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HOJE NO
"OBSERVADOR"
Presidente do Supremo pressionou Orlando Nascimento a renunciar à liderança da Relação
Líder do Supremo Tribunal falou com Orlando Nascimento no dia 26 de fevereiro e foi claro: ou renuncia a líder da Relação de Lisboa ou é suspenso do cargo. Operação Lex já tem 18 arguidos.
Quando a TVI revela a 20 de fevereiro a ‘bomba’ de que Luís Vaz das
Neves, ex-presidente do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL), era
suspeito nos autos da Operação Lex de ter alegadamente viciado vários
sorteios informáticos para favorecer o desembargador Rui Rangel, António
Piçarra, presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e líder da
magistratura judicial, já sabia que se avizinhava uma tempestade que
iria envolver inevitavelmente Orlando Nascimento, sucessor de Vaz das
Neves à frente da Relação de Lisboa.
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Ao que o Observador apurou, Piçarra falou no dia 26 de fevereiro com
Orlando Nascimento para pressioná-lo a apresentar a sua renúncia ao
cargo de presidente do Tribunal da Relação de Lisboa. A reunião do
Conselho Superior da Magistratura (CSM), o órgão de gestão e disciplinar
dos magistrados judiciais, já estava marcada para dia 3 de março e
Piçarra, que lidera o CSM por inerência, já tinha dado ordens para que o
tema das suspeitas da viciação dos sorteios dos juízes no TRL fosse
incluído na agenda. A conclusão da conversa entre António Piçarra e
Orlando Nascimento foi clara: ou renuncia ao cargo de presidente da
Relação de Lisboa ou será suspenso de funções pelo plenário do órgão
disciplinar dos juízes.
Isto é, ainda antes de o Expresso revelar este sábado que Orlando
Nascimento estava a ser investigado na Operação Lex por suspeitas de ter
alegadamente agido em conluio com Vaz das Neves para atribuir a si
próprio um recurso do próprio Rui Rangel contra o jornal Correio da
Manhã, já António Piçarra sabia do que estava a acontecer. E porquê?
Porque o Conselho Superior da Magistratura já tinha recebido informação
do Ministério Público sobre as suspeitas em investigação que envolviam
Luís Vaz das Neves e Orlando Nascimento e determinado a abertura de uma
averiguação disciplinar, em meados de fevereiro.
Apesar de ter sido pressionado na semana passada a renunciar à
liderança da Relação de Lisboa, Orlando Nascimento só o faz esta
terça-feira. Numa carta confidencial enviada durante a manhã para o
presidente do STJ, o desembargador comunicou a António Piçarra que
deitava a ‘toalha ao chão’ e renunciava ao mandato.
Piçarra, que
tinha dado ordens ao seu secretariado para ser informado imediatamente
de qualquer ofício confidencial, foi informado quando estava em viagem
para Lisboa, mas só leu a curta carta de Orlando Nascimento a seguir ao
almoço. De imediato, deu ordens para a emissão de um comunicado em que
anunciou a entrega da “carta de renúncia” de Nascimento ao cargo de
presidente do TRL, enfatizando que se tratava de um “ato que não depende
de qualquer aceitação” e que se “tornou imediatamente eficaz.”
Conselho Superior da Magistratura pode suspender desembargadores
A demissão de Orlando Nascimento acaba por eliminar o dramatismo inerente a uma eventual decisão humilhante de suspender de funções o presidente de um tribunal superior com a importância da Relação de Lisboa. Mas poderá não impedir uma outra decisão: a suspensão de funções de Orlando Nascimento enquanto juiz desembargador, por suspeitas de viciação do sorteio informático do recurso apresentado por Rui Rangel contra a absolvição do “Correio da Manhã” em primeiro instância. Enquanto relator, Nascimento veio a condenar aquele jornal ao pagamento de uma indemnização de 50 mil euros ao seu colega desembargador, mas o Supremo Tribunal de Justiça revogou a decisão.
O mesmo se pode aplicar ao desembargador Rui Gonçalves que, enquanto
relator de um acórdão que está na origem de um dos crimes de corrupção
imputados a Rui Rangel na Operação Lex, poderá igualmente ser alvo de
uma medida disciplinar cautelar. O sorteio informático que levou à
distribuição de um recurso de José Veiga e de outros arguidos do chamado
caso João Vieira Pinto a Rui Gonçalves também terá sido viciado, sendo
que Veiga veio a ser absolvido pela 3.ª Secção Criminal da Relação de
Lisboa da pena de prisão de 4 anos e 6 meses a que tinha sido condenado
em cúmulo jurídico. Nos autos da Operação Lex, José Veiga é suspeito de
ter corrompido Rui Rangel para influenciar esta decisão, recebendo
alegadamente em troca mais de 300 mil euros.
É expectável
igualmente que o CSM anuncie a abertura formal de três inquéritos
disciplinares individuais a Luís Vaz das Neves (que se encontra jubilado
mas que está à mesma sob a alçada disciplinar do Conselho), Orlando
Nascimento e a Rui Gonçalves.
Tudo porque as conclusões
preliminares da auditoria determinada por Joaquim Piçarra em meados de
fevereiro apontam, como o Público revelou
a 1 de março, para a existência de alegadas irregularidades graves na
viciação dos sorteios do recurso de Rui Rangel contra a absolvição do
Correio da Manhã e do recurso de José Veiga.
Presidente interina do TRL pode ficar no cargo mais um ano
Pouco depois de ter emitido o comunicado que revelou a renúncia de
Orlando Nascimento, o CSM anunciou o nome da substituta: Guilhermina
Freitas.
O CSM poderá ainda decidir esta terça-feira se mantém a juíza
desembargadora, que era vice-presidente de Orlando Nascimento, como
presidente interina do TRL durante mais um ano — o tempo que faltava a
Nascimento para completar o mandato — ou se convoca eleições antecipadas
para que os desembargadores da Relação de Lisboa possam eleger um novo
presidente.
Operação Lex já tem 18 arguidos
Note-se que apenas Luis Vaz das Neves é um dos arguidos na Operação
Lex desde o dia 31 de janeiro, sendo que Orlando Nascimento e Rui
Gonçalves apenas foram ouvidos como testemunhas.
Sendo igualmente certo
que o Ministério Público já constituiu 18 arguidos naqueles autos.
Os
factos que implicam Vaz das Neves e os dois restantes desembargadores
deverão ter tratamento diferenciado por parte da procuradora-geral
adjunta Maria José Morgado. Enquanto que o ex-presidente da Relação de
Lisboa deverá ser acusado, estando indiciado dos alegados crimes de
corrupção e de abuso de poder, já os factos que envolvem Orlando
Nascimento e Rui Gonçalves deverão ser alvo de uma certidão no despacho
de encerramento de inquérito da Operação Lex para serem investigados num
inquérito autónomo.
Se deixarmos de lado os factos que implicam
os desembargadores Rui Rangel e Fátima Galante — os principais arguidos
do inquérito —, a Operação Lex só se vai concentrar na viciação dos
sorteios informáticos que terão sido alegadamente decididos por Vaz das
Neves.
Por exemplo, o caso da utilização das instalações do
Tribunal da Relação de Lisboa para um julgamento de arbitragem liderada
por Luís Vaz das Neves por decisão de Orlando Nascimento não deverá
fazer parte da acusação da Operação Lex, sendo que esses factos também
deverão fazer parte de uma certidão para abertura de inquérito autónomo.
* Embora se perceba que as instituições têm orgãos com instrumentos de correcção os portugueses não merecem esta "desbunda" na Justiça, um fartar vilanagem.
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