HOJE NO
"i"
Caso Banif
Bruxelas arrasa atuação
de governo de Passos Coelho
Maria Luís Albuquerque e Vítor Gaspar não ficam bem na fotografia nas respostas da Comissão Europeia aos deputados portugueses
A Comissão
Europeia arrasa a forma como Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque
conduziram o processo do Banif. Na introdução às perguntas da comissão
parlamentar de inquérito, a comissária Margrethe Vestager ataca os
vários esboços de planos de reestruturação enviados pelo governo de
Passos Coelho e critica a lentidão das decisões sobre o banco.
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“Desde a aprovação temporária das ajudas do Estado, em janeiro de
2013, que a Comissão pediu repetidamente a Portugal para tomar medidas
no caso Banif”, sublinha a comissária numa carta que chegou ontem aos
deputados da comissão de inquérito e a que o i teve acesso.
No documento em que responde às questões dos deputados portugueses,
Vestager faz questão de deixar claro o desagrado da Comissão Europeia em
relação à forma como o governo de Passos lidou com o Banif. De resto, a
comissária frisa que tinha já demonstrado este descontentamento a Maria
Luís Albuquerque à medida que o governo português foi enviando para
Bruxelas sucessivos planos de reestruturação para o banco aos quais a
Comissão se refere como “diferentes variações” de um documento com
muitas falhas.
Irrealistas e sem estratégia
“A
Comissão foi muito clara, a cada momento, a apontar que nenhuma das
diferentes variações do esboço de planos de reestruturação submetidos
pelas autoridades portuguesas teria permitido ao Banif voltar a ser
viável”, afirma Margrethe Vestager, que não poupa na qualificação do que
lhe foi sendo apresentado ao longo de três anos de contactos regulares,
primeiro com Vítor Gaspar e depois com Maria Luís Albuquerque.
“As diferentes versões do plano fornecidas caracterizavam-se todas,
entre outras coisas, por conterem dados de muito fraca qualidade, por
terem projeções de rentabilidade irrealistas e insustentáveis, por uma
falta de estratégia de gestão coerente e respetiva definição de
atividades core do banco e por não conterem um cenário de stresse e
avaliação dos seus impactos”, critica a comissária, lembrando que os
aspetos que menciona são “cruciais” e sem eles seria impossível voltar a
fazer com que o Banif fosse um banco viável.
De resto, recorda Vestager, era tanto mais importante ter um plano de
reestruturação coerente quanto se sabia que o Banif continuava a ter
dificuldades em devolver ao Estado as ajudas que tinha recebido.
A responsável da Comissão Europeia enfatiza o facto de, durante mais
de três anos, Bruxelas ter alertado o governo português para estes
problemas sem nunca ter encontrado soluções satisfatórias para as falhas
detetadas. “Desde que as conversas sobre o Banif se iniciaram, em 2012,
depois de o banco ter recebido garantias de fundos, em 2011, que a
Comissão se manteve em diálogo constante com as autoridades portuguesas a
todos os níveis”, aponta a comissária europeia.
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Segundo Vestager, a Comissão nunca parou de apresentar soluções e
sugestões e foi mesmo ao ponto de construir um esqueleto de
reestruturação para o banco, para ajudar o governo de Passos a encontrar
uma saída para uma situação que se ia degradando com o passar do tempo.
Apesar disso, afirma a comissária, o dossiê foi-se arrastando até à mudança de executivo.
Para ilustrar a demora na tomada de decisões, a Comissão Europeia
recorda o BCP e o BPI, sublinhando que, “nesses casos, as decisões foram
tomadas em não mais de 18 meses desde o início das conversações”.
CDS defende Maria LuÍs
A versão agora contada por Bruxelas vem ao encontro da tese de Mário
Centeno, que ontem voltou à comissão de inquérito com acusações de
“inação” contra a sua antecessora. Centeno considera que tentar atrasar a
resolução do banco para 2016 “seria um exercício de ilusão, considerado
apenas por aqueles que não tivessem consciência da sua gravidade e que
fossem incapazes de medir as suas consequências”. E frisou que na altura
em que recebeu de Maria Luís a pasta das Finanças lhe foi dito, numa
reunião no ministério, que a decisão de vender ou liquidar o banco teria
de ser tomada até ao dia 1 de dezembro. “Tínhamos, portanto, quatro
dias para decidir, e a medida seria aplicada até ao fim de semana de 18
de dezembro”, assegurou o ministro, que foi confrontado pelo CDS com o
facto de, passados seis meses, ainda não ter nomeado uma entidade para
monitorizar a Oitante - a sociedade que gere o banco mau do Banif.
Depois de Centeno justificar a demora em seis meses - criticada pela
Comissão - com “contactos” em curso com Bruxelas, sem mais explicações,
João Almeida usou a ironia para defender a anterior ministra. “Tenho de
lhe fazer um elogio. O senhor ministro parecia a dra. Maria Luís
Albuquerque a responder”, lançou, lembrando que esses mesmos contactos
justificam a demora nas decisões da antecessora de Centeno.
* Um "rasgado elogio" da Comissão aos malabarismos dos ex-minitros.
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