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IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
03/09/16
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Anão? Ah, não!
As
eleições nos EUA foram quase sempre ganhas pelo candidato mais alto,
Obama incluído: ganhou em 2008 com dez centímetros de vantagem sobre
McCain. Se isto parece estranho fique o leitor a saber que há artigos
científicos que o sustentam e confirmam.
Estava eu a ler sobre as eleições americanas,
acontecimento que atinge cinco continentes – admitindo que os pinguins
não se ralam com a coisa, o que reconheço que é questionável –, quando
me dei conta que há um factor a favor de Trump que eu desconhecia: é
mais alto que a senhora Clinton. Com efeito, as eleições nos EUA foram
quase sempre ganhas pelo candidato mais alto, Obama incluído: ganhou em
2008 com dez centímetros de vantagem sobre McCain. Em 2012 era dois
centímetros mais baixo que Romney, mas aí era o candidato incumbente e a
diferença não foi suficiente.
Se isto parece estranho fique o leitor a saber que há artigos
científicos que o sustentam e confirmam: 58% dos presidentes tinha uma
altura superior a 1,80 metros, o que só acontece em 14% da população.
Gregg Murray, da Universidade do Texas, leva-nos até à pré-história no
seu Caveman Executive Leadership: Evolved Leadership Preferences and Biological Sex
para explicar que a horda queria que os inimigos vissem um líder grande
à frente das forças e que o processo evolucionário explica o resto.
Portanto, os americanos gostam que os grandes homens sejam homens
grandes.
Dos presidentes recentes, só George W. Bush falhou a regra, perdendo
por três centímetros para Gore e 11 para Kerry, e veja-se no que deu.
Aliás, o mais alto de todos os presidentes foi Lincoln, com 1,92 metros,
reconhecidamente um homem de grande estatura em todos os sentidos da
palavra. Lincoln foi o único presidente com uma licença oficial de
‘bartender’ – e estar atrás do balcão requer tamanho. Ainda novo montou
em New Salem uma loja de comida e bebidas espirituosas com um amigo,
William Berry, que entretanto se tornou alcoólico. Ter um sócio que dá
cabo do stock é mau para o negócio e Lincoln, felizmente, mudou de
actividade e o resto é história.
A preferência por candidatos altos não é só americana. Ainda este ano
Brian Pallister ganhou as eleições gerais em Manitoba, no Canadá, dos
mais de dois metros de altura que tem. Aliás, o primeiro-ministro
canadiano Justin Trudeau deverá ser, com 1,87 metros, o líder mais alto
do G7. Mas o fenómeno está estudado e provado para outros países, em
especial na Europa.
Cameron é da altura de Obama, e os políticos baixinhos são
penalizados – é o que sustenta Bercow, ‘speaker’ da Câmara dos Comuns.
Bercow, que é muito referido em Westminster devido à sua baixa estatura e
porque figura em todas as ‘shortlists’, tornou-se ainda mais notado por
ter dito um dia que lhe parece injusto que num país que se critica quem
discrimina em função da raça, sexo, credo, orientação sexual ou
deficiência física, se tolere quem troça dos mais baixos, o que não é,
convenhamos, falar de coisas semelhantes.
Em França, Hollande ganhou a Sarkozy primeiro por cinco centímetros e
depois com mais de 51% dos votos, se bem que permaneça um mistério como
Sarkozy lá chegou, com 1,65 metros, no país em que De Gaulle se elevava
a 1,96 metros. Resta saber se Hollande vai durar quando abaixo de si só
tem Merkel, a única que não ultrapassava Sarkozy, diz-se que apenas
graças aos sapatos deste último, estudados para lhe dar mais altura…
Aceite esta teoria, fica explicado em Portugal porque Marques Mendes
não teve sucesso como líder partidário. E bem fez António Vitorino por
nunca se ter deixado levar a eleições. Assim se compreende também que
Maria de Belém estava condenada à partida. Mas note-se que Marcelo
Rebelo de Sousa é um caso especial: tem exactamente a altura de um pé de
microfone e de um tripé de câmara de televisão.
* Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é
sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, activista e lutador
político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo
sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de
“escutar às portas”. Abandona a política em 1999, deixando Praga para
residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque “gostaria de
viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos
livros.”
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
03/09/16
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