HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Dez mil milhões voadores:
Costa enfurece Passos Coelho
O normalmente
frio e contido Pedro Passos Coelho perdeu hoje a calma no final de mais
um debate quinzenal com o primeiro-ministro (que desta vez teve o
titular das Finanças a seu lado)
Motivo:
a utilização contra o PSD e o CDS que António Costa fez do caso, ontem
revelado pelo "Público", dos dez mil milhões de euros que voaram para
paraísos fiscais entre 2011 e 2015 sem que a Autoridade Tributária os
tenha tratado, tanto estatisticamente como do ponto de vista da receita
fiscal.
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Sentado no seu lugar na
primeira fila da bancada do PSD, falando alto (com os microfones
desligados) e de dedo espetado para António Costa, Passos Coelho acusou
o primeiro-ministro - que já o tinha definido como um "pessimista
irritado" - de "insinuações de baixo nível" e de não ter "moral" para
fazer as acusações que estava a fazer. A indignação do líder do PSD
provocou um pequeno compasso de espera no decorrer do debate, levando a
interveniente seguinte, Heloísa Apolónia, a esperar alguns momentos
antes de usar a palavra.
O que provocou
esta anormal irritação do líder do PSD foram afirmações de Costa sobre o
caso. O primeiro-ministro considerou, por exemplo, ser "absolutamente
escandaloso" que um Governo [PSD/CDS] "que não acabou com a penhora da
casa de família tenha tido a incapacidade de vericar o que se passou com
dez mil milhões". Também acusou a anterior maioria de ter tido a "maior
tranquilidade" para a fuga de capitais sem vigilância fiscal, ao mesmo
tempo que se revelava "implacável" com o imposto automóvel ou com as
multas das portagens.
No princípio do
debate, Passos havia dito que desconhecia o caso - mas prometeu a
disponibilidade do seu partido para perceber tudo o que se passou, "até
às últimas consequências". Na mira da esquerda está, em primeira linha,
Paulo Núncio, o secretário dos Assuntos Fiscais do governo PSD/CDS, mas
também os ministros das Finanças desse governo (Vítor Gaspar e, depois,
Maria Luís Albuquerque).
Antes disto,
já Assunção Cristas tinha acusado o Governo de, com isto, "plantar
notícias" para "fazer uns números" no debate parlamentar de hoje à
tarde. A líder do CDS aproveitou para anunciar que tinha pedido uma
audiência ao Presidente da República para se queixar da esquerda, "que
oprime dos direitos" da minoria PSD/CDS, nomeadamente no caso CGD. A
audiência será sexta-feira.
O anúncio
de Cristas levou Ferro Rodrigues a dizer, por sua vez, que a porta do
seu gabinete "está sempre aberta" para os deputados se queixarem. Ferro
recordou ainda a Constituição e a separação de poderes, como quem diz: o
Parlamento não responde perante o Presidente da República.
O
debate começou com Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, a fazer, a
propósito deste caso, um apelo ao primeiro-ministro: "Queria o seu
compromisso de que não se vai resolver tudo com uma amnistia fiscal."
Costa,
na resposta, não disse nem que sim nem que não, ignorando o apelo, e
relatando apenas a versão governamental do caso: "Verificou-se a
existência de vinte declarações [reportanto transferências de capital]
apresentadas sem tratamento pela AT", num valor que "ascende a dez mil
milhões de euros".
Catarina Martins
questionou também Costa sobre a privatização do Novo Banco. E Costa
garantiu: "O Estado em caso algum perderá 3900 milhões ou qualquer
parcela. São um empréstimo ao Fundo de Resolucao e será suportado por
sistema financeiro." Disse ainda as três condições para um negócio de
venda do Novo Banco à Lone Star:"continuidade duradoura" do banco; "que
não haja garantias do Estado" ao comprador; e que a solução final seja a
que tenha o "menor impacto" no resto do sistema bancário.
* Passos o militante do desconhecimento.
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