21/12/2016

PAULA SANTOS

.







Prevenir a rutura nas urgências

Ao aproximar-se o inverno chega o frio e a procura dos serviços públicos de saúde aumenta. Não há aqui nada de novo, nem nada que ninguém não saiba de antemão, portanto pode-se desde já tomar as medidas para assegurar que os serviços públicos de saúde dispõem dos meios e das condições para responder às necessidades de prestação de cuidados de saúde à população.

É agora o momento de se tomarem as medidas para assegurar as condições adequadas de funcionamento dos serviços de saúde, para evitar situações de rutura, como as que temos assistido nos últimos anos, em resultado do consecutivo desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde da responsabilidade dos vários governos.

Frequentemente os tempos de espera nos serviços de urgência ultrapassam os tempos recomendados. Sabemos que há inúmeras razões que persistem e que conduzem a estas situações.

A enorme carência de profissionais de saúde também se reflete nos serviços de urgência. Dada a falta de profissionais, muitos serviços de urgência asseguram o seu funcionamento recorrendo abusivamente aos médicos internos (os médicos internos prestam trabalho muito para além das 12 horas, que são o número máximo de horas que devem estar num serviço de urgência por semana) e à contratação de empresas de trabalho temporário. Têm vindo a público as dificuldades em assegurar as escalas das urgências nas próximas semanas.

A elevada afluência às urgências resulta também da insuficiente resposta ao nível dos cuidados de saúde primários. Para além de um elevado número de utentes não ter médico de família, o que dificulta a acessibilidade aos cuidados de saúde, PSD e CDS quando estiveram no governo agravaram essa acessibilidade ao reduzirem o horário de funcionamento de unidades de saúde que funcionavam no período noturno e ao fim-de-semana. A verdade é que em determinados períodos, o único serviço público de saúde aberto são as urgências, o que naturalmente conduz a uma maior afluência dos utentes em caso de doença aguda.

Há uma grande discussão sobre o facto de cerca de 50% dos utentes se dirigirem às urgências não corresponderem a situações de urgência (as designadas fitas verdes e azuis, isto é, situações pouco urgentes e não urgentes). Não acredito que as pessoas se desloquem às urgências levianamente, sabendo que terão de enfrentar 5, 8, 10 ou mais horas de espera até serem atendidos. Se as pessoas se deslocam é porque não têm mais nenhuma alternativa.

Constata-se ainda mais uma característica que importa referir. Nas urgências surgem muitas situações de utentes descompensados, motivado por carências económicas e sociais, mas também devido às múltiplas patologias que muitos possuem com o facto de vivermos mais anos, que exigem a prestação de mais cuidados de saúde.

Para assegurar as condições de funcionamento dos serviços de urgências e a prestação de cuidados de saúde à população é fundamental reforçar os profissionais de saúde, nos centros de saúde e nos hospitais e alargar o horário de funcionamento dos centros de saúde no período noturno e nos fins-de-semana.

IN "EXPRESSO"
21/12/16


.

Sem comentários: