31/01/2020

HELENA PINTO

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A actualidade do pensamento 
de Maria de Lurdes Pintasilgo

A 18 de Janeiro passaram 90 anos sobre o nascimento de Maria de Lurdes Pintasilgo, uma pioneira que marcou a história do Portugal contemporâneo.

A 18 de Janeiro passaram 90 anos sobre o nascimento de Maria de Lurdes Pintasilgo. Já aqui escrevi sobre esta mulher com um percurso singular, uma pioneira que marcou a história do Portugal contemporâneo, infelizmente pouco falada e cuja obra tem ainda tanto para descobrir e estudar.

Tive o privilégio de a conhecer, acompanhei a sua candidatura a Presidente da República, mas como já aqui afirmei, gosto sobretudo de a recordar como pensadora. Embora fosse uma mulher de acção, são múltiplas as suas iniciativas, nunca descurou o pensamento, o aprofundamento das ideias, o debate que daí poderia surgir. Católica e humanista não se fechou em princípios estanques, abriu o pensamento ao futuro.

Maria de Lurdes criou a Fundação “Cuidar o Futuro” que trata de todo o seu espólio e desenvolve várias iniciativas que visam promover a sua obra. “Cuidar o Futuro”, uma expressão tão própria e carregada de significado, de desafios, de responsabilidade…

No passado dia 17 de Janeiro, em Lisboa, foi apresentada uma nova associação – FEM, Feministas em Movimento. Juntou-se a este acto a Fundação “Cuidar o Futuro” e homenageou-se Maria de Lurdes Pintasilgo na passagem dos 90 anos do seu nascimento, numa sala cheia da Casa do Alentejo. E o momento foi muito para além de simbólico, foi compromisso.

Maria de Lurdes nasceu em Abrantes, não estaremos no tempo certo para divulgar a sua obra? A Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo deve fazer algo que recorde esta grande Mulher.

Deixo aqui o texto lido na ocasião:

“Se continuamos a chamar ‘feminismo’ à luta das mulheres hoje, fazemo-lo com a consciência de que se trata de uma etapa totalmente nova. Ao tomarem consciência da discriminação que as atinge, as mulheres verificam que essa discriminação tem que ver com outras formas de violação de direitos humanos nas sociedades, com outras injustiças e opressões. Por isso põem em causa a ideologia dominante que é afinal a racionalidade da exploração, da desordem, do egoísmo e da luta pelo poder.

No conjunto dos direitos humanos revalorizados e conquistados está, em termos individuais, o direito à diferença – direito que justifica, em termos coletivos, o direito à identidade cultural.

O feminismo não é a luta das mulheres contra os homens: é a luta das mulheres pela sua autodeterminação; é o processo de libertação de uma cultura subjugada; é a conquista do espaço social e político onde ser mulher tenha lugar.

Luta, libertação e conquista que significam necessariamente uma maior riqueza para tudo o que é humano.”

Maria de Lourdes Pintassilgo

*Artigo in “reflexão cristã” Boletim do CRC nº 26, jan-março 1981, p 12 – 16 | jan 1981

** Dirigente do Bloco de Esquerda. Vereadora da Câmara de Torres Novas. Animadora social.

IN "ESQUERDA"
26/01/20
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