15/02/2018

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HOJE  NO
"CORREIO DA MANHÃ"
Ministério Público pede 25 anos
 de prisão para Pedro Dias

Arguido é acusado de três homicídios consumados e outros três na forma tentada.

Pedro Dias, o homicida de Aguiar da Beira, está esta quinta-feira a ser julgado no Tribunal da Guarda. O arguido falou pela primeira vez em tribunal, quase três meses e meio após o arranque do julgamento .

No arranque da sessão o juiz pediu às famílias das vítimas presentes para terem calma, sublinhando que não serão admitidas perturbações do julgamento.

O homicida de Aguiar da Beira, acusado de três homicídios consumados e outros três na forma tentada, confessou que matou o militar Carlos Caetano mas afirma que não o queria fazer. Pedro Dias diz que atirou para se defender por estar a ser agredido pelos militares. "Puxei da minha arma. Virei-me para trás e atirei", explicou.
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Pedro Dias afirma ainda que quem matou Luís e Liliane Pinto foi o militar da GNR António Ferreira. Diz que só disparou sobre este por medo. Ao longo do testemunho, o arguido conta os pormenores da fuga. Descreve que não bateu em Lídia da Conceição e que esta se feriu sozinha.

O Ministério Público afirma que Pedro Dias não mostra arrependimento. Pede 25 anos de pena para o arguido.

Ministério Público diz que versão de Pedro Dias é "incoerente e inconsistente" 
Começam as alegações do procurador do Ministério Publico depois de Pedro Dias dar o seu testemunho. "Esta versão é incoerente e inconsistente", afirma. "A versão do arguido esta em contradição com aquilo que foi relatado pelo guarda Ferreira, cujo testemunho esta fundamentado por provas. As declarações do arguido não põem em causa a prova produzida. Arguido não mostrou nem arrependimento nem respeito pelos familiares das vítimas", continua.

"Quero deixar bem claro que as declarações de Ferreira são claras e têm credibilidade. Desde logo as razões para que a patrulha passasse naquele local. Os dados do GPS do carro patrulha mostram que andam às voltas. Conjugando com os telemóveis sabemos que o carro permaneceu desde as 2h36 até às 2h56. Só às 5h00 é que as comunicações voltaram. Permaneceu no local onde foi morto o Caetano. O primeiro telefonema deste militar foi às 2h49 para a GNR. O segundo foi às 2h53. Está tudo em linha com o que disse Ferreira. Às 2h54 houve outro telefonema do Caetano", diz ainda o procurador.

"Não faz sentido que tenha sido a GNR a inventar matrículas. Escuso-me de dar explicações ou fazer comentários. Obviamente o arguido tratou de tirar o corpo do Caetano para fazer crer que a morte tinha ocorrido noutro local".

"Pedro Dias engendrou um plano para afastar as suspeitas de si" 
Ministério Público
O Ministério Público continua:"O arguido conduziu o carro patrulha por caminho de terra na Serra da Lapa. O carro imobilizou-se depois de embater numa pedra. O arguido arrancou a pega do carro onde António Ferreira estava algemado, ordenou-lhe que saísse do carro e abraçasse um pinheiro ali perto. Ao faze-lo, o arguido disferiu-lhe um disparo na face. As provas físicas confirmam esta descrição relatada pelo Guarda Ferreira."

 "O Guarda Ferreira conseguiu recuperar sentidos, pedir ajuda, e indicar o sitio onde tinha sido alvejado e onde estava o carro patrulha com o corpo de Carlos Caetano. O que se veio a confirmar instantes mais tarde. Depois de realizar as manobras necessárias e desfazer-se dos dois militares, o arguido teve necessidade de se deslocar ao local onde tinha começado tudo para recuperar a carrinha", continua o MP.


"O Luís e a Liliane terão sido abordados pelas 6h25 de acordo com imagens da estação de serviço da Quinta das Lameiras, por onde o casal passou minutos antes. O relatório balístico confirma que Luís e Liliane foram baleados pela arma de Carlos Caetano, que já tinha sido morto. A mesma arma que estava na posse do arguido e que foi abandonada na Serra da Freita. Quando o casal foi abordado, Carlos Caetano já estava morto na mala do carro e António Ferreira já tinha sido baleado na Serra da Lapa junto ao pinheiro.

