HOJE NO
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“Os portugueses são os melhores
.vizinhos que se pode ter”
.vizinhos que se pode ter”
Quem o diz é
Julie, uma das muitas inglesas que escolheram Pedrógão para viver. Toda a
zona Centro do país está cheia de estrangeiros que, mesmo depois do
caos, conseguem ver aquilo que os fez trocar de morada: sol, paisagem e
os portugueses, “os melhores do mundo”
A natureza, aliada ao sossego e à hospitalidade, são pontos comuns no discurso de quem veio de fora e escolheu a região Centro do país como morada. São às centenas os estrangeiros que vivem neste quadrado cujos vértices são Pedrógão, Ferreira do Zêzere, Pampilhosa da Serra e Proença-a-Nova. E nenhum com quem o i se cruzou mostra vontade de voltar. “Se a minha casa ardesse em Inglaterra, eu ia fugir para França?” A pergunta é retórica, já sabemos, assim como o é a resposta sobre se algum dia a aldeia vai voltar a ser aquela que eles viram na televisão. “Claro que sim, e nós vamos estar cá para vê-la reerguer-se.”
A mercearia internacional Mesmo com poucas palavras trocadas na mesma língua, a comunidade interage sem barreiras. E só mesmo quando as saudades dos assados, das papas de aveia ou dos molhos pouco saudáveis aperta é que os ingleses e alemães saem do ninho para ir a Avelar. A mercearia do Toni é a única num raio de centenas de quilómetros que tem uma prateleira dedicada a produtos internacionais. “Quando abri a loja, há dez anos, percebi que ninguém via na presença de estrangeiros aqui uma fonte de rendimento”, conta. Foi aí que começou a importar produtos e é atualmente o único distribuidor das redondezas.
Além de os ajudar na hora de fazerem uma refeição caseira, Toni aproveita o inglês que herdou dos anos na escola para os orientar quando o tema é burocrático. No entanto, desde o último fim de semana que, em vez de dar indicações sobre onde é o tribunal ou a solicitadora, se viu obrigado a orientar para hospitais ou para o posto de comando quem perdeu tudo. Além disso, alertou as autoridades para a falta de uma linha de apoio internacional para que quem está longe pudesse avisar os familiares de que, no meio do caos, o importante estava a salvo. “Uma vida é uma vida, fale ela português ou inglês.”
Solidariedade sem igual Se Toni consegue encontrar falhas na ajuda prestada aos estrangeiros, da boca de quem viveu o drama na pele só saem elogios. “Tenho dúvidas se em Inglaterra teriam esta solidariedade.” Liz vive na aldeia de Rabigordo há dois anos e meio, o suficiente para chamar casa a esta comunidade.
No dia do fogo, o calor, que já não fazia adivinhar um desfecho feliz, fez com que descesse até ao rio com um amigo. O problema foi o regresso. “De repente era como se fosse meia-noite”, conta ao lembrar-se do momento em o fogo queimou os cabos que ainda hoje não permitem que tenha eletricidade em casa. Fugiram como puderam, sem deixar para trás Bambo, o golden retriever que a leva a preferir dois dias de carro a duas horas de avião sempre que volta a Inglaterra para visitar a família.
Num sábado ainda demasiado próximo para se dizer que já passaram cinco dias, a casa onde agora a encontramos a limpar a fuligem que o incêndio deixou não era mais que uma bola de fumo. Foi ainda com a roupa de praia que se fez à estrada até encontrar um local seguro. “Parei num restaurante e a dona, do mais amoroso que há, recusou-se a aceitar dinheiro pela refeição e ainda me deu creme para as queimaduras do sol.” A voz embargada é o espelho de “uma gratidão que não tem fim”.
Em sua casa não faltaram vizinhos a oferecer comida, Proteção Civil a perguntar se estava tudo bem e até veterinários para saber se Bambo precisava de ajuda. É por isso que, das janelas abertas para um cenário negro, Liz consegue ver para além do caos. “Foi a pior coisa que me aconteceu na vida, mas serviu para ver que o mundo ainda é um lugar bom.”.
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