24/09/2017

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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"

Morreu D. Manuel Martins,
 bispo emérito de Setúbal

Manuel Martins, bispo de Setúbal entre 1975 e 1998, morreu este domingo, aos 90 anos, informou a Diocese de Setúbal.

Um comunicado da Diocese de Setúbal informou que D. Manuel Martins "faleceu hoje, às 14.05 horas, acompanhado dos seus familiares e após receber a Santa Unção" de um pároco local, sem referir o local da morte.

A diocese sublinha que Manuel Martins foi o primeiro bispo de Setúbal, nomeado em 1975.
Não foram divulgadas ainda informações sobre o funeral.

O "bispo vermelho"
Manuel Martins chegou a ser conhecido por "bispo vermelho", durante a crise dos anos 80, pelas denúncias que fez de situações de pobreza e de fome na região.
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Nascido em 20 de janeiro de 1927, em Leça do Balio, Matosinhos, Manuel da Silva Martins estudou no seminário do Porto e, mais tarde, na Universidade Gregoriana, em Roma.

Foi pároco de Cedofeita, nos nove anos de exílio do bispo do Porto António Ferreira Gomes (1960-1969), durante o Estado Novo, e foi vigário geral após o regresso do prelado.
Em 1975, um após o 25 de Abril de 1974, foi nomeado bispo da diocese de Setúbal, de onde só saiu 23 anos depois, em 1998.

"Nasci bispo em Setúbal, agora sou de Setúbal", disse no dia da ordenação episcopal aquele que foi o primeiro bispo da diocese - criada a 16 de julho de 1975, em pleno "Verão Quente" do Processo Revolucionário Em Curso (PREC) - e que acabou por se tornar uma voz incómoda para o poder político da época.

Para Manuel Martins, desses primeiros anos da sua passagem por Setúbal ficou um sentimento de dever cumprido e a convicção de que deu o seu melhor na luta pelas causas dos mais desfavorecidos.
"Quando cheguei a Setúbal, levava uma recomendação muito importante do bispo de Porto, António Ferreira Gomes, que me disse para tentar não aparecer como colonizador, para procurar mergulhar em Setúbal, ser de Setúbal, ser Setúbal. E, felizmente, isso aconteceu-me", recordou Manuel Martins, enquanto partilhou, com a Lusa, em 2016, algumas histórias desses tempos conturbados.

Nessa conversa com a Lusa, recordou um episódio de troca de palavras com o então primeiro-ministro, Mário Soares. "O Governo de Mário Soares dizia publicamente que em Setúbal não havia fome, que o bispo de Setúbal é que fazia fome. A comunicação social não me largava e um dia eu respondi dizendo que 'se a fome era Nafarros e Belém, podíamos dar graças a Deus porque em Portugal não havia fome'", lembrou.

Existia mesmo "fome em Setúbal", assegurou o 'Bispo Vermelho', que é considerado um dos principais responsáveis pela ação que a igreja católica continua a ter na região de Setúbal, designadamente no apoio social aos mais pobres e excluídos.

Manuel Martins foi presidente da Comissão Episcopal da Ação Social e Caritativa e da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo, e da secção portuguesa da Pax Christi.

Após a resignação, continuou a fazer conferências e palestras, sendo objeto de vários livros, como "História de uma Crise - Grito do bispo de Setúbal", do jornalista Alcídio Torres, e o próprio também escreveu "Pregões de Esperança", editado em 2014 e apresentado pelo ex-presidente Ramalho Eanes.

* Apesar de não sermos religiosos temos um enorme respeito pelo bispo Manuel Martins que pela sua grande dignidade tinha o direito de ser tratado por "Dom", nem todos os bispos merecem o prefixo.

Morreu o fadista João Ferreira-Rosa

O fadista João Ferreira-Rosa, de 80 anos, intérprete de "O Embuçado", morreu este domingo de manhã no Hospital de Loures.

João Ferreira-Rosa era proprietário do Palácio de Pintéus, nos arredores de Loures, que fora propriedade da poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho e que serviu de cenário a vários programas de fado, transmitidos pela RTP, em que participaram os fadistas Alfredo Marceneiro, Maria do Rosário Bettencourt, Teresa Silva Carvalho e João Braga, e os músicos Paquito, José Pracana, José Fontes Rocha, entre outros.
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Iniciou carreira em 1961, quando atuou pela primeira vez na rádio, e gravou o primeiro disco, em que incluiu "Embuçado", que se tornou o seu "cartão-de-visita".

João Ferreira-Rosa, natural de Lisboa, afirmava-se monárquico e foi autor, entre outros, do poema "Triste sorte", que gravou no Fado Cravo, de Marceneiro.

Figura assídua das galas anuais Carlos Zel, no Casino Estoril, do seu repertório constam, entre outros, os fados "Os Saltimbancos", "Acabou o Arraial", "Fragata" e "Portugal Verde e Encarnado".
João Ferreira-Rosa fez toda a sua carreira cantando apenas fado tradicional, como realçou à agência Lusa o estudioso de fado Luís de Castro, autor de uma biografia de Fernando Farinha. "Nunca fez concessões, cantou sempre o fado tradicional, permanecendo fiel a uma escola que dignificou", disse.

Valéria Mendez, ex-professora do Conservatório do Funchal, e que colaborou na edição discográfica "Amália em Itália", saída em abril último, em declarações à Lusa afirmou: "Morreu uma luz vibrante do fado. Um mestre. Um fadista por excelência e de excelência".
A Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa defini-o como de "temperamento irreverente", que gostava de expressar as suas opiniões publicamente, nomeadamente a favor do regime monárquico, que se "afirmou como personagem singular no meio do fado de Lisboa" e com um "extremamente diminuto" percurso discográfico.
O seu último disco gravado em vida, no seu Palácio de Pintéus, nos arredores de Loures, foi um duplo CD, "Ontem, Hoje", editado em 1996.
Ferreira-Rosa afirmou à Lusa, numa entrevista, que não gostava de gravar em estúdio, justificando os diminutos discos. "Podia ter gravado mais até, mas aquela frieza dos estúdios apavoram-me", disse.
Além de dois CD antológicos, "Essencial - João Ferreira-Rosa" (2004) e "O Melhor de João Ferreira-Rosa" (2008), editou quatro outros álbuns, incluindo um de atuações no extinto Wonder Bar, no Casino Estoril, e cerca de dez singles e/ou EP.
O fadista estreou-se no programa "Nova Onda", da Emissora Nacional, mas a primeira vez que cantou foi aos 14 anos, em Santarém, no Teatro Rosa Damasceno, numa festa da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém.
Em 1965, João Ferreira Rosa adquiriu um espaço em Lisboa, no Beco dos Curtumes, no bairro de Alfama, que se tornou A Taverna do Embuçado, que inaugurou em 1966, e por onde passaram nomes como Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição, Artur Batalha, entre muitos outros, e que se tornou "uma sala de visitas de Lisboa". Após 20 anos à frente desta casa de fados, Ferreira-Rosa entregou a sua gestão à fadista Teresa Siqueira.
Em novembro de 2012 a Câmara Municipal de Lisboa entregou-lhe a Medalha de Mérito Municipal, grau Ouro.

* Morreu parte do Fado.

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