HOJE NO
"DESTAK"
10 anos do Euro
Habitantes de aldeias da Guarda ainda
têm dificuldades em manusear moeda única
Dez anos depois da entrada em vigor do euro, os habitantes de muitas localidades da região da Guarda ainda fazem as contas em escudos e têm dificuldades em lidar com a moeda europeia.
"As pessoas mais idosas ainda não se adaptaram e têm problemas com o euro", disse à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro do Jarmelo.
A freguesia abrange as aldeias de Urgueira, Donfins, Ima, Pereira, Granja, Almeidinha, Devesa e Mãe de Mingança (metade), onde residem cerca de 200 pessoas, maioritariamente idosas.
O autarca Hermínio Cabral contou que algumas mulheres da terra "vão ao padeiro ou ao azeiteiro [vendedor ambulante] e dão-lhe a carteira para as mãos para serem eles a retirar a quantia com que fazem o pagamento".
"Verifica-se que as pessoas de idade ainda têm dificuldades em trabalhar com o euro. Por vezes, digo-lhes que um euro representa 200 escudos mas, nem assim conseguem encarreirar com a moeda", admitiu.
Hermínio Cabral relatou ter assistido a situações em que "as pessoas julgam que uma nota de 10 euros equivale a 10 contos de réis [mil escudos]".
Maria José Trindade, 88 anos, moradora na aldeia de Urgueira, onde habitam cerca de 15 pessoas, reconheceu que no dia a dia, o seu pensamento ainda "foge para o escudo" mas nunca teve problemas com a moeda única, embora a adaptação inicial tenha custado "um bocadito".
"Lido com o euro e já não penso no escudo, simplesmente, quando compro qualquer coisa, o pão por exemplo, dou por mim a pensar: paguei 1,50 euros, o que equivale a 300 escudos", disse.
Referiu que outros moradores na povoação, onde o habitante mais novo tem "mais de 30 anos", têm "maior dificuldade" do que ela em lidar com a moeda europeia e ainda raciocinam em escudos.
"Uma senhora, que vai fazer 100 anos em fevereiro, quando me pede para pagar uma missa, dá-me 15 euros e diz sempre: lá vão três contos [três mil escudos]", relatou.
A irmã, Maria Miragaia, 66 anos, lembrou que em 01 de janeiro de 2002, ocorreu "uma transição muito grande", daí que ainda não esteja devidamente adaptada ao euro.
"Quando as quantias são pequenas, faço as contas certas mas, a partir dos 100 euros, faço confusão. E quando ouço falar em mais de mil euros, nem lhe digo nada, não consigo fazer a equivalência a escudos", assumiu.
Contou que os idosos da terra também lhe pedem ajuda "quando tencionam dar dinheiro a alguém, porque associam que 20 euros são 20 escudos e que 50 euros equivalem a 50 escudos".
"Por vezes, dizem que querem ofertar três contos aos netos, e eu digo-lhes para darem uma nota de dez euros e outra de cinco", explicou Maria Miragaia.
Apesar de assumir que a fase mais difícil de adaptação ao euro "já passou", a mulher rejeitou "o regresso ao escudo".
"Regressar ao escudo está fora de hipótese. Seria muito mau para o País", concluiu.
* Interessante, quando já temos milhares de portugueses que nunca tiveram escudos, ainda temos outros que ao fim de dez anos ainda se dão mal com o euro.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário