.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
02/11/18
.
O mundo maravilhoso
das “notícias falsas”
As pessoas querem acreditar em notícias, não querem perder tempo a confirmá-las. Preferem ser espetadores de uma realidade ampliada e distorcida.
As fake news começam
a ser um lugar-comum e ameaçam tornar-se reais, muito em função da
disseminação pelas redes sociais e muito porque são construídas com
aparência séria, apesar dos objetivos que violentam um dos princípios
fundamentais da vivência em sociedade.
Se o diagnóstico está feito, exige-se ação. Contudo, esta ação é contrariada pelos puristas, em nome da liberdade de expressão. E acrescenta-se que qualquer tentativa de lhe pôr cobro seria um ato de censura. São argumentos, como são os que afirmam o contrário.
Mas enquanto não se encontra a receita, o recurso à construção de factos inexistentes cresce. Porque surgem com um propósito de criar uma convicção, obter um resultado, desconstruir uma situação pondo em causa a realidade.
Lidar com notícias falsas transporta-nos para a forma como as pessoas percecionam a realidade e como entendem que a ficção as leva à dimensão do sonho. As pessoas querem acreditar em notícias.
Não querem perder tempo a confirmá-las. Preferem ser espetadores de uma realidade ampliada e distorcida, de edificação de momentos de estupefação e sonho, de drama e cores fortes. Ninguém prossegue o aborrecimento e o cinzentismo.
O palco principal destas notícias são as redes sociais. A fé nas redes sociais é total, por muito que se desminta. Ali, todos somos jornalistas, repórteres, moralistas, sonhadores, donos do mundo. As redes não têm culpa, afinal não são elas que alinham os conteúdos. Antes pelo contrário, agora até dispõem de algoritmos de controlo e espécies de conselhos editoriais. Mas nas redes os protagonistas somos todos, na dimensão do nosso ego onde se exteriorizam sentimentos, problemas e as verdades de cada um. Embora nestes casos essa verdade pouco tenha a ver com verdade.
Desde que existe imprensa que construímos notícias. Não vivemos sem informação. Mas os códigos de conduta que levaram anos a ser construídos não têm correspondência nas redes sociais. Qualquer atitude de controlo seria considerada censura. E não se pode limitar o acesso à… nossa verdade. Ora, toda a comunicação social criou espaços nas redes sociais – visando chegar aos leitores perdidos, a audiências globais e transversais – contribuindo assim para credibilizar estes meios. A diferença é que, mantendo os seus princípios editoriais, as restantes notícias ali publicadas, não têm qualquer veracidade mensurável.
Confiantes num sistema que não foi construído para ser confiável e, pese os esforços de análise e verificação por controladores das redes, dado que não existe certificação prévia de quem adere às redes, estamos a contribuir para causar este espaço de confusão. Exige-se um mecanismo de controlo e certificação para garantir a qualidade e identificação clara de quem divulga factos suscetíveis de provocar equívocos e enganos propositados. Os órgãos de comunicação social deviam acordar entre si abandonar as redes mantendo a sua comunicação através dos seus meios próprios.
Algo tem de ser feito e urgentemente. Não basta alertar. Importa acabar de vez com estas notícias que baralham, confundem e provocam estragos. Alguns irremediáveis.
Se o diagnóstico está feito, exige-se ação. Contudo, esta ação é contrariada pelos puristas, em nome da liberdade de expressão. E acrescenta-se que qualquer tentativa de lhe pôr cobro seria um ato de censura. São argumentos, como são os que afirmam o contrário.
Mas enquanto não se encontra a receita, o recurso à construção de factos inexistentes cresce. Porque surgem com um propósito de criar uma convicção, obter um resultado, desconstruir uma situação pondo em causa a realidade.
Lidar com notícias falsas transporta-nos para a forma como as pessoas percecionam a realidade e como entendem que a ficção as leva à dimensão do sonho. As pessoas querem acreditar em notícias.
Não querem perder tempo a confirmá-las. Preferem ser espetadores de uma realidade ampliada e distorcida, de edificação de momentos de estupefação e sonho, de drama e cores fortes. Ninguém prossegue o aborrecimento e o cinzentismo.
O palco principal destas notícias são as redes sociais. A fé nas redes sociais é total, por muito que se desminta. Ali, todos somos jornalistas, repórteres, moralistas, sonhadores, donos do mundo. As redes não têm culpa, afinal não são elas que alinham os conteúdos. Antes pelo contrário, agora até dispõem de algoritmos de controlo e espécies de conselhos editoriais. Mas nas redes os protagonistas somos todos, na dimensão do nosso ego onde se exteriorizam sentimentos, problemas e as verdades de cada um. Embora nestes casos essa verdade pouco tenha a ver com verdade.
Desde que existe imprensa que construímos notícias. Não vivemos sem informação. Mas os códigos de conduta que levaram anos a ser construídos não têm correspondência nas redes sociais. Qualquer atitude de controlo seria considerada censura. E não se pode limitar o acesso à… nossa verdade. Ora, toda a comunicação social criou espaços nas redes sociais – visando chegar aos leitores perdidos, a audiências globais e transversais – contribuindo assim para credibilizar estes meios. A diferença é que, mantendo os seus princípios editoriais, as restantes notícias ali publicadas, não têm qualquer veracidade mensurável.
Confiantes num sistema que não foi construído para ser confiável e, pese os esforços de análise e verificação por controladores das redes, dado que não existe certificação prévia de quem adere às redes, estamos a contribuir para causar este espaço de confusão. Exige-se um mecanismo de controlo e certificação para garantir a qualidade e identificação clara de quem divulga factos suscetíveis de provocar equívocos e enganos propositados. Os órgãos de comunicação social deviam acordar entre si abandonar as redes mantendo a sua comunicação através dos seus meios próprios.
Algo tem de ser feito e urgentemente. Não basta alertar. Importa acabar de vez com estas notícias que baralham, confundem e provocam estragos. Alguns irremediáveis.
*Advogado
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
02/11/18
.
Sem comentários:
Enviar um comentário