14/07/2016

JOANA PETIZ

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Debaixo da terra

Há décadas que os criminosos descobriram como vasculhar o lixo de uma pessoa ou empresa pode ser esclarecedor e rentável - ainda há meia dúzia de meses foi desmantelado um gangue no Brasil que procurava as suas vítimas através dos extratos descartados nos contentores de agências bancárias.

A polícia e até alguns jornais também já recorreram a estes métodos para descobrir segredos que se imaginava que ficariam para sempre escondidos depois de passarem pelos dentes das trituradoras das lixeiras. Cientistas europeus e norte-americanos elevaram o jogo a um outro nível: começaram a usar os esgotos para revelar os hábitos de vida e as doenças das sociedades.

Nos últimos anos, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência tem testado as águas residuais de meia centena de cidades e a partir destes números é possível perceber, por exemplo, que os lisboetas estão a consumir mais drogas (cocaína e ecstasy são as preferidas) e que o fazem sobretudo quando saem à noite. Os valores de ecstasy detetados em Lisboa ficam muito à frente dos de Milão, Paris ou Atenas - mas ainda assim muito longe dos alarmantes resultados de Londres, onde se consome quase duas vezes mais drogas do que em qualquer cidade holandesa.

Os números fazem o retrato da sociedade, mas nos Estados Unidos já se trabalha noutro campeonato: das amostras dos esgotos de uma cidade em que é detetada a presença de drogas já é possível separar contributos, extrair ADN e, incrivelmente, ir bater à porta de quem consumiu substâncias ilícitas.

Mas essa não é verdadeiramente a batalha dos dez robôs que o MIT pôs a patrulhar os esgotos de Boston e de Cambridge. É antes detetar micróbios, vírus e bactérias capazes de causar surtos infecciosos nas cidades, estudá-los e travá-los antes de poderem provocar epidemias. Um trabalho que pode realmente salvar vidas.


IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
12/07/16


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