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#Megxit
"Eu mal
posso esperar para ser rei", cantava Simba, no "Rei Leão" (resolvi
começar com uma citação especialmente erudita). Nessa mesma canção, o
pequeno leão sonhava com os privilégios de monarca: "ninguém diz "já
aqui!" ou "pára com isso!", um rei não tem que ter nenhum chato a
aconselhar". Acredito que seja assim para o rei da selva, quanto mais
não seja porque basta arreganhar os dentes para impor respeito.
Já
na monarquia humana, a coisa é ligeiramente diferente. Se há coisa que
reis, príncipes, até condes e barões têm de fazer é aturar conselheiros,
acatar ordens, seguir regras. Não parece ser tão fascinante como nas
histórias de princesas. Pode até haver algum glamour, mas é tão
aborrecido como a passadeira vermelha dos Oscars: muita gente a olhar,
muitos paparazzi, muitas conversas sem interesse e roupa muito cara. Só
que, em vez de durar uma hora ou duas, se prolonga por uma vida inteira,
o que no caso da rainha Isabel II parece ser uma verdadeira eternidade.
Esta
semana, o Mundo parece ter ficado embasbacado com a decisão do príncipe
Harry e da sua mulher, Meghan Markle, que renunciaram aos deveres
reais. A parte de abdicarem também dos direitos é a que parece espantar
mais as pessoas. Dizem eles que querem tornar-se "financeiramente
independentes" da coroa. Então, vão abdicar de uma fortuna para
construírem outra? Para quê tanto trabalho? O anúncio foi feito nas
redes sociais dos duques de Sussex. É estranho juntar Facebook e títulos
nobiliárquicos na mesma frase, mas são sinais dos tempos, tempos estes
em que até é possível declarar guerra no Twitter. Foi uma semana
difícil, esta. Ainda estávamos a tentar compreender a tensão entre Irão e
EUA, quando surge uma tensão muito maior: entre Harry e a sua
implacável avó.
Acho-a mais assustadora do que Trump. O Canadá que se
cuide, que ao receber o filho mais novo da princesa Diana pode
habilitar-se a retaliações da Grã-Bretanha.
O
casal informou que quer viver entre o Reino Unido e o Canadá, naquilo
que denomina como "equilíbrio geográfico", e a que eu prefiro chamar
"suficientemente longe da chata da avó mas ainda assim em solo da
Commonwealth, não vá o diabo tecê-las". Esta vontade de emigrar indignou
especialmente os cidadãos britânicos (sabemos que eles não gostam muito
de estabelecer relações com outros países, daí o Brexit...). É que
recentemente foram investidos milhões de euros do fundo soberano em
obras na residência oficial de Harry e Meghan, para agora abandonarem os
seus aposentos. Mais vale transformar aquilo num Airbnb... O que sempre
me divertiu nisto das monarquias é que todo o povo acaba a discutir
assuntos (aparentemente) de família, mas que são na verdade pagos pelos
seus impostos: a mesada que o príncipe Carlos dá aos filhos, as obras
que foram feitas em Frogmore Cottage, a segurança dos duques... O
jornalista inglês Piers Morgan apelidou Harry e Meghan como "os dois
pirralhos mais mimados da História", esquecendo Greta, que está em
primeiro lugar, corada por Bolsonaro... Buckingham emitiu um comunicado,
onde se pode ler que as negociações estão numa fase inicial e que se
trata de uma questão complicada que levará tempo a ser resolvida.
Se
o Brexit se arrastou desde 2016, contem com uma decisão a respeito do
futuro de Harry lá para 2026. Por essa altura, já será Cristina Ferreira
a reagir oficialmente em nome dos portugueses, com grande consternação.
Ah, sim, a candidata às presidenciais de 2026 não deixou isso claro,
mas sei de fonte segura que um dos pontos principais no programa de
Cristina é transformar Portugal numa monarquia. Para gáudio de Cláudio
Ramos, que adora os outfits das famílias reais, e desespero de D.
Duarte, que nem a um cargo como trinchante terá direito na 1.ª Dinastia
dos Ferreiras. Para cortar a carne, Cristina levará para a casa real o
chef Olivier.
Voltando ao presente,
apesar da ansiedade que tenho para conhecer este glorioso futuro: é
curioso que tenham chamado a este abandono de Harry e Meghan "Megxit".
Há coisas que são iguais em todo o Mundo: no que toca a deixarem de
ligar à família, os homens são sempre uns fantoches na mão das mulheres.
Seja o escriturário de Fernão Ferro que nunca mais ligou à mãe "porque
um dia ela disse à Sónia que o bacalhau estava salgado e ela levou a
mal", ou um dos membros sénior da família real britânica.
* Humorista
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
12/01/20
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
12/01/20
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