ESTA SEMANA
NO
"SOL"
Banca pode perder 40% do negócio
Carlos Moedas já admite que o novo sistema de pagamentos, a entrar em vigor já em janeiro, vai provocar uma revolução nos serviços. A banca como a conhecemos já tem fim marcado
A banca como a conhecemos vai desaparecer. Em janeiro de 2018 vai
entrar em vigor a nova diretiva de serviços de pagamentos que
simplesmente vai pôr fim ao monopólio que as instituições financeiras
têm sobre a informação financeira dos seus clientes e sobre os serviços
de pagamentos.
.
Ainda esta semana, o comissário europeu Carlos Moedas
afirmou que estamos perante uma «revolução» nos serviços de pagamentos
bancários porque implica «mudar paradigmas e reduzir custos».
«As grandes empresas vão ter de viver com novos ‘players’, que irão
invadir os seus negócios. As ‘fintech’ estão a pisar os calcanhares aos
bancos e isso é positivo», revelou o ex-secretário de Estado de Passos
Coelho.
Isto significa que daqui a menos de dois meses qualquer empresa,
desde que esteja licenciada, passa a ter informação sobre as contas
bancárias dos clientes desde que sejam autorizadas, sem estarem sujeitas
à regulação financeira.
A fórmula é simples: os clientes podem recorrer a prestadores de
serviços para gerirem a suas contas, onde é possível, por exemplo,
efetuar o pagamento da conta de eletricidade pela aplicação da Uber ou
pelo Facebook. Outra hipótese é fazer uma compra através de uma
plataforma online, como é o caso da Amazon, e ter a possibilidade de
escolher se quer que esta aceda diretamente aos seus dados bancários
para proceder ao pagamento sem passar por outros intermediários até aqui
tradicionais, como o sistema Visa ou PayPal.
Uma alteração que irá obrigar os bancos a fornecer a estes potenciais
novos prestadores de serviços o acesso às contas dos clientes através
de API (Application Program Interface) abertas. E para os clientes que
tenham mais do que uma conta bancária, a nova diretiva irá introduzir o
conceito de fornecedores de serviços de informações de contas (AISP -
Account Information Service Provider), que possibilita aos consumidores
terem acesso a todas as informações das suas contas num só portal.
Uma novidade que poderá ganhar maiores contornos numa altura em que
estamos a assistir a uma ‘guerra’ aberta às comissões bancárias que
estão atualmente a ser praticadas pelo setor financeiro no mercado
nacional.
A verdade é que embora exista uma maior transferência de dados entre
instituições - o que poderia implicar receios quanto às quebras de
segurança relativamente a dados pessoais -, a nova diretiva traz também
importantes alterações legislativas relativamente à proteção dos dados
dos consumidores. O que vai requerer uma melhor verificação da
identidade do comprador.
Perda de negócio
As consequências para o setor já são visíveis. De acordo com os
consultores da Roland Berger, a nova diretiva vai afetar mais de mil
milhões de clientes bancários e, como tal, irá colocar em risco entre
25% e 40% do produto bancário dos bancos a operar na União Europeia.
Para a consultora, os riscos para o sistema financeiro não ficam por
aqui, ao considerar que os bancos «enfrentam um risco de perda da
relação do dia a dia com os clientes pela transferência dos serviços de
gestão financeira e de pagamentos para plataformas online ou mobile de
novos operadores, que não se encontram restringidos pela infraestrutura
bancária existente».
E deixa um recado: se nada fizerem, «o papel dos bancos estará
gradualmente limitado». Daí defender que estes devem desenvolver as suas
próprias soluções de agregação e de iniciação de pagamentos, o que
poderá ser visto como uma oportunidade para o setor, «sob pena de
perderem a sua relevância».
Uma opinião partilhada pelo governador do Banco de Portugal (BdP), ao
admitir que as novas regras vão trazer «oportunidades de negócio num
mercado mais inovador e concorrencial».
De acordo com Carlos Costa, «vai haver espaço para que apareçam novas
entidades que não estavam no horizonte do atual sistema de pagamentos,
uma entidade terceira, entre consumidor e banco. Mas só tem sentido se
essa entidade trouxer em eficiência, custo e segurança uma vantagem face
a interlocutores iniciais».
Já sobre o papel dos reguladores neste novo cenário, o governador
disse apenas que cabe a estes assegurar a neutralidade da regulação para
que esta não seja «um entrave à inovação, nem proteja os incumbentes
(empresas já no mercado), garantindo a salvaguarda das condições de
risco e segurança».
Novo Banco reage
A entidade liderada por António Ramalho lançou a partir deste sábado
uma nova forma de pagamentos. Trata-se do NBChatPay que permite
transferir dinheiro para contactos do telemóvel, em ambiente de chat,
sem necessidade de sair da respetiva aplicação. «Disponível para
clientes com a NB smart app instalada no telemóvel, o NBChatPay permite
fazer transferências de pequenas quantias de forma imediata, sem
complicações, em aplicações tão variadas como o Messenger, o WhatsApp,
ou mesmo em conversas por SMS», revelou no Novo Banco.
Este novo sistema funciona em ligação com o sistema MB WAY e permite
transferir tanto para clientes que já são aderentes àquele sistema, como
aos que ainda não o são.
O SOL entrou em contacto com os principais bancos e só a CGD adiantou
que «a Caixa está em processo de formação aos seus colaboradores com
contacto direto com clientes».
A verdade é que quando a diretiva entrar em vigor em janeiro, vão ser
regulados dois tipos de operadores: os agregadores de informação, que
compilam a informação das diferentes contas bancárias dos clientes
mediante a sua autorização, oferendo um serviço integrado de gestão das
finanças pessoais; e os operadores de iniciação de pagamentos, que
prestam um serviço de pagamento conta a conta.
Apesar de entrarem em vigor em janeiro, a novas regras vão sofrer
alterações para a aprovação dos padrões técnicos regulatórios sobre a
autenticação e a segurança das comunicações.
* Não temos pena
**A banca portuguesa foi sempre "tubarónica" em relação ao pequeno e médio aforrador, os assaltos com taxas e comissões são permanentes.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário