Querer é poder
Para prender uma mulher, não basta conquistá-la. A grande missão vem depois, e requer artes variadas e combinadas. É preciso ser um ouvinte atento, um bom amante, um razoável cozinheiro, uma óptima companhia e um grande amigo. Se for arrumado, bom rapaz, com bom coração e boa cabeça, então ainda melhor. Mas o mais importante, e que se soma a uma série de atributos cuja natureza e intensidade variam de pessoa para pessoa, é querer agarrar aquela mulher.
Um homem que sabe o que quer ganha sempre a corrida. Ele pode viver noutra cidade, mas se souber fazer-se presente, ganhará pontos. Ele pode ser mais velho ou mais novo, mais alto ou mais baixo, mas se se mostrar sempre feliz e bem-disposto, puxará a sorte para o seu lado.
O que é fundamental é mostrar serviço, dar a cara, vestir a camisola. Um homem que sabe o que quer, espera o tempo que for preciso. Vai marcando o território conforme a mulher vai deixando, sem nunca ser impaciente. Ele insiste, sem nunca ser insistente. Ele persiste sempre, sem nunca desistir, mesmo que se mantenha à margem quando lhe é pedido.
Ele está ali, para o que der e vier, seja o que for que aí vem, porque, em bom rigor, nunca sabemos o que a vida nos traz e nos leva. Pode alternar o estilo caçador, que é o proactivo, com o do pescador, que é o que se senta e espera. Mas ele sabe que estar quieto também pode ser uma acção. E por isso ele sabe esperar, sem desesperar, e sabe ouvir um ‘não’ sem se encolher, e sabe que um ‘talvez’ se pode transformar num ‘sim’, se ele souber fazer bem as coisas.
O oposto do homem que sabe o que quer é o homem que hesita; pondera, analisa os prós e os contras, avança mas não se compromete, até gosta dela, mas acha que aquilo ainda não é bem o que sonhou para ele. Então vai deixando andar, e depois deixa arrastar, e depois até pode deixar cair, porque no fundo nunca chegou a agarrar com unhas e dentes, com o seu corpo e a sua alma, o corpo e a alma daquela mulher.
E depois há ainda a terceira categoria e a mais perigosa, que é uma espécie mutante: tudo começa muito bem, nos primeiros anos todo ele é desvelos, atenções, carinhos e promessas, mas depois deixa-se vencer pelo tempo, pela vida, pela rotina, pelo choro dos miúdos a meio da noite, pelas fraldas e pelo peso das responsabilidades.
O príncipe encantado vai perdendo o seu espírito e as suas feições e, quando se dá por ele, está feito um sapo. Já vi muitos casamentos que se desfazem assim, sufocados numa morte lenta, como uma estátua de pedra que entra em erosão irreversível e quando uma rajada de vento mais forte a apanha desprevenida, se desfaz em pó, cinzas e quase nada.
O homem que sabe o que quer é consistente e decidido. Até pondera, mas no momento certo não hesita. Conquista e depois agarra. E quando sabe agarrar, sabe prender. Não há nada mais sedutor para uma mulher do que saber que há um homem que lhe pertence.
E não há nada mais arrebatador para uma mulher do que entregar-se a um homem. E no fundo, não há nada que a faça mais feliz. Como dizia a Charlotte, a mais romântica das quatro mulheres de Sexo e a Cidade, «in the end we all want to be rescued. Don’t we?». Eu acho que sim. Aliás, não acho. Tenho a certeza.
IN "SOL"
26/07/11
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