamente à porta da troika. E que, assim sendo, mais vale ser já. Até porque, conforme a História demonstra, agir por antecipação parece ser o melhor remédio.

Na sua edição de hoje, o jornal britânico chama a atenção para a escalada dos juros implícitos da dívida soberana portuguesa, que estão a atingir máximos desde a entrada de Portugal no euro. Nas maturidades mais curtas, as “yields” sobem diariamente. As obrigações a dois anos atingiram hoje juros de 19%, enquanto nos prazos a três e cinco anos superou os 23% e os 21,5%, respectivamente. Já a dívida pública a 10 anos tem juros implícitos de 16,8%.

O facto de os prazos mais curtos terem juros superiores ao prazo a 10 anos significa que existem mais receios de que a Portugal possa entrar em incumprimento.

E são precisamente esses receios que levam o “Financial Times” a sugerir que os líderes europeus se antecipem e pensem já em avançar um segundo pacote de ajuda financeira externa a Portugal.

Tal como tem vindo a ser referido por muitos comentadores, também o jornal britânico reforça a ideia de que a perspectiva de Portugal regressar aos mercados de financiamento em 2013 parece cada vez mais distante. E esta “ansiedade”, sublinha o “FT”, provém grandemente dos cortes de “rating” de que Portugal tem sido alvo.

Notação financeira no "lixo"

Recorde-se que, no passado dia 13 de Janeiro, a Standard & Poor’s cortou a notação da dívida soberana portuguesa para “junk”. Portugal ficou assim no “lixo” aos olhos das três maiores agências mundiais.

A Standard & Poor’s disse que a decisão de corte da notação da dívida pública portuguesa “reflecte aquilo que considera ser o impacto negativo do agravar dos problemas políticos, financeiros e monetários na Zona Euro sobre o percurso - já de si desafiante - de reajustamento de Portugal, bem como sobre as suas altas vulnerabilidades aos riscos financeiros externos”.

Sublinhe-se que o País tinha sido cortado para “lixo” pela Moody’s a 5 de Julho e pela Fitch no passado dia 24 de Novembro. No dia 19 de Outubro, a agência canadiana DBRS também tinha reduzido o “rating” da dívida de longo prazo de Portugal, colocando-a um nível acima de lixo, com perspectivas “negativas”.

“Mas o maior problema é aquele que tem perseguido continuamente Portugal: os receios de que a ausência de crescimento e a fraca competitividade tornem o encargo da dívida – que ascende a mais de 105% do PIB e continua a subir – insustentável”, salienta o jornal.

E prossegue: “A sua economia registou uma contracção de cerca de 2% em 2011, mas espera-se uma descida de mais de 3% este ano. E as metas orçamentais só foram cumpridas devido à transferência dos fundos de pensões, uma medida isolada [e que não se repetirá]. Se não fosse isso, o défice teria atingido os 7% do PIB”.

O “Financial Times” diz, no entanto, que nem tudo há mau. “Há aspectos positivos”, refere. E quais? “As exportações tiveram um bom desempenho durante grande parte do ano passado. E o novo governo revelou-se estável e eficaz, avançando com reformas desesperadamente necessárias, o que agradou aos seus credores”.

Então, o que fazer? “Esta pode, assim, ser uma oportunidade para os líderes da Zona Euro se anteciparem aos acontecimentos. O actual pacote de resgate de Portugal expira em 2013, pelo que a decisão sobre um eventual reforço deve ser tomada este ano. Por que não agir rapidamente e acabar com quaisquer receios de que poderá estar iminente o envolvimento do sector privado no resgate? Com efeito, a rapidez é a melhor forma de limitar os danos de qualquer incêndio”, remata o “FT”.

E a “casa” está, de facto, a arder. De acordo com o instituto Kiel, os investidores estão muito preocupados a possibilidade de um segundo “bailout”, já que isso poderá reduzir a dívida dos credores privados de Portugal para o estatuto de “júnior”, o que implica maiores perdas se o País precisar de proceder a uma reestruturação da dívida.

A dívida sénior, relembre-se, tem prioridade sobre todos os outros tipos de dívida quando chega a hora do reembolso.

Portugal pediu em Abril do ano passado ajuda financeira à troika – Comissão Europeia, BCE e Fundo Monetário Internacional – que lhe foi concedida e que está a ser atribuída em tranches. Do total de 78 mil milhões de euros deste resgate, 12 mil milhões destinam-se à recapitalização da banca.

Hoje começa mais uma cimeira europeia. Uma reunião entre os líderes dos 27 Estados-membros da UE, de onde pouco se espera. Até porque o tão falado pacto orçamental poderá não ficar pronto já hoje.


* A notícia do Financial Times não é inocente, andam a querer lixar-nos. Hoje começa uma cimeira que custa aos cidadãos 10 milhões de euros.

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