22/02/2017

INÊS SANTOS SILVA

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Incertezas tecnológicas e
um futuro cada vez mais acelerado

Estaremos nós preparados para tirar o melhor partido de um mundo cada vez mais desmaterializado e digital?

Recentemente tive a oportunidade de participar num evento em que Peter Diamandis, fundador da Singularity University, era um dos oradores. Para quem não sabe, a Singularity University é uma organização lançada por empresas e organizações de Silicon Valley como a Google, Genentech, Nokia, Autodesk, Nasa, entre outras, com o objetivo de perceber como tecnologias exponenciais podem resolver os grandes problemas do mundo. Em 2013 tive a oportunidade de participar no Singularity University Global Solutions Program e passar um Verão (10 semanas) em contacto com dezenas de pessoas de todo o mundo a desenvolver projetos que pudessem ter impacto em mil milhões de pessoas. 

A vinda do Peter Diamandis a Portugal fez-me pensar sobre o que aprendi durante o verão de 2013 e o que aconteceu em termos de avanços tecnológicos desde então. Após alguma reflexão, a minha principal conclusão é que mesmo estando no meio de Silicon Valley, rodeados por algumas das pessoas mais fascinantes do mundo, é muito difícil antecipar quais são as tecnologias que vão ser um sucesso e qual o percurso que vão fazer. 
Alguns exemplos:
  1. Empresas como a Uber e o Slack pouco foram mencionadas enquanto lá estive. A verdade é que ‘explodiram’ nos últimos três anos e já não conseguimos viver o nosso dia-a-dia sem elas;
  2. Em 2013, os carros autónomos eram a grande inovação. Tive a oportunidade de experimentar o Google Self-Driving Car e a grande expectativa era que em 5 anos estivesse no mercado. Claramente não avançou tão rápido como era esperado;
  3. Enquanto a VR (Realidade Virtual) já era amplamente falada, a AI (Inteligência Artificial) foi um tópico perfeitamente inexplorado, mas hoje não se fala noutra coisa;
  4. A Bitcoin e a blockchain foram mencionadas de longe, mas não lhes prestamos grande atenção. Lembro-me de um convidado estar a distribuir uns cartões que davam acesso a bitcoins e ninguém ligou grande coisa. Hoje um bitcoin vale mais de 900 euros e existem milhares de startups em todo o mundo a usar blockchain.
  5. E o último exemplo que dou é o das Impressoras 3D. O entusiasmo pela oportunidade da impressão 3D era enorme (passei o Verão a imprimir rinocerontes), mas tarda a realizar-se.
Estes são apenas alguns dos exemplos, mas poderia mencionar muito mais. Olhando para trás, não foram, claramente, as tecnologias que explorei ou os projetos que desenvolvi que tiveram mais impacto em mim, mas sim uma nova forma de olhar para um mundo cada vez mais acelerado e exponencial. Estaremos nós preparados para tirar o melhor partido de um mundo cada vez mais desmaterializado e digital? Conseguiremos nós antecipar o futuro quando vemos crescimentos quase exponenciais?

Como diz Ray Kurzweil, também fundador da Singularity University, “a nossa intuição sobre o futuro é linear. Mas a realidade das tecnologias de informação é exponencial, e isso faz uma grande diferença. Se eu der 30 passos linearmente, chego aos 30. Se eu der 30 passos exponenciais, chego aos mil milhões.” 

* Embaixadora da Techfugees em Portugal

IN "JORNAL ECONÓMICO"
21/02/17

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