"As provas mostram que Luís Pinto foi baleado na berma da estrada. O facto de terem sido encontrados dois invólucros junto aos corpos e de Luís ter sido baleado na berma da estrada levam a concluir que Liliane foi baleada no local onde os corpos foram encontrados no meio do mato O arguido depois usou o carro do casal abatido para seguir até às termas da Cavaca para recuperar a sua própria viatura que posteriormente trocou com o auxilio da Ana Cristina", continua.

"De resto, Ana Cristina disse que o arguido estava calmo, não apresentava ferimento algum e não referiu nenhuma situação com os militares. Quando contactado pela GNR, pelo cabo Marques, agiu calmamente e apresentou uma versão alternativa que tinha criado durante a noite. Confirmou que tinha sido fiscalizado mas que depois cada um seguiu a sua vida. Se ele não quisesse encobrir os crimes tinha contado o que se passou ao cabo Marques, com quem até tinha boas relações. Mas não fez isso. Quis encobrir os crimes e despistar as autoridades. A versão do arguido é fantasiosa".

 "O arguido engendrou um plano para afastar as suspeitas de si. Disparou sobre António Ferreira com intenção de matar. Tentou ocultar vestígios, usou luvas. Tudo para tentar não deixar vestígios", continua o MP.


"O arguido deve ser condenado a pena máxima de 25 anos de prisão"
 Ministério Público
Quanto ao que aconteceu em Moldes, o Ministério Público avança: "a testemunha António Duarte afirmou que antes de entrar em casa a Dona Lídia não tinha ferimentos e quando ele próprio entrou em casa, minutos depois, ela já estava bastante ferida. A D.Lídia não pode dar hoje o seu testemunho mas relatou que Pedro Dias lhe bateu diversas vezes com a cabeça no chão. As provas físicas mostram isso mesmo".

 O Ministério Público pede que Pedro Dias seja condenado por três homicídios qualificados na forma consumada, pelo crime de homicídio qualificado na forma tentada (António Ferreira), ofensa à integridade física qualificada (Lídia), sequestro (António Ferreira, António Duarte e Lídia), roubo e posse de arma proibida.

"[Pedro Dias] foi contra a vida destas pessoas por motivos mesquinhos" 
Ministério Público
"As lesões que António Ferreira sofreu não lhe permitem retomar a vida que tinha. Os atos foram muito graves.", diz a procuradora algo emocionada.

"A morte de um ser humano é sempre uma tragédia. Mas neste caso, pelo número de vítimas e pelas próprias vítimas, todas bastante jovens, a tragédia foi ainda maior. O arguido foi contra a vida destas pessoas por motivos mesquinhos e de forma desproporcional. Luis e Liliane foram mortos apenas porque o arguido precisava do carro para continuar a fuga. Passados mais de 14 meses o arguido não revela arrependimento e mais uma vez tenta engendrar um plano para se furtar à responsabilidade dos seus atos. Sendo uma pessoa de posses nada fez para ajudar aqueles a quem tirou os filhos, tudo o que tinham.", acrescenta o Ministério Público.

"O arguido deve ser condenado a pena máxima de 25 anos de prisão", afirma o MP.

Pedro Proença dirige mensagem de coragem às famílias 
Pedro Proença, advogado das vítimas, dirige mensagem de coragem aos familiares das vítimas. "Subscrevo na integra as alegações da procuradora. É uma infâmia aquilo que o arguido fez. Fez mais duas tentativas de homicídio. Homicídio de carácter aos guardas Caetano e Ferreira. O arguido disse ao militar Ferreira durante o dia da tragédia 'andas a fazer de mim burro?'. Só por respeito ao tribunal não pergunto ao arguido se também anda a fazer de nós burros", diz Pedro Proença.

"A versão do arguido é implausível e não tem lógica" 
Pedro Dias
"O arguido nunca contou esta versão a ninguém em nenhuma fase do processo. Nem às pessoas mais próximas. Se o que foi aqui relatado pelo arguido fosse verosímil, teria sido usado em parte, pelo menos, pela sua defesa antes de chegarmos a este ponto", acrescenta o advogado.
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Proença não esconde a sua indignação. "É de muito mau gosto ouvir o arguido falar nas hérnias nas costas e queixar-se do desconforto que sente no Tribunal e no transporte por causa das hérnias, e que já ficou ficou paralisado por causa das hérnias e depois dizer que atravessou montes e vales numa moto 125", afirma, questionando se é "possível um homem que sofre dos problemas que sofre e que diz que é agredido da forma que diz ter sido, ande horas depois no LIDL sem qualquer problema aparente?".

