Filme em Portugal:
emprego para
além da paisagem
A
legislação agora adotada deve ser o princípio de uma estratégia que
tenha como objetivo construir para Portugal a reputação de que se trata
um país ‘film-friendly’.
“Soldado
Milhões”, o filme sobre o soldado Aníbal Augusto Milhais (1895-1970),
estreia esta quinta-feira, no momento em que se comemoram cem anos da
batalha a que os portugueses chamam de La Lys e os franceses 3ème Bataille des Flandres.
O
plano inicial do general alemão Erich Ludendorff tinha como objetivo
(falhado) a tomada de Calais e Boulogne-sur-Mer e a expulsão das tropas
britânicas. Começou por ser concebido como uma grande operação, a
Ofensiva da Primavera, mas foi depois reduzido a uma operação designada
por Georgette, não menos letal. Morreram 400 portugueses e centenas de
milhares de britânicos, alemães e franceses.
Milhais
enfrentou sozinho duas ofensivas alemãs com a sua metralhadora Lewis,
salvou centenas de soldados portugueses e escoceses desarmados, e
sobreviveu. Ficou conhecido como Soldado Milhões.
A
ação do filme decorre em Murça, Trás-os-Montes, e no vale da Ribeira de
La Lys na Flandres francesa, mas o filme foi inteiramente rodado on location em
Portugal. As cenas de guerra foram filmadas no Campo de Tiro de
Alcochete e em Mafra, e Murça, tão diferente de há cem anos, foi
recriada em Arcos de Valdevez e Germil. Foram usados efeitos especiais
nas cenas de guerra.
Embora tratando-se de uma produção cem por cento portuguesa, é importante realçar o facto de a paisagem francesa ter sido recriada em Portugal, num exemplo da grande versatilidade paisagística para filmar on location em Portugal.
Sobre produção on location, escrevi há precisamente dois anos no Diário Económico: “Portugal é pouco conhecido na Europa como destino para produção audiovisual, embora seja comum ver-se no Chiado e noutras zonas históricas equipas estrangeiras de cinema e televisão. E o que é que fica? Turismo. Alguns alugueres de equipamento e pessoal técnico – por vezes nem isso, porque vem tudo de fora –, alojamento, refeições e deslocações. O conhecimento e as actividades mais valiosas não ficam cá. Não existe promoção direccionada e não existem incentivos fiscais, hoje absolutamente essenciais para atrair produção e investimento no cinema e televisão.”
Felizmente, as coisas estão a mudar. O turismo e o cinema decidiram falar a uma só voz. “Soldado Milhões” estreia no momento em que o Governo aprovou o Decreto-Lei n.º 22/2017, de 22 fevereiro, de Incentivo Fiscal à Produção Cinematográfica. Parte do Fundo criado no âmbito da secretaria de Estado do Turismo será administrado pelo ICA, uma instituição sob administração indireta do Estado, cuja missão é apoiar o cinema e o audiovisual (audiovisual é um eufemismo que significa “televisão”).
A legislação “tem por objetivo geral reforçar sustentadamente e numa perspetiva de longo prazo a competitividade de Portugal enquanto local de produção cinematográfica, quer estimulando a atividade dos produtores e coprodutores nacionais, quer atraindo produções estrangeiras de qualidade, que aproveitem da melhor forma o potencial dos recursos nacionais.”
Infelizmente, a concorrência entre países, regiões e cidades na atração de produções é enorme e em crescimento contínuo. Países e regiões concorrem pelo on location, grandes cidades também e ainda por enredos que nelas tenham lugar. Quais são as características de Portugal, as vantagens competitivas que o fazem sobressair, tendo em consideração que o terreno já está bem ocupado por players estabelecidos e que, mesmo esses, têm de lutar muito para conseguir manter a sua posição?
Não bastam incentivos fiscais para atrair produções estrangeiras para filmar on location e, em particular, para conseguir o estabelecimento em Portugal de atividade duradoura que capture mais valor económico e que contribua para a criação sustentada de emprego mais qualificado e duradouro que o emprego temporário criado enquanto duram as filmagens em Portugal.
