HOJE NO
"OBSERVADOR"
Deco ameaça levar a tribunal juros do crédito à habitação que diz serem ilegais
A Deco ameaçou esta quinta-feira recorrer aos tribunais para travar os limites da banca à descida dos juros do crédito à habitação, que defende serem ilegais e prejudiciais aos clientes bancários.
A Deco ameaçou esta quinta-feira recorrer aos tribunais para travar
os limites da banca à descida dos juros do crédito à habitação, que
defende serem ilegais e prejudiciais aos clientes bancários. “Se há
princípios legais que impedem que uma das partes [do contrato de crédito
à habitação] restitua menos do que recebeu, também há outros que
impedem que uma parte faça tábua rasa do que assinou. A solução para os
contratos em vigor terá de ser encontrada a bem (…) E, se não for a bem,
terá de ser a mal. Leia-se através dos tribunais”, afirmou a associação
para a defesa dos consumidores Deco, em comunicado divulgado esta
quinta-feira.
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ERA UM HOMEM GENEROSO
UM ESPÍRITO BEATO |
A queda das prestações de crédito à habitação nos
últimos anos tem sido acompanhada de uma redução das taxas Euribor,
muitas vezes negociadas em valores negativos históricos, mas o risco –
de os clientes virem a pagar mais ou menos pelos contratos de crédito à
habitação indexados à taxa variável (geralmente a Euribor a três ou seis
meses) – tem, afinal, um limite na descida, segundo a Deco.
“É que se descer abaixo de zero, os bancos decidem ignorar esse
fenómeno”, lê-se no comunicado, que lembra ainda que a lei determina
expressamente que o cálculo da taxa de juro resulta da soma aritmética
do ‘spread’ (margem de lucro comercial do banco) com a Euribor e que,
numa carta circular, o próprio Banco de Portugal reitera que o cálculo
aritmético deve ser rigoroso, mesmo com a Euribor negativa.
A posição da Deco surge um dia depois de as taxas Euribor a três, seis, nove e 12 meses terem tocado em mínimos históricos.
Em Espanha, em meados de 2013, as cláusulas que o banco BBVA
introduziu em contratos de crédito à habitação para colocar um teto à
descida dos juros cobrados aos clientes, mesmo quando a Euribor descesse
substancialmente, clausulas conhecidas como “suelo”, foram consideradas
ilegais pelo Tribunal Supremo espanhol.
Esta decisão, que teve
efeitos retroativos a 2009, obrigou os bancos espanhóis a reembolsar aos
clientes bancários entre três a cinco mil milhões de euros,
considerando fundamentadas as queixas de que eram penalizados com o
aumento das Euribor, mas não beneficiavam da sua descida.
“Seja
qual for esse valor, os bancos consideram que uma soma aritmética com
resultado inferior a zero deve ser sempre igual a… zero. E tão
conveniente que isso é para a banca que todos os meses tem prestações de
crédito à habitação para cobrar”, afirma a Deco no comunicado. Em
dezembro de 2016, aquelas cláusulas que limitam a descida de juros nos
bancos espanhóis foram também consideradas ilegais pelo Tribunal de
Justiça da União Europeia.
No ‘site’ oficial, o Banco e Portugal
lembra que a taxa Euribor é o indexante de referência para os créditos
com taxa de juro variável e que a sua evolução depende, nomeadamente, da
taxa de juro oficial definida pelo Banco Central Europeu (BCE), do grau
de liquidez do sistema financeiro e das expectativas dos agentes
financeiros quanto ao comportamento futuro da inflação e da política
monetário do BCE.
Em março de 2015, quando as taxas de juro Euribor começaram a
negociar em terreno negativo, o Banco de Portugal publicou uma
carta-circular a informar que os bancos tinham de cumprir as condições
estabelecidas nos contratos de crédito, mesmo quando o indexante de
referência (como a Euribor) fosse negativo.
“Quando a taxa de juro
aplicada a contratos de crédito e de financiamento esteja indexada a um
índice de referência, deve resultar da média aritmética simples das
cotações diárias do mês anterior ao período de contagem dos juros”,
referia então a entidade, acrescentando que os bancos não podem
introduzir “limites à variação do indexante [Euribor] que impeçam a
plena produção dos efeitos decorrentes da aplicação desta regra geral”.
Já
a Associação Portuguesa de Bancos (APB) discordou de forma veemente da
regra que poderá obrigar os bancos a refletir totalmente a taxa de juro
final negativa e considerou, em 2016, que pode “ameaçar a
sustentabilidade do setor, já debilitado”.
* A DECO tem razão, a generosidade dos banqueiros tem sido paga pelos otários portugueses.
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