"Com os problemas de saúde que diz ter, não teria condições físicas para fazer tudo o que fez, como depois de deixar o guarda Ferreira escapar, voltar a apanha-lo, não conseguia arrastar o corpo de Liliane pelo mato. Também não tinha condições para andar um mês fugido no meio do mato. A versão do arguido é implausível e não tem lógica", continua.

"Cronologicamente a versão do arguido não faz sentido. Porque é impossível que o guarda Ferreira tenha sido baleado depois do casal Liliane e Luís Pinto, como o arguido contou. As declarações do arguido denotam falta de arrependimento. E é forçada a forma como o arguido diz ter pena das vítimas. Não pediu desculpas mas disse ter pena", acrescentou o advogado.

"O arguido passou 90% do julgamento a tirar apontamentos. Mesmo durante os testemunhos mais emocionantes. Tem um perfil que revela incapacidade de estabelecer empatia e extremamente calculista", refere Pedro Proença adiantando que o comportamento de Pedro Dias é "padronizado" pois o homicida atingiu "as três vítimas mortais na face e à queima-roupa".

Pedro Proença fala ainda de outras contradições do arguido. "Diz que tentou que não acontecesse nada a terceiros, mas também diz que usou a vítima Luís como escudo humano", refere o advogado.

"Não há qualquer razão para o casal ter parado na berma atrás do carro da GNR. Não havia qualquer emergência, Não é plausivel a história do arguido", diz Proença, acrescentando que "a morte do casal foi parte de uma estratégia fria e cruel para arranjar um carro para voltar ao local inicial".

Já no final da audiência o advogado das vítimas disse que "a pena máxima não vai ser suficiente para este arguido interiorizar o mal que fez. Deve ser condenado a pena máxima por todos os crimes que está acusado".

Pedro Dias descreve momento em que mata o GNR Caetano 
"O problema do sono tinha-se agravado. As batalhas com a ex-mulher tornaram-me pouco tranquilo", diz.

"O ano de 2016 foi um ano de muitas coisas com fim positivo. Não fui ao hospital tratar do problema do sono. Como estava a ter aulas para piloto não podia tomar alguns medicamentos. No dia em que soube que ficava com a guarda da minha filha soube que o meu filho de quatro meses ia ser operado ao coração", afirmou.

"Estamos cara a cara. O objetivo não era matar" 
Pedro Dias
O arguido começa a falar sobre a arma. "Comprei a arma em frente à câmara de Leiria. Circulava um senhor do Norte que vendia CD's pirata e um dia disse-me que tinha uma arma. Dei-lhe 50 euros. Fui fiscalizado várias vezes pela GNR mas nunca houve qualquer problema. Não tenho dúvidas que houve insistência a mais do que as outras vezes", afirma Pedro Dias sobre a madrugada dos crimes.

"Não sei o que eles falaram ao telefone. O Caetano mudou o comportamento depois de falar ao telefone. Começou a tratar-me por tu. Chamou-me 'pilha galinhas, andas a roubar'. Deu-me com as algemas na mão. Na África do Sul fui assaltado três vezes. Nunca fui tão agredido como fui naquele dia. Quando levei um murro com as algemas, cai. Mas não cai completamente. Tenho a arma ao meu alcance. Levantei-me com medo e com a arma. Estamos cara a cara, quase. Nem deu tempo de pensar. O objetivo não era matar. Era parar aquilo. Queria deixar de ter medo dele e que ele tivesse medo de mim", descreve o arguido.

"Tinha a guarda da minha vida, tinha 21 queixas da minha ex-mulher. Apetecia-me ter desligado um botão, que aquilo não estivesse a acontecer", diz Pedro Dias.

Arguido diz que militar Ferreira tinha um plano para o ajudar 
"Quando o Sr.Luís veio para trás de nós veio pelo meu lado, do pendura, e o Guarda Ferreira aproveitou para sair do lado do condutor. Eu tentei sair mas o Sr.Luís, que não sabia o que se estava a passar, até me atrapalhou. O Guarda Ferreira conseguiu abrir a porta de trás, do lado do condutor, e agarrou uma das armas que estava pousada atrás", conta Pedro Dias.

