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HOJE NO
"OBSERVADOR"
Ivo Rosa perde pela 12.ª vez na Relação num caso que envolve a Sonangol
Arquivamento do juiz da Operação Marquês foi revogado pela Relação de Lisboa. Sete arguidos ligados à TAP e à Sonair vão ser julgados por crimes de corrupção, branqueamento e falsificação de documento
O Tribunal da Relação de Lisboa revogou mais uma decisão do juiz Ivo
Rosa. Desta vez, está em causa uma decisão de arquivamento na fase de
instrução criminal no caso que envolve a companhia aérea da Sonangol —
chamada Sonair — e diversos responsáveis da TAP num esquema de
branqueamento de capitais que terá alegadamente beneficiado diversos
responsáveis de topo angolanos.
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O relator Cláudio de Jesus Ximenes e o adjunto Manuel Almeida Cabral não
tiveram dúvidas de que o juiz Ivo Rosa apreciou mal a prova que está
nos autos e pronunciaram os sete arguidos na exata medida da acusação
deduzida pelo Ministério Público no verão de 2017. “Quer os factos de
falsificação, quer os factos de corrupção, quer os factos de
branqueamento não podem ser vistos como se não tivessem a ver
uns com os outros ou como se cada um dos agentes tivesse agido
isoladamente, como fez o tribunal recorrido. A apreciação da
prova recolhida, para se decidir pela existência ou não de indícios
suficientes para a pronúncia, também tem de ser feita dentro desse
quadro geral (…) sem esquecer que os crimes de corrupção e de branqueamento de capitais (…) seguem um processo altamente complexo e sofisticado“, lê-se no acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa a que o Observador teve acesso.
O advogado Miguel Alves Coelho (o alegado cérebro do esquema de
branqueamento de capitais criado) será julgado pelo crime de corrupção
ativa com prejuízo no comércio internacional, branqueamento de capitais e
falsificação de documento, enquanto os seus colegas Ana Paula Ferreira e
João Gomes Ferreira serão julgados pelo ilícito de branqueamento de
capitais. Já os responsáveis da TAP Fernando Jorge Sobral (membro do
conselho de administração até Agosto de 2013), Vítor Pinto, José dos
Santos e Pedro Pedroso foram pronunciados para julgamento pelos crimes
de corrupção passiva e falsificação de documento.
Os
responsáveis angolanos envolvidos no caso não foram acusados pelo
procurador Carlos Casimiro por falta de competência do Ministério
Público português, mas o magistrado enviou para Luanda uma certidão dos
autos através da Procuradoria-Geral da República (PGR) então liderada
por Joana Marques Vidal. Em nome da boa administração da justiça, o
procurador solicitava que o Ministério Público de Angola
investigasse Francisco Lemos Maria, ex-presidente da Sonangol, Fernando
Mateus e Mateus Neto (dois antigos administradores da petrolífera
angolana), Mirco Martins (enteado de Manuel Vicente, ex-vice-Presidente
de Angola e ex-líder da Sonangol) e Zandre Finda, um alegado
testa-de-ferro do general Hélder Vieira Dias, ‘Kopelipa’ (ex-chefe da
Casa Militar do Presidente José Eduardo dos Santos) por suspeitas de
diversos crimes económico-financeiros.
Todos eram titulares de
sociedades offshore que acabaram por alegadamente beneficiar do
esquema de branqueamento de capitais alegadamente criado pelo advogado
Miguel Alves Coelho, segundo noticiou o jornal Público.
Fundos da Sonangol terão servido para comprar imóveis em Lisboa e no Algarve
No
centro deste caso está um contrato de manutenção que a Sonair assinou
com a TAP em 2009. Durante quatro anos, a divisão de manutenção da
companhia aérea portuguesa deveria prestar serviços à companhia aérea da
Sonangol. O problema, segundo a acusação do Ministério Público (MP), é
que a TAP nunca terá prestado nenhum serviço à Sonair mas mesmo assim
recebeu cerca de 25 milhões de euros até junho de 2013, lê-se no acórdão
do Tribunal da Relação de Lisboa a que o Observador teve acesso.
No
meio desta equação está uma consultora chamada World Air que, segundo a
acusação, deveria ter recebido 18 milhões de euros da TAP mas que
também não terá alegadamente prestado serviços efetivos, até porque não
tinha estrutura para tal. Só após buscas realizadas pela Polícia
Judiciária, e após diversas auditorias da TAP, é que a transportadora
aérea portuguesa cessou os pagamentos à World Air, segundo noticiou o
Público. Resumindo e concluindo: a World Air acabou por receber apenas
9,9 milhões dos 18 milhões de euros previstos por serviços que a própria
TAP reconheceu que não tinham sido prestados.
A World Air, por seu lado, terá transferido uma boa parte desses 9,9 milhões de euros para diversas sociedades offshore que
pertencerão aos responsáveis angolanos envolvidos. Mirco Martins,
enteado de Manuel Vicente, e Zandre Finda, alegado testa-de-ferro do
general Kopelipa, receberam fundos através da Halifax Global Corporation
e da Kennex Global, enquanto Francisco Lemos Maria (ex-presidente da
Sonangol) terá recebido uma parte daquele montante através da Corelli
Holdings. Os ex-administradores Fernando Mateus e Mateus Neto são
beneficiários das empresas Cetus Financial e Kalumba Limited, que também
terão entrado no esquema. O mesmo aconteceu com Raul Coimbra,
ex-diretor de infra-estruturas da Sonangol, que detinha a
offshore Wildsea Holdings.
Uma parte destas sociedades offshore
terão utilizado os fundos para adquirirem imóveis em Lisboa e no
Algarve por valores entre os 300 mil e os 1,3 milhões de euros. Em
dezembro de 2018, a PGR de Angola confirmou que tinha pedido a
cooperação judiciária de Portugal para arrestar os bens que foram
adquiridos pelo esquema de branqueamento de capitais do caso Sonair.
Miguel Alves Coelho é encarado pelo Ministério Público como o alegado
cérebro deste esquema, razão pela qual lhe foram imputados os crimes de
corrupção ativa dos responsáveis da TAP envolvidos (Fernando Jorge
Sobral, membro do conselho de administração até Agosto de 2013, Vítor
Pinto, José dos Santos e Pedro Pedroso). Já estes são suspeitos de
corrupção passiva.
Dois colegas de Miguel Coelho, João Correia e
Ana Paula Ferreira, são suspeitos apenas de branqueamento de capitais,
por terem participado na alegada constituição do circuito de
branqueamento de capitais.
* - Sr. dr. Juiz permita-nos uma pergunta respeitosa, sente-se bem?
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