Prevenir a rutura nas urgências
Ao aproximar-se o inverno chega o frio e
a procura dos serviços públicos de saúde aumenta. Não há aqui nada de
novo, nem nada que ninguém não saiba de antemão, portanto pode-se desde
já tomar as medidas para assegurar que os serviços públicos de saúde
dispõem dos meios e das condições para responder às necessidades de
prestação de cuidados de saúde à população.
É agora o momento de
se tomarem as medidas para assegurar as condições adequadas de
funcionamento dos serviços de saúde, para evitar situações de rutura,
como as que temos assistido nos últimos anos, em resultado do
consecutivo desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde da
responsabilidade dos vários governos.
Frequentemente os tempos
de espera nos serviços de urgência ultrapassam os tempos recomendados.
Sabemos que há inúmeras razões que persistem e que conduzem a estas
situações.
A enorme carência de profissionais de saúde também se
reflete nos serviços de urgência. Dada a falta de profissionais, muitos
serviços de urgência asseguram o seu funcionamento recorrendo
abusivamente aos médicos internos (os médicos internos prestam trabalho
muito para além das 12 horas, que são o número máximo de horas que devem
estar num serviço de urgência por semana) e à contratação de empresas
de trabalho temporário. Têm vindo a público as dificuldades em assegurar
as escalas das urgências nas próximas semanas.
A elevada
afluência às urgências resulta também da insuficiente resposta ao nível
dos cuidados de saúde primários. Para além de um elevado número de
utentes não ter médico de família, o que dificulta a acessibilidade aos
cuidados de saúde, PSD e CDS quando estiveram no governo agravaram essa
acessibilidade ao reduzirem o horário de funcionamento de unidades de
saúde que funcionavam no período noturno e ao fim-de-semana. A verdade é
que em determinados períodos, o único serviço público de saúde aberto
são as urgências, o que naturalmente conduz a uma maior afluência dos
utentes em caso de doença aguda.
Há uma grande discussão sobre o
facto de cerca de 50% dos utentes se dirigirem às urgências não
corresponderem a situações de urgência (as designadas fitas verdes e
azuis, isto é, situações pouco urgentes e não urgentes). Não acredito
que as pessoas se desloquem às urgências levianamente, sabendo que terão
de enfrentar 5, 8, 10 ou mais horas de espera até serem atendidos. Se
as pessoas se deslocam é porque não têm mais nenhuma alternativa.
Constata-se
ainda mais uma característica que importa referir. Nas urgências surgem
muitas situações de utentes descompensados, motivado por carências
económicas e sociais, mas também devido às múltiplas patologias que
muitos possuem com o facto de vivermos mais anos, que exigem a prestação
de mais cuidados de saúde.
Para assegurar as condições de
funcionamento dos serviços de urgências e a prestação de cuidados de
saúde à população é fundamental reforçar os profissionais de saúde, nos
centros de saúde e nos hospitais e alargar o horário de funcionamento
dos centros de saúde no período noturno e nos fins-de-semana.
IN "EXPRESSO"
21/12/16
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