 "Eu sabia que estava identificado por mais pessoas que não apenas aqueles dois guardas, porque eles tinham pedido informações aos colegas. Eu questionei o guarda Ferreira sobre o porquê de me estarem a fazer aquilo. Ele disse que me ajudava e tirou várias matriculas de viaturas para pedir informações sobre elas e despistar as autoridades e me dar tempo para fugir", diz.

"É óbvio que se eu pudesse evitar isto, teria evitado" 
Pedro Dias
"Na Serra de Freita fui mandado parar por um militar da GNR mas ao ouvir um tiro disparado para o ar tive medo e acelerei. Participei como auxiliar em missões de socorro a náufragos na Força Aérea. Tinham estima por mim", afirma.

"A sargento Pina, na última conversa que tive ao telefone, não me acusou de nada. Disse apenas que queria falar comigo e que era um assunto do meu interesse. Fui eu que desliguei a chamada. Em Moldes a senhora Lídia estava alterada, mas o Sr.António gritou mais com ela para se acalmar que eu. Meti-lhe a almofada debaixo da cabeça para que ficasse confortável".

"Já arranjei problemas à vizinha da minha família e à Sra. Cristina Laurentino. Não quero identificar o senhor que queria contactar quando estava em Moldes porque não o consegui fazer e porque não quero envolver mais ninguém", afirma.

A advogada Mónica Quintela termina o inquérito. Pedro Dias diz: "Compreendo a dor das pessoas. É óbvio que se eu pudesse evitar isto eu teria evitado". "Quando ouvi na rádio que havia pessoas mortas na manhã seguinte, só pensei em entregar-me em segurança", continuou.

Julgamento recomeça com perguntas do Ministério Público 
O julgamento de Pedro Dias recomeçou por volta das 15h20. O Ministério Público começa por fazer perguntas ao arguido: "Qual foi a arma que utilizou na casa de Moldes?".

 Pedro Dias responde que usou a arma 7,65 mm. Após ser questionado sobre Lídia, o arguido diz que as lesões da mulher foram provocadas na queda que deu sozinha.

A versão de Pedro Dias sobre o banho de sangue em Aguiar da Beira 
O arguido relata a sua versão dos acontecimentos de Aguiar da Beira. Eis a sua versão dos crimes em que morreram três pessoas, em outubro de 2016: "Parei num local ermo às 23h30. Vinha com sono, estava cansado, ia tendo um despiste e parei. Não parei na localidade [de Aguiar da Beira] porque as pessoas são desconfiadas à noite e por isso escolhi um local ermo". "Ainda pensei ir até Sátão para levar a minha filha à escola de manhã, mas estava muito cansado", refere.

"O dia mais negro da história da minha vida não está esquecido"
 Pedro Dias
Pedro Dias explica que tinha uma arma e revela a razão: "Tinha no carro uma arma, mas não tinha mais nada. Não sei quantas munições levava. Tinha uma arma de 7,65 mm. Tivemos problemas com cães selvagens na zona, por isso é que eu andava armado".

"Na quinta, tinha armas de pressão de ar. Em julho de 2016, comprei a arma de 7,65mm".

Sobre a sua atividade, Pedro Dias explicou-se em tribunal: "Criava animais, dedicava-me à agricultura e era estudante de aeronáutica". "Fiz a parte teórica do curso de piloto na África do Sul. Não acabei", diz.

O arguido perde-se no discurso. "Estou há 420 dias em Monsanto, às vezes perco-me no raciocínio". Mas tem tudo guardado na memória. "O dia mais negro da história da minha vida não está esquecido. Naquele dia lembro-me de falar com a minha mulher. Ela tinha acabado de dar leite ao meu filho".

Pedro Dias confessa que matou o militar Caetano 
"A noite estava fria, com muito nevoeiro. Não senti nenhum carro chegar ao pé de mim. Quando acordo tenho uma pessoa a meter a lanterna na cara. Estava deitado e tive a perceção que eram dois GNR. Deixei cair a manta que me estava a tapar. Nesse instante o agente do lado esquerdo manda-me sair. Ele volta a perguntar o que estava a fazer. Disse que tinha problemas de sono", explica. O GNR insistiu e perguntou o que estava Pedro Dias a fazer naquele local, ao qual ele respondeu que era um sítio suspeito.

"Eu fui buscar os documentos e vi um segundo militar a colocar a pistola no coldre", conta Pedro Dias. "Tirei a carta e no chão tinha lixo das refeições. Não gosto de deitar o lixo para a rua", acrescenta. "Olharam para as traseiras e disseram que parecia que eu vivia na carrinha", explica em relação aos militares.

