O sentido de Estado
é uma coisa que tem dias
Investigar «Doa a quem doer, não deixando ninguém imune», disse Marcelo. Mas então era só tralha sem risco para o país?
António Costa tem sorte, até na desgraça. Depois da tragédia de
Pedrógão Grande e do que se passou em Tancos, o primeiro-ministro conta
com a excecional lealdade do Bloco de Esquerda e do PCP para o ampararem
nos tempos difíceis.
E este é um dos tempos. Se António Costa tivesse maioria absoluta, o
PCP e o Bloco de Esquerda estariam a fazer uma oposição devastadora –
como sempre fizeram a todos os governos quer do PS quer do PSD/CDS. Mas
Costa pode dar graças a deus por não ter maioria absoluta – a geringonça
faz mais pela sobrevivência política do primeiro-ministro do que uma
maioria socialista na Assembleia da República. A continuar assim, é
natural que nas próximas eleições Costa faça tudo para não conseguir
maioria absoluta. Aliás, não foi à toa que o primeiro-ministro já disse
publicamente que a coisa se pode repetir. Aquilo dá-lhe um jeito dos
diabos.
Quando a dimensão do assalto a Tancos foi tornada pública, o PCP foi
dos primeiros partidos a reagir. Nessa quase longínqua sexta-feira, o
PCP emitiu um comunicado oficial muito duro, a pedir «responsabilidades
políticas», mais ou menos à mesma hora em que António Costa fazia a mala
para as férias em Palma de Maiorca. Enquanto Costa se mantinha em
silêncio – e Palma de Maiorca tem internet, telefones e Skype – o país
entrava em estado de choque com o assalto a Tancos. O ministro da Defesa
admitia que o material roubado viesse a «colidir com a nossa
segurança», aceitando que poderia ir parar a redes terroristas. O
Presidente da República fez declarações tonitruantes: era preciso
investigar tudo «doa a quem doer e não deixando ninguém imune».
Costa continuou impávido as suas férias. Quando chegou, numa reunião
com as Forças Armadas, explicou que tinha ido para Palma de Maiorca
descansado porque os serviços de segurança o avisaram que não havia
riscos – apesar do Ministério Público ter aberto uma investigação. O
chefe militar explicou que o material roubado, afinal, não servia para
nada. Era só tralha. Alguém anda a fazer de nós parvos. Entre as
explicações em São Bento e a teoria da conspiração de Vasco Lourenço
segundo a qual tudo se tratou de uma intentona para prejudicar o Governo
PS, venha o diabo e escolha.
IN "SOL"
15/07/17
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