As sombras da verdade
e da fraude
Por entre as inúmeras alegorias sobre as sombras importa que não confundamos a verdade com a realidade. A verdade constitui-se num caminho para o processo de decifrar a realidade, todavia tal não significa que a alegada verdade se subsuma à realidade
A
fraude enquanto facto constitui-se num efeito desencadeado pela ação
volitiva do comportamento humano no quadro de determinada interação
social. Constitui-se assim no plano epidemiológico num sintoma sobre o
estado de anormalidade, e no âmbito do controlo social num método
através do qual se corrompe um imperativo normativo e regulatório.
Impõe-se
pois que, conhecidos os efeitos, se identifiquem as causas, se estudem e
se planifique uma estratégia operativa de modo a que as condições de
risco sofram alguma alteração no sentido do seu controlo a níveis
considerados estatisticamente admissíveis como normais relativamente ao
que se considera o equilíbrio da estrutura social.
No plano macro
remete-nos, através da dimensão intrapessoal, para o processo de
construção do indivíduo e como tal para o processo de socialização, para
a incorporação de disposições, para um quadro axiológico de referência,
e para as condições de existência e de realização do sujeito enquanto
indivíduo; e através da dimensão extrapessoal, para os sistemas
regulatórios de organizações e atividades, mediante processos de efetiva
monitorização, auditoria e inspeção, regulares. Por entre a moral, a
ética, o controlo e a regulação social.
Importa uma vez mais por
entre as inúmeras alegorias sobre as sombras, inspiradas no pensamento
de Platão, que não confundamos a verdade com a realidade. A verdade
constitui-se num caminho para o processo de decifrar a realidade, pelo
que a alegada verdade não se subsume à realidade. A verdade sobre a
existência das sombras não se pode confundir com a realidade, e a
materialidade dos objetos, pois as sombras não passam de uma
manifestação da existência da efetiva realidade, essa sim, bem real.
Assim é em inúmeras dimensões da vida humana, e do raciocínio em
particular.
Confundir sombras com objetos é claramente fundir a
alegada verdade construída pelo raciocínio com a efetiva realidade; o
que queremos dizer é que no âmbito do estudo e da intervenção sobre a
fraude não basta a procura de uma alegada sombra construída, que
julgamos ser a verdade do objeto do qual decorre, com base na razão e na
lógica, mas sim a efetiva descodificação da realidade.
Sustermos o
conhecimento ao nível da dimensão das sombras é condenarmos a verdade a
um exercício inevitável de falsificabilidade. E a catástrofe de tudo,
serão as inevitáveis e irreparáveis consequências que tal convicção de
verdade poderá produzir sobre as organizações, as atividades, e a
materialidade da existência das pessoas.
IN "VISÃO"
07/07/16
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