"O meu objetivo era assustar com a arma, mas a arma disparou"
 Pedro Dias
"Mandaram-me ir ao carro da GNR. Tenho ideia que foi o Caetano que tomou conta dos meus dados pessoais. Entreguei os meus documentos. Viram o bilhete de identidade e ligaram para o posto onde perguntaram se eu tinha processos pendentes. Fizeram este contacto no rádio da GNR. Do outro lado responderam que o veículo tinha outro nome de proprietário. Fiquei surpreso. O carro era de uma amiga minha e pensei que estava em nome da empresa", explica.

"Expliquei que até tinha levado a carrinha à inspeção. Não sabia que tinham mudado de documentos. Nessa altura comunicam com outro posto da GNR, também por rádio", diz Pedro.

"O senhor Ferreira ficou a falar ao rádio e o Caetano levou-me até a minha carrinha. Voltou a perguntar o que estava ali a fazer num sitio tão esquisito", conta. "Não estou a fazer mal a ninguém, disse-lhes. E ele começou a mexer nas minhas coisas".

 Pedro Dias afirma que Caetano começou a mexer na porta do passageiro da carrinha. "Tinha mochilas com roupa. Disse a rir que eu devia viver na carrinha e eu disse que não. Tinha dossiers com documentos e ele abriu, viu as fotos do meu filho", diz.

"Voltamos a aproximar-nos do Ferreira. Voltaram a falar e o Ferreira foi fazer um telefonema afastado. O Caetano voltou a insistir nas mesmas perguntas. O que é que eu estava ali a fazer. O senhor Ferreira aproximou-se e trocam de posição. Vai a traseira da carrinha e volta a abrir os sacos."

"Disse-lhe que a única coisa ilegal que tinha era um gerrican com gasóleo. Ele viu que era gasóleo. Perguntou-me quantos cavalos é que eu tinha e eu achei estranho porque ele não me conhecia. Uma pergunta que me fizeram no inicio foi se eu era o Rui, nunca percebi o porquê", acrescentou.

"Mataste o meu colega" 
Militar da GNR António Ferreira
"Perguntou porque é que eu tinha mangueiras. Disse-lhe que com um funil perde-se gasóleo. Entretanto o Caetano sai da obra do hotel e chama o Ferreira. Falam em qualquer coisa e o Caetano vem com algemas. Eu estava calmo. Dei um passo atrás e disse magoou-me. Deu-me um empurrão.", conta. "Afinal estás aqui a roubar-me", disse-me ele.

 "Deu-me um pontapé na perna esquerda e chamou-me 'pilha galinhas'. Deu-me um murro no rim e fiquei assustado. Os senhores GNR eram maiores que eu. Tive medo. O Ferreira disse-me para ter calma. Eu só estava a proteger-me. Disse que estava por bem. Deu-me mais dois murros no rim. E eu disse-lhe que ia fazer queixa ao meu advogado. E deu-me maus um murro com as algemas na cara e eu cai. Fiquei no chão. Senti uma dor lancinante", explica Pedro Dias.

"Levei mais um murro e pontapés. Já estou caído e levo mais uma joelhada e pensei tenho de parar aqui. Puxei da minha arma. E viro-me para trás e atirei", confessa Pedro Dias.

Homicida diz que só queria assustar militares 
"O meu objetivo era assustar com a arma, mas a arma disparou. O meu objetivo não era matar. Depois apontei a arma ao senhor Ferreira e disse-lhe: está quieto", explica o homicida de Aguiar da Beira.

"Disse ao senhor Ferreira para levantar os braços. Não tive noção que o Caetano tinha morrido. Bati-lhe na bota e disse: «Deixa-te disso e levanta-te». Foi quando o Ferreira disse: «Mataste o meu colega», relata Pedro Dias.

"A minha cabeça estava uma confusão e eu só queria ir dali para fora. Disse ao Ferreira para entrar no lugar do condutor sempre a apontar-me a arma. Não me lembro do que lhe disse, nem sei se lhe disse para ir a algum local especifico. Disse-lhe para andar em frente. O Ferreira disse-me para me ir embora e que resolvia a situação. Disse-me para não o matar e que havia de resolver a situação", conta.