A legislação agora adotada deve ser considerada como o princípio de uma estratégia que tenha como objetivo construir e conseguir para Portugal a reputação de que se trata um país film-friendly, gostamos que venham cá filmar e até pagamos – os incentivos são investimento (público).
Mas também que se trata de um país film-hub, que dispõe dos recursos humanos e tecnológicos para oferecer serviços de elevado valor acrescentado que transcendem e dão continuidade à fase de filmagem on location – o retorno dos incentivos não ficará apenas na atividade turística gerada pelo on location, mas fluirá também para remunerar o investimento em post-on-location, quase sempre privado. Onde uns constroem um hotel, outros constroem um estúdio e pós-produção state-of-the-art. Todos criam emprego.
“Soldado Milhões”: realização de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa; produção de Pandora Cunha Teles e Pablo Iraola; argumento de Mário Botequilha e Jorge Paixão da Costa.
Embora tratando-se de uma produção cem por cento portuguesa, é importante realçar o facto de a paisagem francesa ter sido recriada em Portugal, num exemplo da grande versatilidade paisagística para filmar on location em Portugal.
Sobre produção on location, escrevi há precisamente dois anos no Diário Económico: “Portugal é pouco conhecido na Europa como destino para produção audiovisual, embora seja comum ver-se no Chiado e noutras zonas históricas equipas estrangeiras de cinema e televisão. E o que é que fica? Turismo. Alguns alugueres de equipamento e pessoal técnico – por vezes nem isso, porque vem tudo de fora –, alojamento, refeições e deslocações. O conhecimento e as actividades mais valiosas não ficam cá. Não existe promoção direccionada e não existem incentivos fiscais, hoje absolutamente essenciais para atrair produção e investimento no cinema e televisão.”
Felizmente, as coisas estão a mudar. O turismo e o cinema decidiram falar a uma só voz. “Soldado Milhões” estreia no momento em que o Governo aprovou o Decreto-Lei n.º 22/2017, de 22 fevereiro, de Incentivo Fiscal à Produção Cinematográfica. Parte do Fundo criado no âmbito da secretaria de Estado do Turismo será administrado pelo ICA, uma instituição sob administração indireta do Estado, cuja missão é apoiar o cinema e o audiovisual (audiovisual é um eufemismo que significa “televisão”).
A legislação “tem por objetivo geral reforçar sustentadamente e numa perspetiva de longo prazo a competitividade de Portugal enquanto local de produção cinematográfica, quer estimulando a atividade dos produtores e coprodutores nacionais, quer atraindo produções estrangeiras de qualidade, que aproveitem da melhor forma o potencial dos recursos nacionais.”
Infelizmente, a concorrência entre países, regiões e cidades na atração de produções é enorme e em crescimento contínuo. Países e regiões concorrem pelo on location, grandes cidades também e ainda por enredos que nelas tenham lugar. Quais são as características de Portugal, as vantagens competitivas que o fazem sobressair, tendo em consideração que o terreno já está bem ocupado por players estabelecidos e que, mesmo esses, têm de lutar muito para conseguir manter a sua posição?
Não bastam incentivos fiscais para atrair produções estrangeiras para filmar on location e, em particular, para conseguir o estabelecimento em Portugal de atividade duradoura que capture mais valor económico e que contribua para a criação sustentada de emprego mais qualificado e duradouro que o emprego temporário criado enquanto duram as filmagens em Portugal.
A legislação agora adotada deve ser considerada como o princípio de uma estratégia que tenha como objetivo construir e conseguir para Portugal a reputação de que se trata um país film-friendly, gostamos que venham cá filmar e até pagamos – os incentivos são investimento (público).
Mas também que se trata de um país film-hub, que dispõe dos recursos humanos e tecnológicos para oferecer serviços de elevado valor acrescentado que transcendem e dão continuidade à fase de filmagem on location – o retorno dos incentivos não ficará apenas na atividade turística gerada pelo on location, mas fluirá também para remunerar o investimento em post-on-location, quase sempre privado. Onde uns constroem um hotel, outros constroem um estúdio e pós-produção state-of-the-art. Todos criam emprego.
“Soldado Milhões”: realização de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa; produção de Pandora Cunha Teles e Pablo Iraola; argumento de Mário Botequilha e Jorge Paixão da Costa.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
11/04/18
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