HOJE NO
"DINHEIRO VIVO"
Este português colocou a palavra
unfriend na boca do mundo
Nuno Ferreira é diretor criativo da 72andsunny de Los Angeles. Cria campanhas para o Google e já desenvolveu projetos com J. J. Abrams
Trabalhou com a Industrial Light and Magic
de George Lucas numa série de projetos da Google para o lançamento de
Star Wars: O Despertar da Força, colaborou com J. J. Abrams (o mesmo de
Lost) para dar nome e promover uma webserie documental da Google com a
Bad Robot Productions sobre sonhadores que querem ir à Lua. Já ganhou
dois Titanium, o mais cobiçado prémio do festival internacional de
publicidade Cannes Lions.
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Acaba de colocar na rua a Year in Search, do Google, o anúncio em que o motor de busca resume o ano que está a findar: mais de 5,7 milhões já viram o seu incentivo a que no mundo se continue a pesquisar por amor. E a Year in Search acaba de ser considerado um dos dez anúncios do ano pela Forbes. Nada mal, para um autodenominado nerd que, aos 13 anos, partiu de Caranguejeira rumo ao Canadá. Hoje, Nuno Ferreira, 39 anos, é diretor criativo da 72andSunny em Los Angeles. Trabalha a conta do Google.
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Acaba de colocar na rua a Year in Search, do Google, o anúncio em que o motor de busca resume o ano que está a findar: mais de 5,7 milhões já viram o seu incentivo a que no mundo se continue a pesquisar por amor. E a Year in Search acaba de ser considerado um dos dez anúncios do ano pela Forbes. Nada mal, para um autodenominado nerd que, aos 13 anos, partiu de Caranguejeira rumo ao Canadá. Hoje, Nuno Ferreira, 39 anos, é diretor criativo da 72andSunny em Los Angeles. Trabalha a conta do Google.
Chegou há cerca de dois anos à Califórnia,
vindo da Leo Burnett de Chicago. Dirigia a área digital da agência,
tinha sob a sua responsabilidade uma “equipa enorme e talentosa”. Mas
algo falou mais alto: o clima, que lhe faz lembrar Portugal. “Agora
acordo em Los Angeles à beira-mar e sinto que estou em Portugal. O clima
é idêntico. A saudade e a nostalgia é uma força bem poderosa”, diz Nuno
Ferreira.
A sua história é a mesma de muitos outros
emigrantes: esforço, suor e lágrimas. Chegou à América via Canadá.
“Sempre sonhei com a América, mas o caminho até aqui teve muitas curvas e
cruzamentos. Nasci numa aldeia perto de Fátima e os meus pais, sentindo
que não havia muitas oportunidades, emigraram para o Canadá.” Aí
continuou os estudos. “E com aquele espírito de emigrante estudei mais,
trabalhei mais e dormi menos do que os outros. Dessa força de vontade e
espírito emigrante vem todo o meu sucesso. Talento não tem nada que
ver.”
Mas talento parece não faltar. E compreensão sobre a mudança de
comportamentos que está a ser gerada pelo digital e pelas redes sociais.
Compreender esses comportamentos para depois os subverter em nome das
marcas é uma das suas “coisas favoritas”. E em 2009 lançou um desafio
que acaba por ser quase uma experiência social: que amigos estarias
disposto a “desamigar” (unfriend) no Facebook para ganhares um
hambúrguer? A campanha, Whopper Sacrifice, para o Burger King, gerou
muita discussão e garantiu a Nuno Ferreira o primeiro Titanium no Cannes
Lions (o segundo foi em 2014, com Allstate Social Savvy Burglar). A
Whopper Sacrifice foi criada ainda estava na Crispin Porter &
Bogusky: “Foi nomeada uma das ideias da década e o dicionário Webster
considera-a uma das origens da palavra unfriend (desamigar)”, diz Nuno
Ferreira.
Curiosamente, foi para uma marca
concorrente, a McDonald’s, que o criativo diz ter tido “uma das
experiências mais fantásticas” da carreira: “trabalhar num anúncio que
tentou o impossível – que as pessoas amassem uma das marcas mais odiadas
na América.” Criado em 2015, quando estava na Leo Burnett Chicago,
Signs é de uma enorme simplicidade: um minuto ao som de Carry On, com
mensagens de apoio que surgiam nos restaurantes da cadeia por baixo dos
arcos dourados, apoiando causas locais ou nacionais. Mensagens como
“Parabéns Woody” ou de patriotismo depois dos ataques de 11 de Setembro
em 2001.
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“O que era uma ideia simples – mostrar os
sinais de esperança e amor nos restaurantes da McDonald’s por todo o
país – foi tão falada, tão discutida, tão debatida que a determinada
altura pensei que tinha exagerado”, confidencia Nuno Ferreira. “Um
programa de rádio fez um fórum de uma hora para discutir o anúncio. Um
anúncio!”, recorda. Desta campanha guarda uma lição. “Não trabalhamos
para o negócio da publicidade. Trabalhamos no negócio da cultura.”
É talvez nessa categoria que se pode encaixar a webserie documental
Moonshot. Desenvolvido para o Google e para a produtora Bad Robot, tendo
J. J. Abrams como produtor executivo, a webserie de nove episódios
conta a história de indivíduos que concorrem ao Google Lunar XPRIZE. O
prémio de 30 milhões de dólares visa incentivar empreendedores e a nova
geração de cientistas a encontrar formas financeiramente acessíveis de
chegar à Lua. Para Moonshot, criou o nome, o branding e todo o
marketing. Do contacto com J. J. Abrams ficou a memória. “É um original.
Gostou muito dos posters que fizemos.”
Ainda para o Google fez várias campanhas
para a promoção de Star Wars: O Despertar da Força, dando-lhe a
oportunidade de trabalhar com a Industrial Light and Magic. Ou o Year in
Search, o anúncio resumo do ano do motor de busca onde a Seleção
portuguesa não entrou por uma unha negra: a UEFA não autorizou o uso de
imagens da seleção vencedora do Euro 2016 em publicidade.
Oportunidades trazidas pela publicidade,
setor que, acha, “já não atrai os melhores talentos: A compensação
financeira é maior em empresas como Facebook, Google ou Apple. E isto
vai forçar as agências a mudar a forma como trata os seus recursos
humanos”, diz.
O que também considera que mudou é o perfil da publicidade feita em
Portugal ou por portugueses. “O fator João Coutinho [criador de Guns
with History] e Hugo Veiga [Retratos de Beleza Real] mudou tudo. O
perfil tem mudado imenso e espero que continue, seja o trabalho feito em
Portugal ou fora. Quando era criança, em Portugal, notava um complexo
de inferioridade relativo ao estrangeiro. Esse complexo é injustificado.
Somos exploradores, inquietos e somos insaciáveis. Na música. No
futebol. No criativo.”
* Um valente português!
* Um valente português!
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