Pedro Dias levou Guarda Caetano na mala do carro 
"Andei com o guarda Ferreira no carro durante muito tempo sem direção. Ao fim de algum tempo decidi voltar ao Hotel da Cavaca porque o corpo do Caetano ainda lá estava no chão. Tentei apanhar a pulsação do Caetano, mas já não existia. Já estava com uma cor muito amarela. O Ferreira ajoelhou-se ao pé do corpo. Chamou por ele e disse: 'O meu colega está morto'", recorda Pedro Dias.

"Disse ao Ferreira para meter o corpo do Caetano na bagageira do carro-patrulha. Ele não o queria fazer. Antes tinha-lhe pedido para retirar o colar dele e do Caetano, sempre a apontar-lhe a arma. Estava de cabeça perdida. Confuso. Não sabia o que fazer", refere.

Pedro Dias confessou sentir muito medo naqueles momentos. "Eu estava sempre de olho no Ferreira. De cada vez que ele fazia um movimento eu avisava-o: 'Vê lá o que fazes'", recorda. Em seguida, o homicida de Aguiar do Beira diz ter colocado os colares e as armas dentro do carro do GNR, para onde voltou a entrar novamente com o Guarda Ferreira. "A minha ideia era sair dali para fora. A confusão na minha cabeça era enorme. Eu só pensava que se o deixasse ali era a palavra dele contra a minha, eu não estava a pensar bem", diz.

 "Lembro-me de dizer ao Ferreira: 'Vocês estragaram-me a vida toda. Porque é que o fizeram?'", refere. "Dizia-lhe para andar para a frente. A minha ideia era ir para um local onde tinha deixado uma mota. Estava nevoeiro. À chegada vejo um núcleo de casas afastadas do alcatrão. Sabia que a mota estava ali. Não era fácil encontra-la porque estava escuro. Voltamos para a estrada. O Ferreira disse que arranjava um cigano qualquer para culpar", conta.

Pedro Dias acusa militar da GNR de matar Luís Pinto e disparar sobre Liliane 
"Eu disse-lhe: 'Estás a fazer de mim burro'. E continuamos a andar sem saber para onde. Não tenho noção por onde andamos. Voltamos a passar depois em Aguiar da Beira. Entramos em direção a Sátão. Fizemos quilómetros e disse-lhe para voltar para trás. Eu queria afastar-me. Acabar com tudo. Ia entregar-me", disse.

"Disse-lhe: 'Senhor Guarda faça inversão de marcha'. Lembro-me de um carro parar atrás de nós. Fez sinal de luzes. Sai alguém do lado do condutor. Disse ao Ferreira: 'vê o que vais dizer'".

"O Guarda Ferreira é que disparou sobre a senhora e o senhor" 
Pedro Dias
O condutor do carro dirigiu-se ao lado de Pedro Dias. O Ferreira sai do carro. "Eu saio para fora do carro e quando olho o senhor Ferreira está a dar um tiro. Tentei que o senhor [condutor do outro veículo] fugisse. Ouço outro disparo. Disse-lhe: 'a senhora fuja'", conta.

"E ouço dois ou três disparos", conta. "Encostei-lhe a pistola a cabeça e disse: 'ou atiras a pistola ao chão ou mato-te'", descreve Pedro. "O Ferreira é que disparou sobre a senhora e o senhor. Quando cheguei perto dela vi que não se mexia. E que o senhor estava caído ao lado do carro. Ele [Luís] estava caído na lateral do carro e tinha sangue na cara. Não pensei em ajudar. Não pensei em nada. Só queria imobilizar o guarda Ferreira', diz.

"Obriguei-o a ir à minha frente. Fui dentro do carro e tirei as algemas e obriguei-o a algemar-se ao puxador do carro, no assento do passageiro. Eu fui para o lugar do condutor e arranquei dali. Ainda era noite e estava muito nevoeiro mas estava a amanhecer. Só pensava em como havia de desaparecer", conta Pedro Dias.

 "Conduzi até um sitio isolado onde tínhamos já estado parados. Tirei outras algemas do carro e disse-lhe para se algemar a um pinheiro à beira daquele caminho. A minha ideia era deixa-lo ali para ter tempo para fugir. Disse-lhe que alguém o havia de encontrar."

Homicida afirma ter disparado contra Ferreira
 Pedro Dias diz ter ficado mais descansado depois de o ver algemado e afirma que o militar o agrediu. "Mas não sei como, ele atirou-se a mim e eu disparei. Perdi todas as forças. Achei que o tinha matado e pensei em dar eu um próprio tiro na cabeça. Mais uma vez, eu só queria sair dali e afastar-me o mais possível. Voltei a pegar no carro patrulho e regressei ao local onde o casal estava caído", descreve.

