Debaixo da terra
Há décadas que os criminosos descobriram como vasculhar o lixo de uma
pessoa ou empresa pode ser esclarecedor e rentável - ainda há meia dúzia
de meses foi desmantelado um gangue no Brasil que procurava as suas
vítimas através dos extratos descartados nos contentores de agências
bancárias.
A polícia e até alguns jornais também já recorreram a estes
métodos para descobrir segredos que se imaginava que ficariam para
sempre escondidos depois de passarem pelos dentes das trituradoras das
lixeiras. Cientistas europeus e norte-americanos elevaram o jogo a um
outro nível: começaram a usar os esgotos para revelar os hábitos de vida
e as doenças das sociedades.
Nos últimos anos, o Observatório Europeu
da Droga e da Toxicodependência tem testado as águas residuais de meia
centena de cidades e a partir destes números é possível perceber, por
exemplo, que os lisboetas estão a consumir mais drogas (cocaína e
ecstasy são as preferidas) e que o fazem sobretudo quando saem à noite.
Os valores de ecstasy detetados em Lisboa ficam muito à frente dos de
Milão, Paris ou Atenas - mas ainda assim muito longe dos alarmantes
resultados de Londres, onde se consome quase duas vezes mais drogas do
que em qualquer cidade holandesa.
Os números fazem o retrato da
sociedade, mas nos Estados Unidos já se trabalha noutro campeonato: das
amostras dos esgotos de uma cidade em que é detetada a presença de
drogas já é possível separar contributos, extrair ADN e, incrivelmente,
ir bater à porta de quem consumiu substâncias ilícitas.
Mas essa não é
verdadeiramente a batalha dos dez robôs que o MIT pôs a patrulhar os
esgotos de Boston e de Cambridge. É antes detetar micróbios, vírus e
bactérias capazes de causar surtos infecciosos nas cidades, estudá-los e
travá-los antes de poderem provocar epidemias. Um trabalho que pode
realmente salvar vidas.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
12/07/16
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