12/11/2017

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ESTA SEMANA 
NO  "SOL"
Banca pode perder 40% do negócio 

Carlos Moedas já admite que o novo sistema de pagamentos, a entrar em vigor já em janeiro, vai provocar uma revolução nos serviços. A banca como a conhecemos já tem fim marcado

A banca como a conhecemos vai desaparecer. Em janeiro de 2018 vai entrar em vigor a nova diretiva de serviços de pagamentos que simplesmente vai pôr fim ao monopólio que as instituições financeiras têm sobre a informação financeira dos seus clientes e sobre os serviços de pagamentos.
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Ainda esta semana, o comissário europeu Carlos Moedas afirmou que estamos perante uma «revolução» nos serviços de pagamentos bancários porque implica «mudar paradigmas e reduzir custos».

«As grandes empresas vão ter de viver com novos ‘players’, que irão invadir os seus negócios. As ‘fintech’ estão a pisar os calcanhares aos bancos e isso é positivo», revelou o ex-secretário de Estado de Passos Coelho.

Isto significa que daqui a menos de dois meses qualquer empresa, desde que esteja licenciada, passa a ter informação sobre as contas bancárias dos clientes desde que sejam autorizadas, sem estarem sujeitas à regulação financeira.

A fórmula é simples: os clientes podem recorrer a prestadores de serviços para gerirem a suas contas, onde é possível, por exemplo, efetuar o pagamento da conta de eletricidade pela aplicação da Uber ou pelo Facebook. Outra hipótese é fazer uma compra através de uma plataforma online, como é o caso da Amazon, e ter a possibilidade de escolher se quer que esta aceda diretamente aos seus dados bancários para proceder ao pagamento sem passar por outros intermediários até aqui tradicionais, como o sistema Visa ou PayPal.

Uma alteração que irá obrigar os bancos a fornecer a estes potenciais novos prestadores de serviços o acesso às contas dos clientes através de API (Application Program Interface) abertas. E para os clientes que tenham mais do que uma conta bancária, a nova diretiva irá introduzir o conceito de fornecedores de serviços de informações de contas (AISP - Account Information Service Provider), que possibilita aos consumidores terem acesso a todas as informações das suas contas num só portal.

Uma novidade que poderá ganhar maiores contornos numa altura em que estamos a assistir a uma ‘guerra’ aberta às comissões bancárias que estão atualmente a ser praticadas pelo setor financeiro no mercado nacional.

A verdade é que embora exista uma maior transferência de dados entre instituições - o que poderia implicar receios quanto às quebras de segurança relativamente a dados pessoais -, a nova diretiva traz também importantes alterações legislativas relativamente à proteção dos dados dos consumidores. O que vai requerer uma melhor verificação da identidade do comprador.

Perda de negócio 
As consequências para o setor já são visíveis. De acordo com os consultores da Roland Berger, a nova diretiva vai afetar mais de mil milhões de clientes bancários e, como tal, irá colocar em risco entre 25% e 40% do produto bancário dos bancos a operar na União Europeia.

Para a consultora, os riscos para o sistema financeiro não ficam por aqui, ao considerar que os bancos «enfrentam um risco de perda da relação do dia a dia com os clientes pela transferência dos serviços de gestão financeira e de pagamentos para plataformas online ou mobile de novos operadores, que não se encontram restringidos pela infraestrutura bancária existente».

E deixa um recado: se nada fizerem, «o papel dos bancos estará gradualmente limitado». Daí defender que estes devem desenvolver as suas próprias soluções de agregação e de iniciação de pagamentos, o que poderá ser visto como uma oportunidade para o setor, «sob pena de perderem a sua relevância».

Uma opinião partilhada pelo governador do Banco de Portugal (BdP), ao admitir que as novas regras vão trazer «oportunidades de negócio num mercado mais inovador e concorrencial».

De acordo com Carlos Costa, «vai haver espaço para que apareçam novas entidades que não estavam no horizonte do atual sistema de pagamentos, uma entidade terceira, entre consumidor e banco. Mas só tem sentido se essa entidade trouxer em eficiência, custo e segurança uma vantagem face a interlocutores iniciais».

Já sobre o papel dos reguladores neste novo cenário, o governador disse apenas que cabe a estes assegurar a neutralidade da regulação para que esta não seja «um entrave à inovação, nem proteja os incumbentes (empresas já no mercado), garantindo a salvaguarda das condições de risco e segurança».

Novo Banco reage
A entidade liderada por António Ramalho lançou a partir deste sábado uma nova forma de pagamentos. Trata-se do NBChatPay que permite transferir dinheiro para contactos do telemóvel, em ambiente de chat, sem necessidade de sair da respetiva aplicação. «Disponível para clientes com a NB smart app instalada no telemóvel, o NBChatPay permite fazer transferências de pequenas quantias de forma imediata, sem complicações, em aplicações tão variadas como o Messenger, o WhatsApp, ou mesmo em conversas por SMS», revelou no Novo Banco.

Este novo sistema funciona em ligação com o sistema MB WAY e permite transferir tanto para clientes que já são aderentes àquele sistema, como aos que ainda não o são.

O SOL entrou em contacto com os principais bancos e só a CGD adiantou que «a Caixa está em processo de formação aos seus colaboradores com contacto direto com clientes».

A verdade é que quando a diretiva entrar em vigor em janeiro, vão ser regulados dois tipos de operadores: os agregadores de informação, que compilam a informação das diferentes contas bancárias dos clientes mediante a sua autorização, oferendo um serviço integrado de gestão das finanças pessoais; e os operadores de iniciação de pagamentos, que prestam um serviço de pagamento conta a conta.

Apesar de entrarem em vigor em janeiro, a novas regras vão sofrer alterações para a aprovação dos padrões técnicos regulatórios sobre a autenticação e a segurança das comunicações.

* Não temos pena
**A banca portuguesa foi sempre "tubarónica" em relação ao pequeno e médio aforrador, os assaltos com taxas e comissões são permanentes.

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