"Meti o carro patrulha num caminho de terra e fui ver como estava a senhora. Ela estava muito fria e não senti pulsação. O senhor também não tinha pulso. Acabei por arrastar o corpo do senhor para ao pé da senhora", diz.

"Não dei tiro nenhum na presença dos civis. Eu protegi-me atrás do homem [Luis] quando o guarda Ferreira disparou a primeira vez. Depois empurrei o homem na direção do guarda quando este estava a dois metros de mim e ouvi outro tiro. Eu fugi e tenho ideia de ter ouvido mais dois ou três disparos. O casal foi atingido por disparos acidentais do guarda Ferreira quando disparava na minha direção. Não vi porque estava a fugir. Depois escondi os corpos do casal e fugi no Passat que estava na berma da estrada", afirma.

Pedro Dias explica fuga após homicídios 
"Deixei o carro no meio do monte perto das Caldas da Cavaca, onde tudo começou e onde ainda estava a minha carrinha. Fiz um percurso a pé de cerca de cinco minutos até a minha carrinha para me ir embora", diz. "Ainda peguei na carteira e no telemóvel do Sr.Luis. A carteira estava no chão e tinha 60 euros. O telemóvel estava no tablier do carro. Levei a carteira que era para usar a carta de condução da pessoa e tivesse que fugir do país", afirma.

"Disseram alto! E eu aproveitei para me esconder" 
Pedro Dias
"Sabia que tinha de trocar de veículo. E por isso dirigi-me a Vila Cha para ir buscar outro veículo que ali tinha. Cruzei-me com a Cristina [ex-namorada] pedi-lhe para dizer que tinha passado a noite comigo se alguém perguntasse. Mas não lhe expliquei porquê. Fui buscar outra carrinha e deixei a Toyota que trazia perto do campo de futebol de Algodres. A ideia era atravessar para Espanha e organizar-me de alguma forma com a ajuda de amigos. Mas recebi um telefonema de um GNR a perguntar se eu tinha sido mandado parar pela GNR, se tinha os documentos comigo e qual era a minha localização. Eu já ia a caminho de Espanha, perto de Porto da Carne (Guarda) no antigo IP5. Mas apercebi-me que tinha acabado de dizer ao GNR que me ligou que ia para Valladolid. Foi sem querer e percebi que já não podia seguir esse plano", continua.

"Foi ai que decidi que tinha que ir para onde me sentisse mais seguro. Para onde pudesse ter ajuda de família e amigos e contactar com advogados. Decidi ir para Arouca. Fiz o percurso rapidamente mas parei no LIDL e comprei comida para três ou quatro dias".

"Ao chegar a um cruzamento perto de Arouca há uma operação. Uma pessoa dá-me sinal de paragem e dispara um tiro para o ar. Eu tive medo e acelerei ainda mais. Entrei num caminho rural, atravessei uma aldeia e levei a carrinha até onde podia levar. Depois peguei em duas mochilas e nos 60 euros da carteira do Sr.Luís. Atirei a carteira e o telemóvel para uma ribeira e apercebi-me que a GNR estava a chegar à carrinha", descreve Pedro Dias.

"Deixeu uma arma glock para trás mas prossegui com a outra glock e com a minha arma de 7,65 mm. Ainda os ouvi quando encontraram o saco com a arma que deixei para trás. Disseram alto! E ficaram ali parados algum tempo. Eu aproveitei para me esconder", conta.

Pedro Dias afirma que não quis magoar nem matar Lídia da Conceição 
"Só à noite consegui chegar ao cimo da serra. E consegui passar a estrada onde estava uma patrulha porque aproveitei um momento em que um guarda pediu um cigarro ao outro. À medida que os guardas se vão movimentando eu também. E vou conseguindo aproximar-me de Arouca. Nessa noite acabei por ir dormir a uma casa que eu sabia que estava fechada, mas já lá chego quase de dia. Eu só podia deslocar-me de noite. Cheguei à casa de moldes numa quinta-feira de madrugada. Mas antes tinha passada uma noite em outra casa (na casa de Moldes)", diz.

"A mulher caiu sozinha no chão. Eu nunca a agredi" 
Pedro Dias
"Na sexta-feira sai de casa para tentar contactar um amigo mas não consegui. No dia seguinte, já de regresso à casa de Moldes, estou a lavar-me e sinto um carro a parar e alguém a subir. Estava a aquecer água para me lavar. Cozinhei meio frango que roubei. Quando a senhora mete a chave à porta eu agarrei-a pelo braço e puxei-a. A senhora gritava que queria ir embora e eu disse-lhe: 'deixe-me ir embora a mim... deixe-me ir embora primeiro'. Disse-lhe que conhecia a mãe dela e que estava ali por bem. Mas entretanto outro senhor veio à porta e eu puxei-o também para dentro. A mulher caiu sozinha no chão. Tinha-se magoado. Eu nunca a agredi. Mandei-os sentar na cama e acabei de me vestir, calçar e meter umas coisas na mochila. Pedi o relógio ao senhor. Deixei de lhes apontar a arma quando o senhor começou a acalmar a senhora. Pedi o carro ao António e ele disse-me para o levar mas para não lhes fazer mal. Disse-lhes que não o ia fazer. Que só precisava de três horas para fugir", afirmou.

"O Sr.António disse-me que não precisava de o amarrar que ele não ia chamar ninguém. Mas eu disse-lhe que tinha que o amarrar.Fui buscar duas batatas. Ao amordaçar a senhora percebo que tinha um corte cara. Tenho presente ter dito qualquer coisa do género: 'já que dizem que eu matei tanta gente...' [em tom de ameaça a Lídia da Conceição].

"Eu disse-lhe que voltaria dentro de duas ou três horas mas só para ganhar tempo para fugir, porque nunca tive intenção de voltar. Antes de sair de vez voltei a casa umas duas ou três vezes, para ir buscar coisas e também para eles acharem que eu podia chegar a qualquer momento. A ideia era que eles permanecessem quietos o maior tempo possível. Não me lembro a que horas sai de casa. Deveria ter sido entre o meio dia e as 14h00. Passei junto ao túnel do Marão por volta das 15h00.", descreve.

"A minha intenção não foi magoar ou matar a Sra. Lídia ou o Sr. António. Apenas manietá-los para ter tempo de fugir. Abandonei o Opel do Sr.António na Aldeia de Carro Queimado, em Vila Real", disse. Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/pedro-dias-fala-esta-quinta-feira-em-tribunal-sobre-crimes-de-aguiar-da-beira?ref=portugal_MaisVistas

A sessão termina para almoço e fora do tribunal ouvem-se gritos das irmãs de Lídia da Conceição. "Mentiroso, mentiroso", dizem afirmando que a versão de Pedro Dias é falsa e que assim que Lídia entrou na casa de Moldes foi agredida pelo homem.

Mãe de vítima insulta arguido na chegada ao tribunal
A carrinha celular que transportava Pedro Dias tinha acabado de parar junto ao tribunal da Guarda, quando a mãe de Liliane Pinto, uma das vítimas mortais do homicida de Aguiar da Beira, se abeirou do veículo. "Seu desgraçado, é hoje que vais falar? Se eu te apanhasse matava-te", disse a Maria de Fátima, muito emocionada. A mulher teve de ser afastada do local por um agente da PSP. A defesa de Pedro Dias afirmou, desde o início do julgamento, que este pretendia falar. Mas o momento foi sendo sucessivamente adiado, com a justificação de que faltavam concluir perícias consideradas fundamentais para se estabelecer a verdade dos factos.

"Ou estamos perante um serial killer ou algo aconteceu"
Advogada de Pedro Dias
Antes do início da sessão desta quinta-feira, Mónica Quintela, advogada de Pedro Dias, explicou que este pretende contar a sua versão integral dos factos. "Vamos ouvir o que ele vai dizer. Repito o que digo desde o primeiro dia. Que ele seja condenado pelo que fez e na medida em que o fez e seja absolvida pelo que não fez", disse.

"No relato que vai fazer, fará a assunção de responsabilidades. Ou estamos perante um serial killer ou algo aconteceu. Temos de enquadrar o que aconteceu nas circunstâncias da sua vida, temos de perceber como foi possível isto acontecer. Ele irá contar tudo", acrescentou Mónica Quintela, que não descarta a hipótese do seu cliente vir a pedir desculpa às vítimas. "Ele lamenta profundamente tudo o que aconteceu", diz a advogada.

* Que acabe depressa esta história escabrosa

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