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HOJE NO
"AÇORIANO ORIENTAL"
"AÇORIANO ORIENTAL"
Crianças e jovens assistiram a
.mais de 84 mil casos de violência
.doméstica em oito anos
.mais de 84 mil casos de violência
.doméstica em oito anos
Mais de 84 mil situações de violência doméstica em Portugal foram
presenciadas por crianças ou jovens nos últimos oito anos, revelou o
especialista António Castanho, sublinhando que os números ainda estão
longe da realidade.
“A violência
doméstica interrompe, destrói e tem impacto na vida futura de milhares
de crianças em Portugal”, alertou hoje o especialista que representa o
Ministério da Administração Interna (MAI) em equipas sobre violência
doméstica e na Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das
Crianças e Jovens (CNPDPCJ), durante a cerimónia de abertura do Mês da
Prevenção dos Maus Tratos na Infância, que decorreu em Lisboa por
iniciativa da CNPDPCJ.
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Nos últimos oito
anos “13.133 crianças e jovens foram vítimas de violência doméstica” e
muitas mais assistiram a situações de violência na família, lembrou
António Castanho.
“Entre janeiro de 2010 e
31 de janeiro de 2018, as forças de segurança registaram 84.767
situações de violência doméstica que foram presenciadas por crianças ou
jovens”, revelou o psicólogo clínico e psicoterapeuta, acrescentando que
estas situações representam 37,7% dos casos de violência doméstica.
Para
António Castanho, os números “estão muito aquém da realidade”, uma vez
que registam apenas as situações em que os agentes encontram crianças ou
jovens quando chegam ao local.
Além disso, acrescentou, os dados não incluem ainda os serviços efetuados no ano passado pela GNR.
A
dimensão do problema também foi salientada pela comissária da PSP
Aurora Dantier, que lembrou as queixas de violência doméstica registadas
só no ano passado - 26.439 – para concluir que milhares de crianças e
jovens terão assistido a agressões, tendo em conta a percentagem
apresentada por António Castanho (37,7%).
Quando
há violência doméstica, são raras as crianças que conseguem crescer sem
assistir, sublinhou a socióloga e investigadora Zélia Barroso,
lembrando o estudo em que analisou os casos de violência doméstica que
durante um ano chegaram aos Institutos de Medicina Legal do Porto e de
Coimbra.
Foram 1.066 mulheres vítimas e
“95,3% dos filhos assistiam à violência”, recordou Zélia Barroso,
explicando que as crianças “ouviam ou viam o que se passava em casa”.
Além
disso, “outras 69,4% crianças também sofriam maus tratos, umas
diretamente e outras quando tentavam defender as mães”, contou.
Nas
consultas de pedopsiquiatria de um hospital de Lisboa Zélia Barroso
apercebeu-se da ligação entre os casos de relacionamentos violentos dos
pais e de crianças vitimadas: “72,5% das crianças vítimas de maus tratos
tinham vivenciado violência conjugal e 70% eram vítimas de negligência
combinada com abuso psicológico e físico”, contou.
Foi
precisamente depois de trabalhar um caso de violência doméstica que
António Castanho decidiu dedicar uma atenção especial às crianças: “Em
1994 fui chamado por causa de um caso de violência doméstica e quando lá
cheguei encontrei uma mãe ensanguentada e duas crianças num canto a
chorar. Nunca esqueci o olhar daquelas duas crianças”, contou.
Mas,
“a violência na infância é muito mais do que violência física. É
violência psicológica e é não disponibilizar algo que a criança precisa:
Seja educação, saúde ou atenção, que também são formas de violência”,
sublinhou a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com
Deficiência, Ana Sofia Antunes.
“Não me
parece que a sociedade tenha a perceção de como esta realidade é
avassaladora”, acrescentou por seu turno a procuradora Julieta Monginho,
do Tribunal de Família e Menores Cascais, alertando para o facto de “o
sofrimento emocional provocado pelo mau trato persistir para o resto da
vida”.
Além do trauma da exposição à
violência doméstica, há o problema da transmissão intergeracional, que
está cientificamente estudado.
A
pedopsiquiatra Teresa Goldschmidt, diretora do Serviço de Psiquiatria e
Saúde Mental da Infância e da Adolescência de Pediatria do Hospital de
Santa Maria, lembrou que “pais que foram filhos mal-amados trazem uma
bagagem emocionalmente difícil”.
Um círculo vicioso que todos os especialistas defenderam que é preciso quebrar.
* E Portugal é um país pacífico....
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