HOJE NO
"AÇORIANO ORIENTAL"
"AÇORIANO ORIENTAL"
Manuel de Arriaga, um Presidente
de "altos valores éticos" que pagou
para viver em Belém
O primeiro Presidente da República, que morreu há 100 anos, foi
um homem de "altos valores éticos" que pagou para viver no Palácio de
Belém, disse o diretor do Museu da Horta, de onde era natural Manuel de
Arriaga.
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“A sua própria residência oficial é um arrendamento que fez do seu
bolso, primeiro ao Palácio do Manteigueiro, no Chiado, onde hoje é o
Ministério da Economia”, afirmou Luís Meneses, explicando que, a partir
de 1912, Manuel de Arriaga pagou mensalmente ao Ministério das Finanças
“100 mil réis” pela renda no Palácio de Belém, em Lisboa.
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira (Horta, 1840 – Lisboa, 1917)
foi o primeiro presidente da República de Portugal, tendo sido eleito
com 121 votos, mais 35 do que Bernardino Machado, um dos principais
adversários, a 24 de agosto de 1911, segundo a página na Internet da
Presidência da República.
O seu mandato decorreu num período político conturbado, durante o
qual empossou seis governos. Foi obrigado a resignar a 26 de maio de
1915, “saindo do Palácio de Belém escoltado por forças da Guarda
Republicana”, informa a página.
“Renunciou muito magoado, por ter sido acusado como um ditador que
tinha suspendido a Constituição e, no fundo, a postura de Manuel de
Arriaga foi a de tentar conciliar o inconciliável dada a situação
política do regime republicano”, destacou Luís Meneses.
Para o diretor do Museu da Horta, na ilha do Faial, que colaborou na
elaboração do programa científico da Casa-Museu Manuel de Arriaga, na
mesma cidade, o primeiro chefe de Estado do país foi “um Presidente que
serviu a República e não o contrário”, tendo exercido o mandato “de
forma muito cautelosa e dialogante”.
“Tinha como seu secretário particular um filho, a quem assegurava a
despesa. O carro do Presidente da República também era pago do seu
bolso. Existem recibos e faturas”, realçou Luís Meneses, acrescentando
que quando o Presidente, por motivos de saúde, teve de ir para próximo
da costa arrendou a Cidadela de Cascais para se restabelecer.
Manuel de Arriaga foi professor, advogado, deputado, escritor e
poeta, desempenhando ainda, entre outros, os cargos de procurador da
República e reitor da Universidade de Coimbra, instituição onde se
formou.
“Era um homem culto, aliás tirou um curso em Coimbra, trabalhando e
estudando, uma vez que tinha tido um desaguisado com o pai, com quem
durante muitos anos não falou e que lhe cortou a mesada, porque o pai
era monárquico e ele republicano”, sublinhou Luís Meneses.
O diretor do museu classificou Manuel de Arriaga como “homem íntegro,
sem riqueza, porque não foi herdeiro do pai e acabou por morrer de
forma muito simples”.
De acordo com Luís Meneses, Manuel de Arriaga desejou “um funeral
simples, mas acabou por ter uma cerimónia com honras de Estado”.
Com o processo de trasladação dos seus restos mortais em 2004 para o
Panteão Nacional, em Lisboa, Luís Meneses disse que a figura de Manuel
de Arriaga foi “rebuscada e redescoberta pelas novas gerações”, porque
“estava um pouco esquecida”.
“O próprio Estado Novo também tratou de colocar no silêncio a obra e a
postura política [de Manuel de Arriaga]”, observou Luís Meneses, que
tem testemunhado um “crescente interesse” pelo político, através das
visitas à casa-museu, o Solar dos Arriagas.
O imóvel, onde nasceu e viveu Manuel de Arriaga até aos 18 anos, foi
recuperado pelo Governo Regional dos Açores, tendo sido inaugurado em
novembro de 2011 como espaço de interpretação dos ideais republicanos.
Ao primeiro Presidente da República Manuel de Arriaga sucedeu outro
açoriano, Teófilo Braga (Ponta Delgada, 1843 – Lisboa, 1924).
* O 1º Presidente da República Portuguesa era um homem digno.
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